Falta comando político ao País, diz FHC


Para ex-presidente, o Brasil está deixando de ser grande até mesmo na América Latina

ELIZABETH LOPES E PEDRO VENCESLAU - O ESTADO DE S. PAULO

Fernando Henrique Cardoso
Foto: Facebook de João Doria Jr

COMANDATUBA - O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que falta comando político ao País, em mais uma crítica ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A frase foi em resposta a uma pergunta do o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), sobre "quais medidas (FHC) adotaria para salvar o País", em debate realizado no 14º Fórum Empresarial de Comandatuba. Para FHC, o Brasil está deixando de ser grande até mesmo na América Latina.

O ex-presidente tucano disse que o País só muda na crise. "E a primeira condição é ganhar credibilidade, se não tiver isso, pode até fazer, mas não vai fazer direito." E frisou que é preciso, ainda, ter certa humildade para adotar as medidas necessárias, já que ninguém sabe as consequências de um ajuste econômico.

"É preciso diálogo (com a sociedade). Tem que haver condução política deste processo, a inflação é desorganização das finanças públicas, é preciso condução política para colocar ordem na casa, cortar gastos e avisar o que vai impactar a população."

FHC disse que o Brasil já teve vários planos econômicos e citou que o Real deu certo porque antes de ser colocado em prática foi explicado à população do País o que iria acontecer. "Isso fez toda a diferença, nossa estratégia foi expor (plano) ao Brasil, dissemos com antecedência o que iria acontecer e não impomos regras aos salários, criamos a URV e depois mudamos a moeda."

Para o tucano, não existe êxito econômico sem uma boa condução política. "Tem de haver comando político e eu acho que é isso que falta ao Brasil."

Drogas. Nos debates realizados no Fórum do Lide em Comandatuba, FHC explicou sua posição sobre a descriminalização das drogas. E ressaltou que todas elas fazem mal, sem exceção. Mas, acredita que penalizar o consumidor não resolve o problema. "Quando se proíbe, floresce o mercado negro e a bandidagem. Não é proibir ou não, é campanhas pela redução do consumo. Vi isso favelas do Rio, o tráfico cresce porque tem dinheiro, arma e mulher", destacou, falando ainda: "Se pessoa é drogada não adianta prender, tem que regular, tem que haver combate à produção e o mais importante, tem que fazer campanha para redução, como se fez com o cigarro."

Provocação. No momento em que a presidente Dilma vive a expectativa de enfrentar problemas na aprovação, no Senado Federal, do seu indicado para a vaga do STF, o advogado Luis Edson Fachin, FHC fez hoje uma provocação indireta. "Eu nomeei alguns ministros e jamais tive a liberdade de pegar o telefone para pedir um voto a qualquer ministro (STF)", disse.

O jurista gaúcho deverá ser sabatinado pelos senadores no dia 29 deste mês. Entre os petistas, há o temor de que o senador Renan Calheiros, presidente da Casa, crie dificuldades ou constrangimentos, uma vez que ele teria ficado insatisfeito com a indicação de Henrique Eduardo Alves para o Ministério do Turismo, no lugar de um aliado seu.

FHC disse ainda que a liberdade de imprensa, que é a vida da democracia, é um dos principais instrumentos que o País tem. E ele não acredita que isso será alterado. "Não vão colocar nunca uma rolha na imprensa, isso é conversa."

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