As redes sociais vão dar o tom das eleições municipais


ILIMAR FRANCO - O GLOBO


Redes sociais | Michel Filho

Sem financiamento privado. Com a falta de costume de militantes, e simpatizantes, sustentarem o financiamento de candidaturas. Com um Fundo partidário insuficiente para bancar campanhas eleitorais Brasil afora. Estas serão as primeiras eleições em que o uso de redes sociais e da plataforma digital vão predominar nas eleições. Serão os instrumentos para atacar os adversários, transmitir propostas e apresentar a biografia de cada candidato ao conjunto dos eleitores.

Todos os partidos produziram ou estão elaborando cartilhas para ensinar como usar essas plataformas nas campanhas eleitorais. Especialistas foram contratados para seminários e para percorrer o país ensinando como usá-las. A experiência das eleições municipais será um ensaio para as eleições presidenciais de 2018. Servirá para testar quais das práticas, conhecidas pela experiência internacional, se aplicam às peculiaridades políticas do Brasil.

O tradicional cabo eleitoral está sendo substituído pelo ativismo digital. A boca de urna será feita por aparelhos móveis que poderão ser acessados na fila em direção à urna de votação. Um dos objetivos ou funções das redes sociais é o de cadastrar visitantes ocasionais em sites de candidatos e torná-los um eleitor militante.

-- Nos Estados Unidos, a principal missão de uma campanha online é fazer cadastro. Entre no site da Hillary Clinton. A primeira coisa que pedem é cadastrar o e-mail. Com o cadastro, a campanha tem uma militância para acionar -- afirma o especialista em marketing contratado pelo DEM, Quintino Gomes Freire.

Nunca mais as campanhas serão as mesmas. A do impeachment é um exemplo eloquente. A última feita no modelo antigo, em que a TV foi a central de vendas de propostas e candidatos, a um altíssimo custo, foi a de 2014. A partir deste ano, garantem especialistas, as redes sociais vão passar, cada vez mais, a ser um instrumento de militância e da militância.

-- Com elas será possível verificar anseios e expectativas dos eleitores, propagar realizações, usar táticas de ataque e de defesa, obter colaboração da sociedade com as campanhas -- afirma o cientista político e especialista em marketing, Sérgio Kobayashi, que percorre o país orientando os candidatos do PSD.

E, acrescenta:

-- O sapato, a saliva e o santinho continuam tendo sua importância. Mas para chegar à vitória é preciso o ativismo digital.

Todos os especialistas sustentam o peso das redes sociais citando números. Esses são coisas que estão fora do mundo político tradicional. No Brasil, são 94,2 milhões de usuários na internet. São móveis 80% desses acessos. São 261,8 milhões de aparelhos celulares no país. São 80% os brasileiros, entre 16 e 44 anos, que têm celular. O mais impressionante é que na classe C, a quem os políticos se referem como "povão", 67% deles tem, pelo menos, um aparelho celular. O desafio de todos os candidatos, e partidos, é atrair esses usuários, pelo menos nas campanhas eleitorais, para a política.

O PSB promoveu um seminário nacional com candidatos e dirigentes partidários de todo país para tratar do tema. Uma das recomendações foi a de que hoje, no mundo da informação instantânea, mais do que nunca, não se pode mais construir um candidato com aquilo que ele não é. Acabou a era da metamorfose ambulante. A outra é a de que os candidatos devem, o quanto isso for possível, responder a seus interlocutores diretamente e não tratar com desprezo os que divergem de seu ponto de vista.

Os socialistas também ouviram o especialista em Direito na Internet (direito digital) pela Harvard Law School, Alexandre Atheniense. Ele abordou, entre outros itens, a reação à propaganda negativa. Ofensas, boatos, fatos inverídicos, perfis falsos, manipulação dos órgãos de imprensa por inserções em seus sites, que atacam a reputação dos candidatos se multiplicam nas redes sociais.

As campanhas negativas não podem ficar sem resposta ou tratadas com desdém, elas podem se propagar como um vírus que como um cupim corroem candidaturas. Por isso, partidos e candidatos, precisam monitorar os conteúdos que circulam pelas redes em tempo real para reduzir o tempo de reação. Preservar a prova. Identificar a autoria. Adotar medidas jurídicas.

-- O objetivo é reduzir danos à reputação. As ações reativas aos ataques de forma tardia e inadequada poderão provocar prejuízos graves à reputação e à campanha - garante Atheniense.

Um dos autores do documento "O Impacto das Redes Sociais nas Eleições", do Instituto Teotônio Vilela (PSDB), o jornalista Fabiano Lana afirma que a população, de uma forma geral, quer ver "porrada" nas redes sociais, contra partidos e candidatos. As pesquisas indicam isso.

A desconstrução está na ordem do dia e qualquer um pode ser vítima de uma orquestração. Os adeptos da movimento anti-política crescem no Brasil, e no mundo, e isso explica o gosto crescente pela pancadaria em cima de presidentes, governadores, prefeitos, senadores, deputados, vereadores e partidos. Esse tipo de campanha será cada vez mais relevante a partir desse ano em diante.

Quem cometeu ou cometer um deslize vai ser colocado no sal pelos adversários. Candidatos serão acusados de usar a máquina, comprar eleitores e militantes ou de ter um "caixa 2". O "paper" do PSDB informa que as redes sociais influenciam diretamente o voto de 19% dos eleitores (A propaganda na TV, 19%; e, os conselhos de amigos e parentes, 22%.) Por isso, o objetivo de qualquer campanha eleitoral ou luta política é a de conseguir propagar, como um vírus suas postagens e isso pode ser medido pelo número de curtidas, de compartilhamentos e de comentários. A receita da cartilha tucana diz que ao usar uma rede social tem que surfar na onda. De maneira rápida, objetiva, sucinta e com simplicidade. Colocar uma pitada de humor, sem ser grosseiro.

-- As redes sociais são uma forma de comunicação direta do candidato com o eleitor. É preciso responder as criticas diretamente ou pela equipe. As críticas, mesmo as virulentas, jamais devem ser respondidas com agressividade -- recomenda Fabiano Lana.

Falas, textos e vídeos curtos são recomendados por todos os especialistas. Recomendam também evitar a saturação. Quintino Freire pergunta:

-- Já imaginou um político que manda um vídeo que come toda a franquia de internet da pessoa?

Boas ideias, originalidade, envolvimento direto do candidato no palanque digital. Produzir mensagens que sejam compartilhadas entre amigos, familiares e militantes. Com isso, é possível que um post nas redes sociais inunde as ruas.

Comentários