Entrevista do governador Geraldo Alckmin ao Diário do Grande ABC

Leandro Baldini - Diário do Grande ABC


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), avalia possibilidade de descentralizar a distribuição de remédios no Grande ABC, atualmente concentrada na farmácia do Hospital Estadual Mário Covas, o que gera longas filas, de até cinco horas, e reclamações. A ideia seria repartir os medicamentos em unidades de Saúde da região, reduzindo gargalo no complexo hospitalar localizado em Santo André.

Alckmin visitou ontem a sede do Diário logo após fazer vistoria no recém-inaugurado Poupatempo de Santo André, situado no Atrium Shopping, no bairro Homero Thon. Em entrevista exclusiva, além de citar mudanças no Hospital Mário Covas – até estruturais –, o tucano descartou rodízio de água no Estado, tomando como base duas obras estruturantes: a construção de Sistema São Lourenço e a ligação do Rio Paraíba do Sul com o Sistema Cantareira.

O chefe do Palácio dos Bandeirantes também opina sobre greve dos professores da rede estadual, lembra que nos últimos quatro anos o reajuste foi maior do que a inflação e afirma que o único sindicato a paralisar suas atividades – a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) – não segue cronograma de anos anteriores, quando o debate sobre majoração dos vencimentos ocorreu em julho.

O governador reconhece a possibilidade de retorno de um quadro do Grande ABC ao primeiro escalão. A região não tem representante no secretariado desde janeiro, com a saída do ex-prefeito de São Caetano José Auricchio Júnior (PTB) à frente da Pasta de Esporte, Lazer e Juventude.

Outro assunto abordado pelo chefe do Estado é o contingenciamento de verbas federais por parte do governo de Dilma Rousseff (PT). O governador acredita em dilação de prazo de entrega da obra, mas garante que a Linha 18-Bronze, que ligará o Grande ABC ao sistema metroviário da Capital, vai sair do papel.

O sr. realizou vistoria no Poupatempo em Santo André. Qual a impressão do que foi visto na unidade e a projeção para a entrega na cidade de Mauá?
Eu diria que o Poupatempo de Santo André é um dos mais bonitos, pois tem amplas instalações, 3.000 metros quadrados de área útil, bem iluminado e com ótimo design. A demanda está aprovada. Numa relação de seis dias e meio, houve 12 mil atendimentos. É serviço público de qualidade, rápido, eficiente, facilitando a vida das pessoas e com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) funcionando dentro da unidade. E o próximo agora será em Mauá. Nós devemos licitar no começo de julho e colocar para funcionar em seguida.

Qual análise o sr. faz da diminuição dos índices criminais no Grande ABC?
Se verificarmos somente a região a partir de abril deste ano, em comparação com o ano passado, vamos constar que todos os indicadores caíram. Alguns, em torno de 66%. Se compararmos período mais abrangente, o quadrimestre de 2014 com o de 2015, notamos também diminuição em todos os números. Crimes contra a vida já vinham caindo e agora os que estão recuando significativamente são roubo e furto de veículo. Roubo de automóvel diminuiu 27% no quadrimestre e, inclusive, passamos a cobrar das seguradoras redução no valor cobrado em relação aos seguros. O pedido foi embasado porque estamos há dez meses registrando queda nesses números.

Na semana passada houve o anúncio do contingenciamento do governo federal e para a região tem aporte à Linha-18, além das reformas da Linha-10 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Como o sr. analisa esse congelamento?
Nós temos solicitação quanto à Linha-18 de US$ 182 milhões, em financiamentos, para usar em desapropriações. Está marcada para amanhã (hoje) reunião na Cofiex (Comissão de Financiamento Externo), do Ministério do Planejamento. Dependemos disso, porque, aprovado na Cofiex, avança para o Ministério da Fazenda, passa pela Secretaria do Tesouro Nacional, chega à Presidência da República e depois ao Senado, que deve aprovar em 24 horas. Então buscaremos o financiamento externo. Como o Estado é grande, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Bird (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) às vezes não possuem tanto recurso para emprestar. Abri licitação internacional de US$ 300 milhões no ano passado, explicitando a busca pelo financiamento. Não temos problema de conseguir financiamento. Somente precisamos ter autorização. Esperamos, então, que na Cofiex possa ser aprovado. Nós já temos o financiamento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Os recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do BNDES estão garantidos?
Sim, estão. O PAC pode alongar um pouco, porque não é para desapropriação.

