Entrevista do secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi à Veja SP

“Alguns prefeitos foram irresponsáveis ao liberar as praias”, diz secretário de Desenvolvimento Regional
Marco Vinholi inclui nessa avaliação políticos do PSDB, do qual é presidente estadual; segundo ele, se necessário, hospitais de campanha serão reabertos

Vinholi em seu gabinete: eleição só deve ser assunto no ano que vem 
Foto: Alexandre Battibugli/Veja SP

Sérgio Quintella - Veja São Paulo

Diante do desrespeito de muitos prefeitos e de milhares de turistas à fase vermelha da quarentena, que avaliação o senhor faz depois de ver praias lotadas e cidades com comércios abertos em dias proibidos?
Considero essas medidas como inadequadas e de imperícia. A Baixada Santista tem um número muito grande de pessoas acima de 60 anos, portanto do grupo de risco. Desde o início da pandemia nós aumentamos leitos de UTI na região e buscamos sempre ações conjuntas. Mas também precisamos falar de responsabilidades, pois ainda temos um verão pela frente.

Todos os prefeitos que não respeitaram as regras foram irresponsáveis?
Eu não queria generalizar. Digamos que alguns foram irresponsáveis. O (ex-)prefeito de Santos (Paulo Alexandre Barbosa, do PSDB, que deixou o cargo em 31 de dezembro), por exemplo, não concordou com as diretrizes, mas fechou a orla da praia no Ano-Novo, fez fiscalização.

O senhor não quer chamar os prefeitos de seu partido de irresponsáveis?
Não é isso. O ex-prefeito de Praia Grande (Alberto Mourão, que deixou o cargo no fim do ano) e a atual (Raquel Chini) são do meu partido e foram irresponsáveis (ao permitir as praias lotadas).

Onde a articulação com as cidades falhou? Os prefeitos da Baixada Santista queriam o fechamento das estradas, por exemplo.
Foi uma articulação bem-sucedida em mais de 620 municípios paulistas.

E o que ocorrerá com o restante, já que o diálogo não bastou?
Aqueles que não seguem as regras são ou serão notificados pelo Ministério Público, que é o primeiro a tomar as medidas cabíveis. O MP age de forma rápida. Em Presidente Prudente, por exemplo, o novo prefeito disse que permaneceria na fase amarela. O MP agiu, enviou uma notificação e a cidade logo retornou para a fase vermelha. Assim tem sido ao longo do processo. E também tem o Judiciário, que avalia os casos quando provocados. O nosso comitê executivo, coordenado pelo vice-governador Rodrigo Garcia, fez uma grande reunião nesta semana mobilizando os prefeitos de todo o estado. Muitos estão iniciando o mandato agora e essa parceria será fundamental.

O governo do estado poderá reabrir hospitais de campanha na capital e no interior?
Não faltou nem vai faltar vaga para nenhuma pessoa de São Paulo, seja na enfermaria, seja na UTI. Verificamos constantemente a necessidade de aumento de leitos, inclusive negociando com entidades privadas. Se for necessário, abriremos novamente hospitais de campanha.

Como vai ser a logística para a distribuição da vacina, em todas as regiões do estado, quando a Anvisa aprovar a Coronavac?
O plano estadual vem sendo trabalhado ao longo dos últimos meses. Teremos uma logística separada por regiões, de forma muito precisa. Serão mais de 5 000 pontos de vacinação. Os prefeitos terão papel fundamental nesse processo.

Caso a vacina seja disponibilizada primeiro em São Paulo, não no resto do Brasil, o governo trabalha com a possibilidade de um “turismo da vacina”, sobretudo de pessoas que moram nos estados que fazem divisa com o território paulista?
Estabelecemos um montante de vacinas para o estado e desde o início firmamos compromissos por meio do Instituto Butantan para atender a outros estados. A regra de São Paulo é a do SUS: ela atende a população residente naquela localidade.


“Para a distribuição da vacina, teremos uma logística separada por regiões. Serão mais de 5 000 pontos de vacinação”

O PSDB, que governa o estado há duas décadas e meia, pode mesmo abrir mão de uma candidatura própria em São Paulo, no ano que vem, para angariar um maior apoio ao nome de João Doria na corrida ao Planalto? Fala-se em a legenda apoiar o atual vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) para a sucessão do Palácio dos Bandeirantes.
Seguimos a máxima de que sempre discutimos eleição em anos pares. Em ano ímpar, o PSDB tem como preocupação se reaproximar da sociedade civil e aumentar a parcela de mulheres e negros na administração.

Mas, em caso de candidatura própria no estado, quais nomes do PSDB seriam competitivos?
Hoje temos importantes quadros, a começar pelo governador, que tem tudo para ser nosso candidato a presidente. Outros nomes importantes: Orlando Morando (prefeito de São Bernardo do Campo), Duarte Nogueira (Ribeirão Preto), Rubens Furlan (Barueri) e Bruno Covas, entre outros.

O prefeito Bruno Covas prometeu não sair candidato no ano que vem. O senhor acha que ele descumprirá a promessa de ficar os quatro anos na prefeitura e seguirá os passos de João Doria e José Serra?
Citei o Bruno, mas fora do contexto de candidatura. Eleições de 2022 vamos discutir em 2022. Falei dos quadros de destaque, e o Bruno tem esse destaque.

A senadora Mara Gabrilli expôs opiniões que evidenciam uma divisão no PSDB, ao falar do corte de recursos para ciência no orçamento. Ela, inclusive, lançou outros nomes à candidatura ao Planalto, deixando claro que o nome do governador João Doria deverá passar por obstáculos internos para ser viabilizado nacionalmente.
A Mara errou feio, a partir de uma questão pontual sobre o orçamento da Fapesp, que o governador garantiu no orçamento no dia 30 de dezembro. Ele foi o grande vitorioso nas eleições de 2020, renovando o PSDB, com resultados históricos. Doria é o maior líder do partido e o principal caminho do centro democrático para conduzir o desenvolvimento do Brasil.

Por falar em erro, a viagem do governador para Miami em meio ao retorno da fase vermelha pegou muito mal. Foi um erro ele ter viajado?
O governador, naquele momento, tirou uns dias de folga com sua família, mas, com o Rodrigo Garcia contraindo Covid-19, ele viu a necessidade urgente de voltar. Retornou rapidamente e se colocou à disposição da população de São Paulo. Não quero entrar em aspectos de questões que considero pessoais do governador.

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