Seguindo posição de Alckmin, Aécio critica barganha de cargos e não indica nomes a Temer


Presidente do PSDB afirmou que não fará indicações ao eventual novo governo

MARIA LIMA - O GLOBO

Presidente do PSDB, Aécio Neves, em reunião da Executiva do partido nesta terça-feira

O cardápio promete ser indigesto no encontro desta terça-feira do vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, com o presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), e os líderes do partido no Senado e na Câmara, Cássio Cunha Lima (PB) e Antônio Imbassahy (BA). Instado por governadores e membros da Executiva nacional, Aécio fará duras críticas às barganhas feitas pelo vice-presidente num eventual governo, entregando cargos a partidos que estavam há algumas semanas na base do governo do PT. Na reunião, o tucano vai entregar um documento com 15 propostas que servirá como base para o apoio congressual da gestão Temer, mas deixará claro que escolhas por nomes do PSDB serão respeitadas, mas não se darão por indicação do partido.

Aécio disse que, em uma reunião que classificou como “histórica”, chegou-se ao consenso de dar a Michel Temer liberdade absoluta para compor seu governo sem indicar nomes e se diferenciar das pressões que vem recebendo de outras legendas.

— Pelas notícias que nos chegam hoje, estamos preocupados com a forma como o governo está sendo construído. Há uma preocupação em relação a capacidade que Temer possa ter de assumir a liderança que precisa para fazer as reformas necessárias. Os governadores defendem uma agenda de reequilíbrio federativo, com novos indexadores da dívida. A agenda de reformas é o que nos interessa. Já fiz chegar a interlocutores de Temer nossa preocupação, que foi levantada com muita ênfase pelos governadores nas conversas que tivemos hoje (terça-feira). Eu levo o sentimento coletivo — disse Aécio, antes de ir para o encontro com Temer.

Na reunião, os dirigentes do PSDB deixaram claro que não querem perder a condição de oposição e ter a mesma cara do PR, PP e outros partidos que sustentaram o governo Dilma Rousseff até outro dia. Na saída da reunião da Executiva, ao lado dos governadores, Aécio afirmou ter feito chegar a Temer o ponto de visto do PSDB de que, pressionado pelas dezenas de partido que compunham a base de Dilma, ele perderá a autonomia para fazer as reformas necessárias.

— O que está vindo aí é muito feio. É tudo, o PR nos Transportes, o PP no comando da Caixa Econômica que está com um buraco enorme em suas contas, o bispo na Ciência e Tecnologia. O risco é de que, dentro de 15 dias, o governo Temer tenha a mesma cara do governo Dilma — reclamou o senador a interlocutores.

Essa apreensão, de que o PSDB assuma a fisionomia do fisiologismo na composição do novo governo, foi reforçada pelos governadores durante o encontro.

— O que queremos é contribuir com a agenda de reformas, mas manter a nossa cara, a nossa história, o nosso programa e o nosso projeto, diferente do que os governos Lula e Dilma fizeram — declarou o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, após a reunião, disse que acabou prevalecendo o que defendeu desde o início: apoiar o governo de transição no Congresso, sem negociar cargos.

— A composição do governo é uma preocupação. Virada essa página (do impeachment da presidente Dilma) espera-se uma prática política renovada. E o PSDB quer dar o exemplo — afirmou.

— O PSDB está certo ao encaminhar o documento com os 15 princípios para condicionar o apoio congressual, mas barganhas de cargos não é com a gente. O que queremos é fortalecer o pacto federativo, governador nenhum depende de cargos. Queremos autonomia institucional — completou o governador de Goiás, Marconi Perillo.

Presentes na Executiva, o senador José Serra (SP) e o deputado Bruno Araújo (PE) disseram que a discussão se deu em torno do documento e que não se avançou sobre convites para integrar a equipe de Temer, assunto ainda tratado como especulação.

— Apoio do partido haverá. Estamos contribuindo com a carta-compromisso com os 15 pontos, que eu tenho certeza o Temer vai apoiar. É uma contribuição, não é uma imposição condicionada a apoio do partido — disse Serra.

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