E sobre as reformas da Linha 10-Turquesa?
Quando ocorreu a manifestação de 2013, o governo federal fez o PAC Mobilidade. São Paulo teve três projetos aprovados e um deles eram as reformas e ampliação de estações da CPTM. Para esse conjunto foram destinados R$ 590 milhões. Isso ainda não foi liberado. Na Linha 10, o ministro (Gilberto) Kassab (PSD) afirmou que pode alongar um pouco, mas acredito que vai sair. O que pode acontecer, com esse contingenciamento do governo federal, é estender o prazo.

Nos últimos meses, há grande número de reclamações no Hospital Mário Covas, especialmente na farmácia de alto custo. Há solução em curto prazo para resolver o problema? Pode haver descentralização da distribuição?
Pode. É o que nós estamos procurando fazer. Acabamos de inaugurar a segunda fábrica de remédios. Já tínhamos uma em Guarulhos e no fim do ano abrimos em Américo Brasiliense, que fica próxima de Araraquara, por meio de PPP (Parceria Público-Privada). O que preocupa é judicialização, que você tem os medicamentos que devem ser entregues (por determinação da Justiça). Queremos até achar formas de levar medicamentos de uso contínuo diretamente às pessoas. Em relação ao Hospital Mário Covas (em Santo André), teremos mais dez leitos de UTI adulta e modernização do setor de emergência. Com isso, ampliaremos para 59 leitos de UTI, além de reforma, instalação elétrica. Vamos ampliar a área de farmácia de alto custo.

O que se nota é que, na farmácia de alto custo, o gargalo não é a ausência de medicamentos, mas crise logística...
Sim, há demora devido à concentração (no Hospital Mário Covas). Vamos ver como descentraliza.

O sr. entregou recentemente as obras no sistema Rio Grande. Quais serão os próximos passos do governo para minimizar impactos da seca?
Teremos duas grandes obras estruturantes a partir de 2017. Uma é a nova PPP do São Lourenço. É raro no mundo ter 22 milhões de pessoas a 700 metros de altitude. Aqui em São Paulo não tem água. É preciso buscar em Minas Gerais. Temos sete sistemas. O maior era o Cantareira, de onde se tirava 33 metros cúbicos de água por segundo. Hoje, se retira 13. O maior sistema atual é o Guarapiranga, que está tirando 15. Nós substituímos o Cantareira, porque lá foi aonde ocorreu a seca no ano passado. A nova PPP do São Lourenço terá 6,4 metros cúbicos por segundo a mais de água tratada. De sete sistemas, passaremos a ter oito: Guarapiranga, Cantareira, Alto Tietê, Alto e Baixo Cotia, Rio Grande e Rio Claro. O São Lourenço está em obra, com 1.500 pessoas trabalhando. A outra obra estruturante é a interligação de duas bacias, Paraíba do Sul com o Cantareira. Vamos interligar duas bacias, através de duas represas, sendo do Jaguari, que fica em Igaratá, com a Represa de Atibainha, localizada em Nazaré Paulista. São 14 quilômetros uma da outra. Isso está em licitação. Fizemos a fase de pré-qualificação. Tem 15 consórcios disputando e esperamos assinar contrato até julho e iniciar obra. Fica descartado o rodízio.

