Ruth Cardoso trouxe a sociedade civil para o debate das políticas sociais, diz Paes de Barros


Em seminário virtual em homenagem à antropóloga, economista diz que um dos legados da ex-primeira-dama foi abrir diálogo sobre o tema



Rodrigo Sampaio - O Estado de S. Paulo

O economista Ricardo Paes de Barros afirmou que a antropóloga e ex-primeira-dama Ruth Cardoso, que completaria 90 anos no próximo dia 19, garantiu aumento de recursos para políticas sociais e promoveu maior participação da sociedade civil no debate sobre o tema durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

“A doutora Ruth foi não só importante para trazer as empresas para a área social, mas também para saber como acomodar as empresas nesse ambiente e colocar junto empresários, trabalhadores, que anteriormente tinham posições antagônicas”, disse Paes de Barros nesta terça-feira, 14, durante seminário virtual em homenagem à antropóloga, que faleceu em 2008 aos 77 anos. 

Paes de Barros foi um dos idealizadores e executores do programa Comunidade Solidária, presidido por Ruth durante o governo FHC. “A sociedade civil pode ter um papel estratégico dizendo onde estão os mais vulneráveis e verificando se o governo está fazendo o que devia. A doutora Ruth dizia que a sociedade civil serve como braço operacional do governo”, afirmou.

Organizado pelo Insper e pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, o seminário foi aberto pelo ex-presidente, que, ao relembrar a relação com a mulher durante seu governo, afirmou que a então primeira-dama não gostava do termo. Segundo ele, ela gostava de ter sua “autonomia”. 

“Ruth tinha mais opiniões que a média das pessoas. Ela ajudava o governo diretamente e, em casa, o criticava bastante. Uma ajuda imprescindível. Essa mistura de uma intelectual que conversa com o povo, sabe dar aula, é incrível”, comentou FHC. 

Para o sociólogo Augusto de Franco, que participou do debate, o momento da sociedade brasileira é bastante diferente do período no qual Ruth colocou em prática suas ideias. “Se uma janela de inovação se fecha, é porque tem ondas regressivas acontecendo. Tudo isso foi problemático para quem buscava a inovação social. Nós todos, de certa maneira, estamos perdidos no tempo. O mundo regrediu de certa maneira e ficamos presos no futuro e exilados no passado”, disse.

Ao relembrar as políticas sociais da ex-primeira-dama, o sociólogo citou a necessidade da criação de programas assistencialistas, mas ressaltou a importância de desenvolver oportunidades para os cidadãos não precisarem depender do Estado. “Nosso objeto não era fazer programas recompensatórios e assistenciais. Queríamos despertar as forças vivas e empreendedoras da comunidade, sempre em ações da sociedade civil com empresas. A política social existe porque é necessária para todos, colocando em outro patamar a maneira que tratamos o papel da sociedade civil nas políticas sociais”.

O segundo webinário (seminário transmitido pela internet) sobre Ruth Cardoso ocorre no próximo dia 22, quando o (tirar esse 'o') FHC será entrevistado pelo escritor Antonio Prata e dará seu depoimento sobre aspectos da vida e da obra da ex-primeira-dama. 

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