Enquanto tucanos faziam terapia, Geraldo Alckmin deu passo rumo a 2018


IGOR GIELOW - FOLHA.COM

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Enquanto o PSDB fazia mais uma sessão de terapia de grupo, Geraldo Alckmin deu mais um passo na construção da candidatura de seu grupo político em 2018 —seja ele ou o prefeito João Doria o postulante tucano à Presidência da República.

Em meio à bruma inócua do vai-não-vai do PSDB em relação ao governo Temer, coube ao presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), dar a notícia: em agosto o partido elege nova Executiva. Isso na casa de Alckmin, em uma reunião convocada por ele. Simbolismo conta.

O governador paulista já vinha ocupando o vácuo deixado pela implosão do senador Aécio Neves (MG) pela Operação Lava Jato. Presidente do PSDB, ele teve de licenciar do cargo quando teve o mandato suspenso pelo Supremo, o que acabou revertido na própria corte. O senador tornou-se um ativo tóxico na visão de boa parte do partido porque suas agruras judiciais tendem a continuar.

Na reunião em que a Executiva tucana decidiu permanecer no barco de Temer, Alckmin já havia conduzido boa parte dos trabalhos.

Mas ele não está sozinho na busca pelos espólios de Aécio, para quem o partido estuda um descolamento digno do protagonismo tucano. O senador José Serra (SP), antigo desafeto do mineiro e do governador, está se movimentando nos bastidores, confiante de que a acusação que o atingiu na Lava Jato é menor e que ele poderá postular mais espaço decisório —se uma candidatura nacional é descartada por aliados, o Palácio dos Bandeirantes não é tão distante. Se o senador está sendo otimista demais, essa é outra questão.

Por ora, contudo, é Alckmin quem dá as cartas. A própria reunião da segunda (10) teoricamente era para ser reservada, mas aliados seus emergiram com convites ao longo do fim de semana, ampliando o fórum. O tucano busca consolidar sua base de apoio, acenando com responsabilidade fiscal e compromisso com reformas aos governadores apavorados com perda de recursos federais em caso de desembarque e com um discurso ambíguo de não compromisso com Temer para agradar a ala jovem e rebelde do partido na Câmara.

Se tudo isso dará certo, é incerto. Aécio ainda tem munição interna para atrapalhar Alckmin, embora o cenário seja favorável ao paulista. Além disso, o paulista terá de compor com Tasso, com quem se dá bem. O cearense poderá continuar à frente do partido, uma solução de consenso para evitar uma humilhação pública muito grande do mineiro.

E, uma vez dominada a máquina interna, o governador ainda terá de se mostrar mais viável do que o pupilo Doria em pesquisas —até aqui, o prefeito tem uma vantagem de saída e tem fixado muito mais a imagem de anti-PT necessária para enfrentar Lula ou algum preposto do ex-presidente no ano que vem.

Contra Doria, há a desconfiança generalizada dos caciques da base aliada, que veem Alckmin como uma opção mais sólida —exceto talvez entre a nata paulistana do tucanato, que nutre um preconceito disfarçado contra o suposto provincianismo do governador.

O governador gostaria de ver Temer na cadeira até o fim, mas a realidade vem se colocando de outra forma, e já estuda como compor com um eventual governo de Rodrigo Maia (DEM). Não que os tucanos realmente considerem que Maia possa se fortalecer a ponto de ser presidenciável numa eleição direta, até porque se assumir o Planalto será alvo imediato da Lava Jato que já o fisgou.

O DEM quer crescer, fazer bancada federal e voltar a ser um parceiro preferencial do campo conservador, embora obviamente a "mosca azul" presidencial tenha poderes inauditos e a tinta da caneta. Alckmin gostaria de replicar sua aliança local com o PSB numa chapa nacional, mas talvez tenha de ceder espaço e ver os pessebistas caírem de volta no colo do PT.

Para tanto, contudo, é preciso saber o que de fato ocorrerá com Temer e, principalmente, se o peemedebista renunciaria em caso de afastamento —levando a um pleito indireto no Congresso no qual Maia pode ter força, mas os atores em cena são muito maiores do que ele.

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