Sem cumprir promessas, Haddad só elege culpados de fora da sua gestão


LEANDRO MACHADO - FOLHA.COM


Boa parte das principais metas da gestão do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em áreas como educação, transporte e habitação não será cumprida até o fim do mandato, em dezembro deste ano. Para justificar o atraso, o petista só costuma culpar fatores externos.

Haddad responsabiliza o TCM (Tribunal de Contas do Município), a Justiça, a tarifa de ônibus e o IPTU congelados por pressão das ruas e da oposição, e, principalmente, o governo federal, que era comandado, até o começo do mês passado, pela colega de partido Dilma Rousseff.

O prefeito prometeu, por exemplo, construir 150 km de corredores de ônibus. Até agora, a poucos meses do fim do seu mandato, apenas

34,4 km foram entregues. Outros 20 km estão em obras.

Para Haddad, a lentidão ocorreu por causa da interrupção dos repasses do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), do governo federal. No entanto, as licitações de boa parte dos corredores atrasaram. Quando saíram, o Tribunal de Contas apontou diversas falhas, e editais tiveram que ser refeitos. Haddad argumenta que a falta de repasses deu passo lento a outras obras importantes de seu mandato.

Dos 20 CEUs prometidos, apenas um foi entregue; oito estão em obras e seis vão começar a ser erguidos em junho. Das 55 mil moradias, só 8.586 estão prontas –19 mil, diz, estão em construção.

Especialistas em habitação social criticam a dependência que prefeituras e Estados têm dos recursos do Minha Casa, Minha Vida como principal fonte de financiamento.

Com a drástica queda dos repasses do programa federal nos últimos dois anos, prefeitos que contavam com a verba ficaram na mão. Entre eles, Fernando Haddad.




Na eleição, uma das principais promessas do petista era levar para a cidade verbas federais. Na época, ele dizia que, depois de gestões municipais com pouco investimento federal, sua proximidade com a presidente Dilma garantiria os recursos. Não foi o que ocorreu, pois a maior parte do dinheiro não apareceu.

Haddad culpa a crise econômica. "Em 2013, quando criamos o plano de metas, ninguém imaginava o que estamos vivendo hoje. Ele foi criado com a perspectiva de crescimento econômico, não de recessão", justifica.

Outras metas não serão cumpridas integralmente, como a construção de creches. Neste caso, a prefeitura culpa a dificuldade de encontrar terrenos disponíveis (problema que já era conhecido) e a falta de verba federal.

Na área da saúde, o petista deverá entregar dois grandes hospitais e mais de uma dezena de unidades menores. Mas nem todas as 43 UBS (Unidades Básicas de Saúde) prometida serão finalizadas.


OUTROS CULPADOS

Outros agentes contribuíram para a lentidão, afirma Haddad. Um deles é a Justiça, que congelou o reajuste do IPTU em 2014. "A Justiça só julgou um ano depois, algo inédito na cidade. Isso representa R$ 800 milhões." Outro congelamento, para ele, atrapalhou sua gestão: o da tarifa do ônibus, após os protestos de junho de 2013. "São R$ 1,5 bilhão a menos."

"O passe livre não estava previsto. São mais de 800 mil pessoas que não pagam mais passagem. Isso é colossal", diz Haddad, sobre sua decisão de dar gratuidade para estudantes da rede pública. Idosos com 60 anos também ganharam o passe livre, em 2014.

"As principais medidas do Haddad não tiveram grandes gastos, como faixas de ônibus, ciclovias, melhora da mobilidade, Controladoria. Por outro lado, hoje dificilmente alguém voltaria atrás em alguns pontos, como a diminuição da velocidade dos carros", afirma Marco Antonio Teixeira, cientista social da FGV.

O petista rebate: "Tudo está sendo feito", diz. Mas a prefeitura não teve culpa nenhuma na lentidão? Haddad pensa por alguns segundos.

"Olha, a gente tem humildade de dialogar... Mas não era possível prever o que aconteceu em junho de 2013 e depois das eleições presidenciais...", responde e enumera, de novo, os culpados de fora de sua gestão.

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