Qual balanço o sr. faz da greve dos professores?
Em 2011 o reajuste aos professores foi acertado em julho e pago em agosto, assim como em 2012, 2013 e 2014. Neste ano decretaram a greve em março. Não existe aumento de oito em oito meses. É em julho e quando chegar o período, vamos chegar ao entendimento. Todo mundo sabe dos problemas com a crise econômica e veremos o que vamos conseguir fazer. Existem seis sindicatos da Educação no Estado. Apenas um (a Apeoesp) decretou paralisação. Nos últimos quatro anos nós demos reajuste de 45% de aumento. Para inflação de 24%. Então, o ganho real foi de 21%. Em abril, nós pagamos o bônus (de R$ 1 bilhão). Quando eu assumi o governo do Estado essa premiação foi de R$ 330 milhões.

Na sua opinião, a Apeoesp tenta politizar a greve?
O professor efetivo não aderiu (à greve). Até porque um dos critérios do bônus é a assiduidade. A paralisação é menos de 5% do quadro. O número de faltas é 3%. Então, são 2% a mais, que são compostos por substitutos. O efetivo não entrou em greve.

O Congresso analisa pontos da reforma política. Quais o sr. acredita que serão aprovados?
Acho que pode ser aprovado o fim das coligações proporcionais, que será uma grande coisa. Temos 32 partidos, podendo chegar a 35 rapidamente e outros 26 estão pegando assinatura. Proibir coligação pode reduzir o número de partido para uns dez, diminuindo assim a carona. Eu diria que esse é um item com mais chances de passar. Eu sou favorável ao voto distrital. Acho difícil que esse passe em Brasília, mas sou favorável. Voto distrital tem de ser votado por todos. Você é o representante do trabalhador, do metalúrgico, do cara da zona rural, do empreendedor, do católico, do evangélico. É um corte da sociedade. E o vizinho fiscaliza. Em São Paulo, existem 30 milhões de eleitores. Se temos 70 vagas, a cada 400 mil se elege um deputado federal. No Grande ABC, há 2 milhões de eleitores, pode-se dizer que, ao invés de se eleger dois, pode se dar o direito a cinco pela região. Fica sendo distrito maior. Tira a necessidade do candidato a percorrer cidades fora do eixo de atuação. Seria maneira de regionalizar o voto.

Servidores querem fazer greve na CPTM. O governo do Estado está preparado para paralisação no setor?
A expectativa é para que não haja greve. Prejudica demais os trabalhadores. Estamos fazendo o máximo que a gente pode. Tem de manter, no horário de pico 100% (do contingente). Se não houver acordo, a Justiça vai decidir.

O sr. vislumbra saída para indústria da região, que está em crise e vendo montadoras anunciarem demissão em massa?
Vejo como transitório, pois a própria Mercedes-Benz está construindo uma fábrica nova, em Iracemápolis. O momento é de recessão econômica, mas irá passar. Os grandes investimentos não olham o imediatismo, enxerga mais para frente. O Brasil é o maior mercado consumidor da América Latina. O que eu defendo? Duas coisas poderiam ajudar: uma é comércio exterior, já que o real está desvalorizado e precisamos de esforço para recuperar o mercado, e a outra é infraestrutura e logística. A Linha 5-Lilás, por exemplo, tem 9.000 pessoas trabalhando. Tem de fazer ajuste, mas tem de crédito.

Desde janeiro o Grande ABC não tem representante no primeiro escalão do Palácio dos Bandeirantes. Há possibilidade de nomeação de alguém da região?
O Grande ABC está contemplado no governo do Estado. O (ex-deputado e ex-prefeito de São Bernardo) William Dib (PSDB) está no conselho da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano). O Clóvis Volpi (PTB), à frente do Ipem (Instituto de Pesos e Medidas). O Kiko (ex-prefeito de Rio Grande da Serra Adler Kiko Teixeira) integra o conselho da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Tem o David Uip, secretário de Saúde, que foi um dos primeiros formados da FUABC (Fundação do ABC). E logo vamos trazer o Auricchio (ex-prefeito de São Caetano José de Auricchio Júnior, PTB) de volta.

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