Entrevista do prefeito Bruno Covas ao Agora


Serviço funerário é o pior da prefeitura, diz Bruno Covas

Fábio Haddad e Hanuska Bertoia - Agora

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), durante a entrevista exclusiva ao Agora, em seu gabinete, na região central da cidade 
Foto: Otávio Valle/Folhapress

O prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou em entrevista exclusiva ao Agora que considera os cemitérios municipais o pior serviço prestado pela prefeitura. “A prefeitura não dá conta desse tipo de serviço”, disse.

Para Covas, a única solução é a concessão do Serviço Funerário Municipal. O prefeito também falou sobre as falhas na zeladoria, a falta de médicos nos postos de saúde e sua relação com o governador João Doria (PSDB). Leia os principais trechos.


A prefeitura alterou as regras do vale-transporte pelo Bilhete Único, reduzindo o número de viagens, de três para duas. Quem vive em regiões distantes está preocupado em ter de pagar uma terceira passagem. A prefeitura afirma que os empresários têm de arcar com a tarifa a mais. Em um cenário de crise e desemprego, o trabalhador tem como pedir isso ao patrão?
É como se as empresas decidissem não pagar mais o 13º por conta do nível de desemprego. É uma obrigação prevista na legislação trabalhista. Não tem sentido a prefeitura continuar subsidiando uma obrigação do patrão. Essa conta não fecha. Eram R$ 412 milhões por ano para subsidiar uma obrigação das empresas. Acredito muito que elas vão ter consciência que precisam respeitar a legislação.

A licitação dos ônibus prevê o aumento do número de baldeações. Como garantir que os passageiros que moram mais longe não vão perder mais tempo?
A quantidade de baldeações aumenta exatamente para dar mais agilidade ao sistema. Teremos as linhas regionais, as que vão ligar as regiões e as dos grandes corredores. O sistema está sendo redesenhado para que ele possa ter linhas menores, circulares, passando mais vezes dentro do mesmo ponto, exatamente para diminuir o tempo médio. A expectativa é aumentar o número médio de baldeações e reduzir o tempo médio de casa ao trabalho.

Sempre se disse que, para esses sistemas funcionarem, era necessário, por exemplo, haver corredor de ônibus, o que a cidade parou de fazer ou tem feito muito pouco. Como garantir que esse sistema esteja azeitado sem ter uma infraestrutura adequada?
Estamos falando de 15 mil ônibus. A mudança não se faz da noite para o dia. Tanto que são inúmeros lotes, o processo está terminando. E agora as mudanças da linha vão ser feitas gradativamente.

O senhor anunciou que o Minhocão será transformado em parque em várias etapas. Já há uma data?
Não, ainda não tem uma data, exatamente porque o estudo que a CET tinha era da desutilização de todo o Minhocão. Decidimos que apenas parte dele, que é a que começa na praça da República e vai até o largo Santa Cecília, vai ser transformado em parque. O restante vai continuar sendo utilizado como viário. A CET está adaptando o estudo para esse primeiro trecho, para avaliarmos onde serão as interferências, para minimizar o impacto no trânsito. A ideia é inaugurar o primeiro trecho até o final de 2020.

Os pedidos de tapa-buraco aumentaram na atual gestão. Cresceram também as reclamações por serviços malfeitos: 122% em 2018, em relação ao ano anterior. Onde a prefeitura está falhando?
Em janeiro de 2017, nós tínhamos 567 mil solicitações em geral não atendidas no serviço 156. Em janeiro deste ano, conseguimos baixar para 212 mil pedidos. Tenho certeza que a zeladoria, que ainda não está do nível que gostaríamos, vai estar muito melhor até o final da gestão. Ficamos anos e anos com contrato emergencial de varrição na cidade. Só agora estamos concluindo esta licitação.

