"Meu amigo e presidente Lula... encaminho as cachaças", diz Emílio Odebrecht em bilhete


PF encontrou bilhete de Emílio Odebrecht, maior empreiteiro do País, na residência do ex-presidente durante buscas da Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato no dia 4 de março


FAUSTO MACEDO, RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO E MATEUS COUTINHO - ESTADÃO

Marisa Letícia, Lula, Emílio Odebrecht e Andrés Sanchez

A Polícia Federal encontrou em poder do ex-presidente Lula um bilhete manuscrito assinado pelo empresário Emílio Odebrecht, datado de 27 de outubro de 2015 – dia em que o petista comemorou 70 anos. “Meu amigo e presidente Lula. Desejo que comemore este dia especial junto aos seus, D. Marisa e filho e, para comemorá-lo, encaminho as cachaças produzidas em nossa fazenda Baviera.”

O bilhete foi achado no dia 4 de março de 2016 na residência de Lula, um apartamento duplex do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Naquele mesmo dia, o ex-presidente foi conduzido coercitivamente pela PF para depor em uma sala no Aeroporto de Congonhas no inquérito da Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato que pegou Lula.

Durante cerca de três horas o ex-presidente prestou depoimento. Enquanto isso, uma equipe de agentes federais vasculhou o apartamento de Lula em busca de indícios de que ele é o verdadeiro proprietário do sítio Santa Bárbara, em Atibaia, o que é negado enfaticamente por seus advogados. Aletheia também mira no Instituto Lula e na LILS Eventos e Paletras, do ex-presidente.



O manuscrito de Emílio Odebrecht não prova nada contra Lula. Os próprios investigadores avaliam que a mensagem afetuosa apenas reforça as boas relações do ex-presidente com o dono da maior empreiteira do País que, na semana passada, pela primeira vez, publicamente, admitiu estar disposta a prestar uma “colaboração definitiva”.

O filho de Emílio, Marcelo Odebrecht, e outros executivos ligados ao grupo estão presos desde 19 de junho de 2015. A Operação Lava Jato atribui a Marcelo Odebrecht crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. No início de março, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, condenou o filho de Emílio Odebrecht a uma pena de 19 anos e quatro meses de prisão.

A sentença de Moro deverá ser confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4). Tem sido assim desde o estouro da Lava Jato há dois anos. Praticamente todas as decisões do juiz da Lava Jato são mantidas pelo TRF4. Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), neste ano, prevê que condenado em segundo grau judicial já pode ficar preso.

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