Na briga por cargos e poder na administração do presidente Lula, até o
 ministro Guido Mantega (Fazenda) foi alvo de um dossiê apócrifo que o 
próprio governo identifica como elaborado pela ala do partido egressa do
 sindicalismo bancário. 
O material, obtido pela Folha, traz acusações de tráfico de 
influência no Banco do Brasil contra a filha de Mantega, a modelo 
Marina. No final de abril, o papel foi enviado para a presidência do BB,
 para o gabinete de Mantega e para a Casa Civil.
O objetivo era forçar o ministro a desistir de nomear o vice-presidente 
do BB Paulo Caffarelli para a presidência da Previ (fundo de pensão dos 
funcionários do banco), um colosso de R$ 150 bilhões de patrimônio. 
Caffarelli acabou preterido por ordem do Planalto, mas os bancários 
também saíram enfraquecidos. O nome por eles defendido para assumir a 
presidência da Previ, Joílson Ferreira, não foi escolhido. 
Além disso, os dois principais expoentes do grupo, o ex-presidente do PT
 Ricardo Berzoini e o ex-presidente da Previ Sérgio Rosa, perderam 
espaço no governo e foram alijados da campanha de Dilma Rousseff à 
Presidência. 
ENCONTROS
O papel traz dados inverídicos. Diz, por exemplo, que Caffarelli 
autorizou, quando esteve na Previ (foi gerente de investimentos 
imobiliários entre 1999 e 2000), aplicações em títulos e ações 
desastrosas para o fundo. Sua área, porém, não tinha relação com renda 
variável. 
Mas o documento relata também que Marina esteve com Caffarelli para 
encaminhar pleitos por diversas vezes na sede do BB em São Paulo. 
Segundo Caffarelli, os encontros realmente ocorreram. Marina nega. 
Caffarelli disse à Folha que a recebeu em três ocasiões e contou, de forma genérica, quais foram os pedidos. Mas afirmou que nenhum foi levado adiante. 
Na versão dele, o primeiro pedido foi para a abertura de conta para a 
loja de uma amiga. Na segunda ocasião, ela teria solicitado informações 
sobre uma linha de crédito para exportação de frango. Na terceira, 
queria renegociar dívidas de uma empresa. 
No último caso, segundo a Folha apurou, tratava-se da Gradiente. 
Marina namora um dos sócios da empresa, Ricardo Staub. Mas o banco 
manteve as medidas judiciais contra a empresa. 
Apenas pessoas de dentro da máquina pública saberiam dos encontros de Marina com Caffarelli. 
Nas últimas quatro semanas, a Folha ouviu nove pessoas que fazem 
parte da estrutura do governo. Todas confirmaram que, para o Planalto, a
 cúpula do BB e a Fazenda, partiu dos bancários a produção do dossiê. 
PT
O primeiro se chama Alencar Ferreira, secretário-executivo do Ministério
 do Trabalho na gestão de Berzoini, que comandou a pasta entre 2004 e 
2005. Ele nega quaisquer irregularidades. 
Quando Caffarelli foi alçado a vice-presidente do banco, no final de 
2009, bateu de frente com Ferreira, que na época estava na Companhia de 
Seguros Aliança do Brasil, uma coligada do BB. Caffarelli tirou Ferreira
 da empresa. 
O segundo suspeito, para integrantes do governo, é José Luís Salinas, 
que perdeu o cargo de vice-presidente de tecnologia do BB em junho. 
Salinas testemunhou, segundo executivos do banco ouvidos pela Folha, encontros de Marina com Caffarelli no prédio da Paulista. 
As suspeitas do governo chegaram ao conhecimento dos bancários. Em 
meados de maio, Alencar Ferreira ligou para dois vice-presidentes do BB 
para dizer que nada tinha a ver com o dossiê. 
Sérgio Rosa também quis se desvincular do episódio. No dia 21 de maio, 
pediu para ser recebido por Mantega, que o atendeu, em São Paulo, fora 
da agenda oficial. 
Rosa solicitou a audiência a pretexto de fazer um balanço de sua gestão,
 que se encerraria no dia 31 daquele mês. Mas aproveitou o encontro para
 dizer pessoalmente a Mantega que não teve participação no dossiê. 
Além de não ter conseguido emplacar Joílson como seu sucessor, o 
ex-presidente da Previ também não foi convidado a participar da campanha
 de Dilma, ao contrário do que se cogitava no começo do ano, e não 
recebeu uma oferta de cargo. 
No final do ano passado, havia a especulação em círculos governistas de 
que Rosa poderia ocupar uma diretoria na Vale ou a presidência de alguma
 empresa de grande porte na qual a Previ tivesse participação. 
Mas foi oferecida a ele a presidência da Brasilprev, uma coligada do BB de menor peso. Rosa ainda não disse sim ao convite. 
Berzoini, por sua vez, perdeu no começo de julho os últimos cargos de 
sua indicação na direção do BB. Após a saída de Salinas, seu 
apadrinhado, caíram os diretores José Raya (tecnologia) e Sebastião 
Brandão (logística). Ele também não participa do comando da campanha de 
Dilma, como foi cogitado. 
 Fonte: Leonardo Souza - Folha.com
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