Empreiteiro afirma que Vaccari pediu propina em forma de doação eleitoral para o PT em 2010


Eduardo Leite, ex-vice da Camargo Corrêa, revelou encontro com o então tesoureiro do PT em um café em São Paulo no ano da primeira eleição de Dilma

Ricardo Brandt, Mateus Coutinho, Fausto Macedo e Julia Affonso - Estadão


O executivo Eduardo Leite, ex-vice presidente da Camargo Corrêa , alvo da Operação Lava Jato, declarou à Justiça Federal nesta segunda feira, 18, que em 2010 – ano da primeira eleição de Dilma Rousseff à Presidência – encontrou-se com o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que lhe teria pedido propina em forma de doação eleitoral.


“Por volta de 2010 eu conheci o sr. João Vaccari na saída de um restaurante em São Paulo. Ele me foi apresentado ‘esse aqui é o sr. João, o tesoureiro do PT’. Trocamos cartões. Após algum tempo fizemos contato, uma reunião no Café Jornal. Era o lugar onde eu marcava reuniões fora do horário do expediente porque fica muito próximo à minha residência. Ele (Vaccari) também disse que era próximo da casa dele. Passamos a nos encontrar nesse endereço. Um primeiro encontro, no segundo ele me abordou. ‘Olha, estamos atrás de doações eleitorais e sei que a Camargo Corrêa está em débito com a nossa área de Serviços da Petrobrás, você não está conseguindo cumprir os repasses com o Julio (Camargo, suposto lobista e operador de propinas na Diretoria de Serviços, cota do PT na estatal) para que esse dinheiro chegue. Não quer fazer isso através de doação eleitoral?’.”



Leite disse a Vaccari que precisava “discutir isso com a sua área institucional, ela responde pela área de doação eleitoral, o vice-presidente institucional é responsável pelo tema.” Na audiência diante do juiz federal Sérgio Moro, que dirige a Lava Jato, foi perguntado a Eduardo Leite quando ocorreu a reunião com Vaccari. “Algo em torno de março a maio de 2010″, ele respondeu.

Ele também citou uma “reunião especifica”, na mesma época, com o então diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, em um hotel em São Paulo. “Ele (Costa) me chamou para falar sobre doação eleitoral, não propina, mas doação eleitoral. Ele falou: ‘Eu, como diretor da Petrobrás dentro do governo do PT, estou perguntando para as empresas quem é que vai colaborar na campanha eleitoral’.”

Eduardo Leite disse que essa conversa ocorreu “provavelmente em 2010″. Ele relatou ao juiz Moro que explicou a Costa que doação não era assunto de sua competência, mas de outra área da Camargo Corrêa. “Nunca mais ele me cobrou, só voltou a falar desse tema quando já tinha saído da Petrobrás e veio essa solicitação da Costa Global (empresa de Paulo Roberto Costa).”

O executivo é réu da Lava Jato por corrupção ativa e lavagem e dinheiro. Ele assinou termo de colaboração premiada – em troca de revelações sobre o esquema de propinas na Petrobrás almeja redução de pena.

Segundo ele, no início de 2009, logo que assumiu a área comercial da Diretoria de Óleo e Gás da empreiteira, reuniu-se com o lobista Júlio Camargo, com o então diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, e o gerente de Engenharia da estatal, Pedro Barusco. Propina foi o tema do encontro na residência de Camargo. “Ali me foi informado quanto a empresa devia (em propinas de 1% sobre o valor de grandes contratos). A empresa tinha que atender a ‘Casa’ (diretores da estatal) e ao partido (PT). Era uma distribuição que eles cuidavam. O que foi tratado foi o volume que a Camargo Corrêa devia e como ia fazer para efetuar o pagamento através do Julio Camargo. Ele representava o dr. Duque e o dr. Barusco nos pagamentos.”

Leite declarou ao juiz Sérgio Moro que, quando assumiu a área comercial da Camargo Corrêa, “lhe foi passado um diagrama de quanto era devido em cada obra”. Ele citou os contratos das obras da REPAR (Refinaria do Paraná), RNEST (Abreu e LIma) e RVAP (Vale do Paraíba). “O que sabíamos é que era um volume de contratos a partir de 2006 e, por todos eles, a gente devia 1% para a área de Serviços.”

Segundo Eduardo Leite, para a Diretoria de Abastecimento, sob comando do então diretor Paulo Roberto Costa, o valor da propina também era de 1% sobre os contratos. “Para cada contrato existiam alguns contratos de consultoria. A gente olhava para a dívida como um todo, quanto eu devo relativo a todos os contratos. A gente tenta pôr em dia ou vencer as necessidades para poder dar continuidade aos nossos contratos. Em todos os grandes contratos esse compromisso era préestabelecido.”

Um procurador da República indagou se o 1% podia ser negociado. “A gente tinha muita dificuldade em honrar o compromisso, no nosso caso o que a gente tinha que fazer era cumprir o fluxo de pagamentos. No nosso caso específico não tinha essa chance.”

Não tinha uma margem de barganha?, insistiu o procurador. “Não, a Camargo era devedora. Logo que a gente assinava o contrato eles se achavam credores do valor de 1%. Como a Camargo tinha apenas mecanismos parciais para os pagamentos estes eram feitos sobre faturamento.”

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