"O galã não emplacou", artigo de Claudio Fontana


Folha de S.Paulo

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Fernando Haddad chegou de mansinho com pinta de galã, voz macia e layout de gestor moderno.

Ex-ministro da Educação dos governos Lula e Dilma Rousseff, valeu-se dos resultados positivos das gestões desses governos federais para eleger-se. Gestões que "maquiaram" as contas públicas, como viemos a constatar depois, e que nos jogaram no buraco fundo e escuro em que estamos.

Eleito, Haddad não conseguiu cumprir parte importante das promessas de campanha.

Principalmente nas áreas já historicamente caóticas como saúde, habitação e educação, onde deveria trazer a experiência obtida no ministério (dos 20 CEUs que prometeu, só entregou um).

Além disso, ainda conseguiu criar obras populistas, caras e de eficácia duvidosa, a começar pelas piores ciclovias do mundo: faixas vermelhas pintadas sobre o asfalto em ladeiras em ruas estreitas que prejudicam o tráfego e estão vazias, sem qualquer bicicleta ou segurança aos ciclistas (cheguei a alugar certa vez uma bicicleta Itaú e andar na rua Vergueiro. A trepidação da ciclovia e os buracos desestimularam-me a um novo passeio).

Logicamente há ciclovias que se aproximam das do primeiro mundo, como na av. Faria Lima e na av. Paulista, mas a maioria não segue as normas básicas de segurança ao ciclista e ao pedestre.

Outra crítica a sua gestão é a vista grossa à ocupação das áreas de mananciais por grupos organizados como o MTST, particularmente na área da represa de Guarapiranga. Isso ficou nítido na crise de abastecimento de água há alguns anos, quando o problema foi muito debatido pela população.

Outra decisão polêmica foi a deliberada redução exagerada da velocidade das vias públicas e a maciça instalação de radares para aumentar a arrecadação.

Com a desculpa de reduzir os índices de acidentes, a fixação de limites de velocidade como 40 km/h é pura desculpa para aumentar as multas de trânsito. Aumentar os limites atuais das vias em apenas 10 km/h não aumentaria os índices de acidentes e reduziria bastante o volume de multas.

Apesar de ter construído apenas um CEU, na área da cultura Haddad teve boas iniciativas. Embora tenham surgido críticas à forma de escolhas dos projetos selecionados pelas comissões de editais (que privilegiam projetos e artistas conhecidos das comissões), a Spcine e a Lei de Fomento ao Teatro são referência de estímulo às áreas.

Essa última, porém, continua restrita a grupos de teatro, discriminando produtores independentes que estão proibidos de participar da distribuição de incentivos.

A isenção de IPTU para teatros e espaços culturais também foi uma iniciativa poderosa na desoneração da cadeia produtiva dos espetáculos teatrais. Outras boas atitudes foram a manutenção da Virada Cultural, a regulamentação dos artistas de rua (que antes iam presos caso se apresentassem na rua) e a Paulista aberta aos domingos, um verdadeiro espaço multicultural onde as diferentes tribos se encontram harmoniosa e democraticamente.

Um grande exemplo do que São Paulo pode dar para outras cidades que não possuem tanto espaço urbano de confraternização.

O galã de voz macia tentou, mas não emplacou. É pena que um município não viva só de boas iniciativas na área cultural.

Hospitais modernos com atendimento respeitoso e ágil, moradias novas para reduzir as ocupações em áreas protegidas e escolas equipadas e com profissionais bem pagos ainda estão longe do alcance dos paulistanos.

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*CLAUDIO FONTANA é ator e produtor cultural. Está em cartaz no Tucarena com "Esperando Godot", de Samuel Beckett, direção de Elias Andreato, com reestreia prevista para 21 de janeiro de 2017

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