Lava Jato investiga suposta compra de Lulinha em nome de empresa de sócio



Investigadores apuram se a PDI Processamento Digital de Imagem, em nome de Kalil Bittar - irmão de Fernando Bittar, que é dono na escritura do sítio em Atibaia (SP) - foi usada para compra de equipamentos, em Campinas para apartamento de filho do ex-presidente; caso foi remetido ao STF 

RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO E JULIA AFFONSO - ESTADÃO


A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga a compra de bens por Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha, em nome de outro filho do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar (PT), Kalil Bittar. Ele é irmão de Fernando Bittar, um dos donos, na escritura, do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que segundo os investigadores é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Três inquéritos foram abertos, em Curitiba, desde o final do ano passado, para investigar supostos crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e corrupção envolvendo o ex-presidente Lula e seus filhos, entre eles, Fábio Luis, o Lulinha. Nesta quinta-feira, 31, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela remessa de toda apuração para Brasília, onde os procedimentos passarão a ser conduzidos pela Procuradoria Geral da República (PGR).

A Lava Jato apura informação de que no final de 2014 Kalil Bittar – também sócio de Lulinha, assim como Fernando – levou o amigo até uma loja de importados, em Campinas, interior de São Paulo. O filho do ex-presidente comprou itens como uma geladeira duplex, televisor e uma coifa italiana. Tudo teria sido pago por Kalil Bittar e o valor da compra ultrapassou R$ 100 mil.

Os equipamentos, segundo uma testemunha ouvida pela Polícia Federal no dia 18 de março, foram entregues no início de 2015, em um endereço na Vila Uberabinha, em São Paulo. Quem mora no bairro, na Avenida Juriti, é Fabio Luis Lula da Silva. O local foi alvo de buscas decretadas pelo juiz federal Sérgio Moro, no dia 4 de março, quando foi deflagrada a Operação Aletheia – 24ª fase da Lava Jato – e Lula levado coercitivamente para depor.

A testemunha ouvida pela PF, em Campinas, confirmou que Bittar e Lulinha foram juntos à loja. O que chamou atenção dos investigadores é que a nota da compra foi emitida em nome de uma empresa, a PDI Processamento Digital de Imagem.

A empresa tem sede na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e não tinha entrado ainda para o radar da Lava Jato, que apura os negócios de familiares e amigos de Lula – por suspeita de ocultação patrimonial e lavagem de dinheiro. Consta que Bittar e Priscila Bittar figuram ou figuraram como sócios da empresa.

O Estadão ligou em um telefone registrado como contato da PDI, no Rio. O número é do Grupo Gol, do empresário Jonas Suassuna – também sócio de Lulinha e dono na escritura de outra parte do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia.

Em 2008, a Superintendência de Fiscalização da Agencia Nacional de Cinema (Ancine) emitiu intimação para empresas que se encontravam em “local incerto e não sabido para Ciência dos processos contra elas abertos, em decorrência de Notificações Fiscais de Lançamento”. A PDI, de Bittar, estava entre elas.

Suspeita. Para a Lava Jato, a descoberta da suposta compra em Campinas indica que, além do sítio registrado em nome de Fernando Bittar, outros bens, móveis e imóveis, podem ter sido adquiridos pela família de Lula em nome da família do amigo Jacó Bittar. Os dois foram fundados do PT e parceiros do movimento sindical, nos anos 1970 e 1980.

Um dos inquéritos dessa frente é o aberto para apurar a propriedade do sítio. Lulinha é sócio de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, que registraram em seus nomes a propriedade rural, em Atibaia. Além da compra suspeita, registrada pelo valor de R$ 1,5 milhão, em 2010, a Lava Jato apura a reforma completa do imóvel, que teve participação de três investigados por corrupção na Petrobrás: o amigo pecuarista José Carlos Bumlai, a Odebrecht e a OAS.

Para investigadores da Lava Jato, independente de ser processado em Curitiba, na 13ª Vara Federal, sob o comando do juiz Sérgio Moro, seja no STF, com o ministro Teori Zavaski, os elementos probatórios recolhidos até aqui permitem apontar crime de ocultação patrimonial da família Lula.

Defesa. Os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, que defendem Fabio Luis, foram procurados pelo Estado. Por meio de sua assessoria de imprensa, “a defesa informa que desconhece o fato relatado” pela reportagem. “Diante da recusa do envio do documento que prova a acusação, não vai se manifestar”.

Bittar foi procurado em sua empresa e não foi localizado para comentar o assunto.

Lula, por meio de sua defesa, sustenta que o sítio foi comprado por Jacó Bittar para possibilitar o convívio entre as duas famílias. E que a propriedade foi registrada pelo ex-prefeito em nome do filho Fernando e de seu sócio Suassuna.


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