'Não sei' vira bordão de Lula em depoimento à Lava Jato


GRACILIANO ROCHA E FELIPE BÄCHTOLD - FOLHA.COM


Em 3h35 de depoimento à Polícia Federal no último dia 4, Luiz Inácio Lula da Silva balançou a cabeça negativamente, respondeu "não sei", "faço questão de não saber" ou variações destas expressões a diversas perguntas.

O alegado desconhecimento do ex-presidente abrange, sobretudo, temas operacionais de sua empresa de palestras, quanto é o faturamento, qual é a despesa ou como são feitos os contratos.

Presidente de honra do instituto que leva o seu nome, Lula também alegou não saber como são captadas as doações milionárias de empresas que financiam a entidade desde 2011.

"Nem no instituto nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam", respondeu Lula.

"O senhor não faz nem ideia?", insistiu o delegado.

"Não faço ideia".

"De quanto entra em dinheiro?", pressionou o investigador.

"Faço questão de não fazer ideia", cortou o petista.

Indagado sobre doações da Camargo Corrêa, uma das empreiteiras envolvidas no petrolão, o ex-presidente adotou um tom desafiador: "Eu vou repetir, deve ter sido ou o tesoureiro do instituto ou algum diretor do instituto, ela deu para o instituto acho que a metade do que ela deu para o Fernando Henrique Cardoso. Metade, deveria ter dado mais, mas deu menos".

Segundo Lula, seu distanciamento foi decidido para dar mais autonomia aos diretores do instituto.

O desconhecimento proposital também abrange suas campanhas.

Indagado sobre a abordagem de José de Filippi, tesoureiro das campanhas presidenciais de 2006 e 2010, para pedir doações às empreiteiras, Lula sugeriu que o delegado da Polícia Federal fosse atrás dos dados da Justiça Eleitoral.

"Deixa eu lhe falar uma coisa, um presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute dinheiro de campanha", disse.

Lula também disse desconhecer que duas pessoas que considera amigos –Léo Pinheiro, sócio da OAS, e o pecuarista José Carlos Bumlai– tenham feito a reforma do sítio frequentado por sua família em Atibaia, no interior paulista.

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