Entrevista do secretário de segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes ao Estadão


‘É possível prevenir homicídios em SP’, diz secretário de segurança

Secretário da Segurança diz que nº de mortes caiu após ação direta em bares e locais onde há violência doméstica

ALEXANDRE HISAYASU, ANA CAROLINA SACOMAN - O ESTADO DE S. PAULO

Alexandre de Moraes, secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, durante entrevista ao Estado 

Há pouco mais de um ano à frente da Segurança, a gestão do secretário Alexandre de Moraes alcançou uma marca histórica, com a menor taxa de homicídios, 8,73 casos por 100 mil habitantes, do País. Mesmo com as estatísticas criminais favoráveis, ele nega ter interesse em disputar as eleições para a Prefeitura neste ano ou para o governo estadual, em 2018. Em entrevista ao Estado, disse que o Movimento Passe Livre (MPL) é antidemocrático e que deu total liberdade para a Polícia Civil investigar a fraude na distribuição da merenda escolar, na qual os suspeitos citam nomes do Executivo e do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), como supostos envolvidos no esquema.


No passado, o senhor fez relação entre crimes patrimoniais e o “boom” econômico. Até onde a crise interfere nas estatísticas?
Continuo achando a mesma coisa. Não é algo só do Brasil, mas a questão da crise, muito desemprego, acaba gerando impacto. Se a gente pegar os três últimos meses (de 2015), quando a crise afetou mais, principalmente o roubo e o furto aumentaram um pouco. Existe uma relação, não só no Brasil, mas no mundo, que uma crise econômica maior, com as pessoas mais necessitadas de dinheiro, acaba gerando principalmente um aumento no roubo de carga, na carga de comida. Depois de seis meses de queda de roubo a carga, nós tivemos em outubro, novembro e dezembro um ligeiro aumento. Não significa dizer que tem relação entre ficar desempregado e virar criminoso, mas a criminalidade acaba tendo um incremento.

Além de roubo e furto, houve aumento de latrocínios no quarto trimestre de 2015.
O latrocínio teve uma pequena variação, são quatro a mais (de 89 para 93 casos no Estado, em comparação com o quarto trimestre de 2014). É crime que se combate de uma forma reflexa: a pessoa não sai para praticar latrocínio, ela sai para praticar um roubo. Costumo dizer que é um roubo que não deu certo até para a própria pessoa que saiu para praticar, e geralmente está muito ligado à droga. É um crime que você combate pelo roubo. Antes, nós tínhamos 42% dos latrocínios ligados ao roubo de veículo: põe a arma, a pessoa assusta, o carro dá aquele tranco e o outro atira. Caiu o roubo de veículo, caiu o latrocínio. Ou seja, é crime reflexo.

Qual o motivo da queda constante nos índices de homicídio?
Todo crime é grave, mas homicídio é prioridade. Já vem caindo desde 1996. Desde 2001, tivemos dois aumentos. Incrementamos a fiscalização das situações que podem causar homicídio. Terminamos o ano de 2014, no Estado, com 10,14 (casos por 100 mil habitantes). Baixou de 10, baixou de 9 e chegou a 8,73. E, se continuar nesse ritmo, vai baixar mais ainda. Tradicionalmente, todo georreferenciamento (estratégia policial) de viaturas, rotas de viaturas, tudo é mais ligado ao crime de patrimônio, que é um volume maior. Eu aumentei um ingrediente que é o homicídio, que é possível prevenir. 

Existe circunstância mais favorável para um homicídio?
Bar, sábado, chegando mais para a noite, é o dia maior com homicídio. Nós fortalecemos o policiamento, diferentemente dos demais dias. Agora, sábado à noite é o dia com menor índice de roubo de carga, de roubo, de crimes contra o patrimônio. Nós mudamos o policiamento privilegiando o combate ao homicídio. Estou agora esperando o Ministério Público dar provimento aos cargos da Promotoria de Violência Doméstica para verificar mais detalhadamente os locais onde há violência doméstica, para tentar combater previamente (as mortes dentro de casa). Briga de bar você previne pedindo para as prefeituras verificarem horário, verificarem o bar, fecharem se está irregular.

Especialistas em segurança criticam a forma de divulgação das estatísticas de maneira “fatiada”, privilegiando os melhores índices. O senhor vai continuar “fatiando”?
Fatiar é uma expressão da imprensa. Eu vou continuar divulgando em dias diferentes até o dia 25 de cada mês, porque eu acho que é muito mais interessante para a sociedade do que você colocar todos os índices no mesmo dia. Vocês não vão pegar nenhuma divulgação minha só de índice bom, sempre tem um critério. Nenhum dado deixou de ser divulgado. 

É difícil fazer as Polícias Militar e Civil trabalharem juntas sem que haja brigas entre as corporações, como ocorreu nas investigações da chacina dos 19 mortos?
É até natural que isso ocorra, mas quando extrapola, aí a secretaria tem de entrar. A primeira reunião com o comandante-geral e o delegado-geral, até por ter a experiência de ter filhos gêmeos, eu disse que saberia conviver muito bem com isso (rivalidade), porque eu sei que não se pode dar uma coisa para um e não dar para o outro, não pode favorecer um e desfavorecer o outro, porque nenhum secretário da Segurança consegue andar numa perna só. A nossa estrutura de segurança pública tem duas pernas. Instituições não precisam se gostar, elas precisam se respeitar. Se dá faísca embaixo, a gente resolve em cima. 

O que o senhor espera das próximas manifestações do Movimento Passe Livre (o grupo anunciou pouco depois que só voltaria às ruas em fevereiro)?
A estratégia não muda. Tem de ter comunicação prévia. Não sou eu quem pede, é a Constituição que exige. Em todos os países democráticos, se exige a comunicação prévia, informar quem são os responsáveis, etc. O Passe Livre é o único que em todas as manifestações não só não comunica (trajeto) como tem depredação.

Foi noticiado que o senhor teria feito uma provocação ao deputado Fernando Capez no Facebook pelo fato de o nome dele ser citado como investigado e ele ser um eventual rival numa disputa para o governo do Estado em 2018.
Até ontem disseram que eu era candidato a prefeito. Agora falaram que vou ser candidato a governador e que foi uma provocação (postagem no Facebook). Todas as grandes operações da polícia eu coloco no meu Facebook. Não sei onde inventaram isso.

Sobre os boatos sobre suas candidaturas. Se filiar ao PSDB, em dezembro, fez com que aumentassem...
Eu voltei à vida pública em janeiro de 2015. Em março, já falavam que eu seria candidato (a prefeito de São Paulo). Boato é boato. Nunca ninguém viu eu dar motivo para esses boatos. Eu fui no Roda Viva (TV Cultura), em março, e eu perguntei de onde tiraram isso. E responderam que eu viajava muito com o governador Geraldo Alckmin para o interior. 

Com os índices em queda, seu nome seria o dos sonhos do governador, não?
Eu não vou reclamar que vocês imaginem isso. Para mim, é uma honra ser o nome dos sonhos... Mas, antes de ser tucano, PSDB, eu sou “alckmista”, independentemente do partido em que eu estava. Mudei de partido (do PMDB para o PSDB) porque sou secretário da Segurança Pública do governador Geraldo Alckmin. Talvez, se eu tivesse falado que seria candidato, em março, esse assunto estaria encerrado. O PSDB nem definiu os pré-candidatos à Prefeitura e já dizem que sou pré-candidato a governador. Isso não existe. Eu tenho compromisso com o governador de ficar até o fim do mandato dele. E tenho histórico de nunca ter sido candidato a nada.

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