Sensatez eleitoral

Em boa hora, 11 partidos se unem contra o projeto perigoso do voto impresso



Folha de S.Paulo

A estapafúrdia tese do retorno do voto impresso deixou as cavernas do bolsonarismo para adentrar os salões do Congresso Nacional. Por obra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a Casa criou, em maio, uma comissão destinada a analisar proposta de emenda à Constituição sobre o tema.

A PEC 135/19, apresentada pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), embora não extinga as urnas eletrônicas, exige que a cédula seja impressa após a votação, para que possa ser “auditada de forma independente”.

Com a temerária chancela institucional à aventura, Lira não só conferiu legitimidade a uma proposta de tintas francamente golpistas como criou oportunidade para ataques à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.

Daí a importância da união de 11 partidos para evitar que esse ovo da serpente venha a ser chocado.

Em videoconferência no sábado (26), os presidentes de PSDB, MDB, PP, DEM, Solidariedade, PL, PSL, Cidadania, Republicanos, PSD e Avante —siglas tanto da oposição como da base de apoio ao governo— rechaçaram a necessidade do sufrágio impresso e reafirmaram a confiança na votação eletrônica.

A articulação recebeu o apoio do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que presidirá o Tribunal Superior Eleitoral no pleito de 2022. Caso seja aprovado, o projeto inevitavelmente chegará ao STF, abrindo mais um flanco do embate de Jair Bolsonaro com a corte.

Somadas, as agremiações representam 326 deputados federais e 55 senadores. Por mais que os dirigentes partidários não consigam garantir o apoio integral dentro de suas siglas, a mobilização parece suficiente para impedir que a PEC obtenha o necessário apoio de 60% da Câmara e do Senado.

O líder do Solidariedade, Paulinho da Força, chegou a dizer que o movimento “mata o assunto na Câmara”. Que assim seja. Tudo de que o país não precisa neste momento é desperdiçar tempo e energia discutindo mudanças num sistema que há 25 anos funciona bem.

As urnas eletrônicas, cabe lembrar, já passam por verificações periódicas. O que merece de imediato o rigor das instituições, isso sim, são as acusações levianas de fraude lançadas ao vento de tempos em tempos por Jair Bolsonaro.

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