Prefeitura de São Paulo inicia construção megaponto de apoio a motoboys perto da Avenida Paulista

Espaço, que deve ser inaugurado até dezembro, deverá ter banheiro, bebedouro e wi-fi, além de área com TV e refeitório com micro-ondas


Ítalo Lo Re - Estadão

A Prefeitura de São Paulo inicia, nesta semana, a construção do primeiro ponto de apoio municipal da cidade voltado a motoboys e entregadores, incluindo aqueles que usam bicicleta para trabalhar. A previsão é de que o espaço, que deve ser inaugurado até dezembro, tenha banheiro, bebedouro e wi-fi, além de área com TV e refeitório com microondas.

  • A estrutura será instalada entre as avenidas Paulista e Doutor Arnaldo, em local visto como estratégico por ligar bairros como Pinheiros, Higienópolis e Pacaembu;
  • A entrada principal será pela rua Doutor Antonino dos Santos Rocha, uma espécie de alça de retorno perto de vias como a Avenida Rebouças e a Rua da Consolação.

A ideia do chamado “Espaço Motoboy” surgiu após demanda de entidades ligadas aos próprios entregadores, que se basearam em projetos de outras cidades paulistas, como Sorocaba e Barueri. O valor de implantação do ponto é de R$ 3,5 milhões. A cada ano, devem ser investidos ainda mais R$ 3 milhões para manutenção da área.

Projeto-piloto

O ponto de apoio perto da Avenida Paulista deve funcionar como uma espécie de projeto-piloto. Se der certo, a Prefeitura quer investir em outras estruturas do tipo em mais regiões. Segundo a gestão municipal, a definição do primeiro endereço se deu em conjunto com representantes da categoria.

“É um local que tem, no seu raio de cinco quilômetros, uma grande densidade de restaurantes, com aproximadamente 6,4 mil estabelecimentos”, diz ao Estadão Fabrício Cobra, secretário de Subprefeituras.

Entrecortada por um viaduto, a área onde vai ser instalado o primeiro ponto de apoio é marcada, ao mesmo tempo, pela concentração de famílias em situação de rua e pela presença de usuários de drogas em cenas abertas de uso.

Como vem acompanhando o Estadão, foi algo que se intensificou por ali nos últimos meses, após a dispersão, em maio deste ano, da Cracolândia, que até então ficava concentrada na Rua dos Protestantes, na região da Luz, centro da cidade.

De acordo com a Prefeitura, a construção do ponto de apoio na região se dá em paralelo a um trabalho contínuo de acolhimento e encaminhamento feito pela gestão municipal em toda a cidade, o que envolve equipes de Assistência Social e da área da Saúde.

“Ali historicamente não tem uma coisa consolidada, o que se tem, na cidade como um todo, são alguns movimentos, e em todos eles há um trabalho de intensificação na abordagem”, afirma Cobra. “Toda relação com essa temática se dá por uma abordagem técnica.”

62 vagas para motociclistas

No começo do ano, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) já havia sinalizado que a Prefeitura estava estudando um projeto nessa linha, com possibilidade de instalação de um ponto de apoio até na região do Brooklin, na zona sul da cidade. Ainda não há previsão, porém, de início das obras de um segundo ponto de apoio para motoboys.

O foco do projeto são os entregadores que moram em endereços distantes das áreas em que normalmente atuam. “Não faz muito sentido ele voltar durante o período de trabalho, então ele fica muitas vezes esperando numa praça ou algum ponto”, diz Cobra.

“Agora, ele vai ter um espaço para que possa ter ali um suporte de descanso, para fazer a alimentação, usar o banheiro ou carregar o celular”, acrescenta.

Estão previstas 62 vagas para motociclistas, além de cerca de 28 para bicicletas. A ideia é manter em pé as árvores hoje plantadas no terreno, que era uma espécie de canteiro entre pistas. “Terá também a elaboração de um bosque urbano junto com espaço”, diz Cobra.

Segundo o secretário, a entrada do espaço será livre neste primeiro momento. Ao mesmo tempo, a Prefeitura prevê instalar no local câmeras do Smart Sampa, programa de monitoramento da gestão municipal.

400 mil usam motos para trabalhar em SP

a etapa, o espaço vai receber três contêineres, que serão usados de base para a instalação. Serão cerca de 180 metros quadrados de área construída, em um terreno que conta com mais de mil metros quadrados.

O projeto é encabeçado pela Secretaria de Subprefeituras e pela Agência São Paulo de Desenvolvimento (ADE Sampa), que também fará a gestão do espaço.

Segundo a Prefeitura, não há previsão de impacto no trânsito da região. “É uma rua (Doutor Antonino dos Santos Rocha) que não tem tanto movimento, então a gente acredita que não vai ter tanto impacto no trânsito", diz o secretário.

Atualmente, mais de 400 mil pessoas utilizam motos para trabalhar em São Paulo, segundo o Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxista Intermunicipal do Estado de São Paulo (SindimotoSP).

De acordo com o InfoSiga, sistema do Estado que mede a letalidade no trânsito, 50 motociclistas morreram na capital paulista em setembro de 2025, alta de 31,6% ante os 38 casos registrados no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, já foram 361 vítimas, aumento de 2,8% ante 2024.

Entre as medidas implementadas pela gestão municipal para tentar diminuir as mortes, estão as faixas azuis, sinalização de segurança para motociclistas que começou a ser implementada em 2022. Hoje, já são mais de 232 quilômetros do corredor para motociclistas implementado na capital.

Prefeitura constrói ponto de apoio a motoboys, que deverá ter banheiro, bebedouro e wi-fi Foto: Daniel Teixeira/Estadao

Modelo já foi adotado em outras cidades

Medidas semelhantes ao ponto de apoio que está sendo construído em São Paulo já são adotadas em cidades como Sorocaba e Barueri, na região metropolitana. Nesta última, eles possuem copa equipada, banheiros, wi-fi e tomadas. Há também espaços para venda de cartão de estacionamento (zona azul).

Na capital paulista, a Prefeitura cogitava a construção de pontos até mesmo embaixo de viadutos, segundo fontes que participaram das reuniões iniciais.

“Quando você anda pelos quatro cantos da cidade, você vê que a categoria (de motociclistas) não tem lugar para ficar”, diz Gilberto Almeida dos Santos, diretor-presidente do SindimotoSP.

Segundo ele, a ideia ganhou força por conta justamente de limitações enfrentadas no dia a dia na capital paulista. “Que a gente possa multiplicar esses pontos de apoio pela cidade toda, a categoria precisa ter um espaço para usar o banheiro e atender outras necessidades. Na hora do almoço, muitos comem em pé”, acrescenta.

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