DANIELA LIMA - FOLHA.COM
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) comemora com o tucano João Dória, eleito prefeito da capital paulista
Eduardo Knapp/Folhapress
A vitória acachapante de João Doria (PSDB) no primeiro turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo amplia a projeção do governador Geraldo Alckmin como líder nacional do PSDB e acirra a disputa tácita que ele trava internamente com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo posto de presidenciável tucano nas eleições de 2018.
Alckmin bancou a candidatura de Doria a contragosto de praticamente toda a cúpula nacional do PSDB. O governador deu suporte ao seu afilhado político quando os principais caciques da sigla —Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aloysio Nunes e o próprio Aécio— torceram o nariz para ele.
A tática, classificada como "kamikaze" pelos colegas de partido, deu certo e, agora, o governador colhe o reconhecimento. "Foi uma vitória muito expressiva e o Alckmin teve uma parte preponderante nisso, pelo menos como 'plataforma de lançamento' do Doria", diz o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).
Aliados de Aécio Neves também reconhecem a projeção que Doria dará a Alckmin, mas minimizam o impacto dessa vitória sobre o quadro de 2018. "O PSDB como um todo saiu muito forte dessas eleições", avalia o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos principais interlocutores de Aécio.
"A vitória do João Doria foi fantástica, mas é um erro que se comete muito frequentemente achar que a eleição municipal é uma prévia do que será a presidencial. A história mostra isso", ele diz.
Ocorre que o próprio Doria, durante a campanha, vinculou abertamente sua vitória à projeção de Alckmin para a Presidência.
O governador desconversa, mas tem deixado evidente seu apetite pelas próximas eleições nacionais. "Eleição tem um componente de escolha e um componente de oportunidade", disse Alckmin à Folha em conversa na última sexta-feira (30), antevéspera da vitória de Doria.
Ele pregou uma reforma política que reduza o número de partidos do cenário nacional e delegou a missão ao presidente Michel Temer.
Alckmin defendeu ainda que o sistema de prévias, que foi adotado na disputa paulistana, seja uma regra na vida partidária. "Quanto mais você abre, menos você erra. Se o candidato não passar pela prévia, acabou. Essa disputa, em si, já é um teste da sua capacidade de agregar."
A tese faz sentido, principalmente agora que Alckmin terá duas das máquinas estatais mais poderosas do país à sua disposição: o governo do Estado e a capital paulista.
Isso sem contar as chances que tem de ver aliados conquistarem, no segundo turno, cidades importantes da região metropolitana, como São Bernardo do Campo.
Enquanto isso, Aécio tem o mandato de senador e busca recobrar o controle majoritário em Minas Gerais —seu candidato em Belo Horizonte, João Leite (PSDB), passou para o segundo turno.
SERRA
O sucesso de Doria em São Paulo também desestabiliza um terceiro elemento no tabuleiro tucano, o ministro José Serra (Relações Exteriores).
Amigo do rival de Doria nas prévias, Serra se afastou da campanha paulistana e chegou a avalizar a aliança que resultou em uma candidatura rival, de Marta Suplicy (PMDB) e o vice Andrea Matarazzo (PSD).
"O governador já era um candidato em potencial, um nome consagrado no partido", diz o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), aliado de Alckmin.
"Na verdade, a vitória do João o obriga agora a ter um protagonismo maior. Mas o rumo não muda, a prioridade é terminar bem o governo, superar a crise."
Ele aposta que o próprio Doria fará gestos para aproximar Serra de seu grupo. "Ele é agregador", diz Torres sobre o prefeito eleito.
Por enquanto, a ordem no PSDB é esperar a poeira baixar até que o cenário "fique mais claro". Os tucanos não falam abertamente, mas aguardam não só o desempenho do governo Michel Temer, como também o desenrolar da Operação Lava Jato.
Há menções em delações a Aécio e também a pagamentos de propina por obras do Metrô em São Paulo. Cenário que tornou "cautela" uma palavra de ordem na legenda.
"Claro que Alckmin sai fortalecido. O PSDB inteiro sai mais forte no Estado. Isso é um trunfo para uma candidatura paulista, mas todos sabem que o importante é chegar vivo e bem em 2018", resume Aloysio Nunes.
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RAIO-X
Nome Completo
João Agripino da Costa Doria Junior
Nascimento
16.dez.1957 (58 anos), em São Paulo (SP)
Ocupação
Empresário
Estado Civil
Casado
Formação
Comunicação Social - Faap (Fundação Armando Álvares Penteado (1980)
Partido
PSDB
Vice
Bruno Covas (PSDB)
Patrimônio Declarado Ao TSE
R$ 179,8 milhões
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