Nossos leitores também se preocupam com a situação dos cemitérios da cidade. O Agora mostrou em várias reportagens a situação de abandono, falta de segurança, mato alto, túmulos quebrados...
Na minha avaliação, o Serviço Funerário é o pior serviço prestado pela Prefeitura de São Paulo. Espero que a Câmara possa nos autorizar a avançar na desestatização do Serviço Funerário. A prefeitura não dá conta de todos esses cemitérios, não dá conta desse tipo de serviço. A reclamação é generalizada: classe A, B, C, D, E, em todos os cantos da cidade. Esse é um problema antigo, enraizado, que não tem como melhorar se o serviço continuar sendo prestado pelo poder público.

Por quê?
Porque a história demonstrou. Por inúmeras razões, desde a amarração na legislação até dificuldades salariais para trazer gente do mercado. Há uma dificuldade muito grande para melhorar esse serviço.

O que dizer para o munícipe que frequenta os cemitérios enquanto a concessão não sai?
Que mande reclamação porque, volta e meia, inclusive por meio de reportagens que saem pela imprensa, conseguimos afastar maus funcionários, tomar as medidas cabíveis. Continuem a mandar essas reclamações. Esperamos que, com a privatização, o serviço melhore efetivamente.

Outro problema é a falta de médicos na rede municipal. Como resolver?
Com fiscalização. Porque temos 13 mil médicos contratados pela Prefeitura de São Paulo trabalhando seja pelas OSs ou concursados. Quando olhamos os números, parece que a saúde do município é excepcional, maravilhosa, mas, quando visitamos lá na ponta uma UBS, a reclamação é generalizada. Então, a solicitação para o secretário de Saúde é ampliar a fiscalização, aumentar o controle.

O que pode acontecer então é um posto, por exemplo, ter um médico em seus quadros, mas o profissional não vai trabalhar?
Exatamente. Sempre que tiver uma reclamação de ausência de médico, tenho certeza de que no contrato está lá que tem um médico.

Em janeiro, o senhor disse que tinha uma esperança de que o presidente Jair Bolsonaro, em quem declaradamente não votou, avançasse nas reformas estruturais. Qual a sua avaliação do governo?
O presidente apresentou a reforma da Previdência, o que já é uma melhora em relação a janeiro. A expectativa é que o Brasil cresça muito com a aprovação desta reforma. E estamos pagando aqui, na Prefeitura de São Paulo, esse preço da exclusão. O desemprego, o aumento do número de pessoas morando na rua, de pessoas pedindo cesta básica, enfim, de pessoas buscando a rede pública porque perderam o convênio privado. Com o Brasil voltando a crescer, os municípios são ajudados de forma indireta. Porque a conta da exclusão quem paga são os prefeitos. Portanto, tenho expectativa e vou solicitar a todos os deputados com quem tenho contato que votem a favor da reforma.

O senhor acha que esse seu posicionamento, de não ter votado no Bolsonaro e outras questões, o afastou do ex-prefeito e atual governador João Doria?
Não, acho que não. Ele respeita minhas posições como respeito as dele.

Mas são opostas sob vários aspectos?
Acho que, no principal, somos a favor: a questão da desestatização, a questão dos investimentos na área social...

Como classifica sua relação com Doria hoje?
Excelente.

Mantêm contato diário?
Diário, mais por WhatsApp. Até porque agora ele trabalha lá no Palácio dos Bandeirantes. Mas tendo qualquer problema, entramos em contato.

E essas informações que foram veiculadas de uma ruptura entre vocês?
Se pegarmos os jornais de 1980 para cá, sempre tem esse tipo de fofoca. Não tem nenhum problema.

É fofoca?
Total.

Na semana passada, o senhor ficou no centro de uma polêmica por causa da viagem quando um temporal atingiu a capital. O senhor ficou 38 dias afastado da prefeitura, incluindo períodos de viagem oficial. Esses afastamentos foram necessários?
Qualquer trabalhador tem um mês de férias por ano. Prefeito não tem. Então, sempre que precisa descansar um, dois, três dias, precisa tirar uma licença não remunerada e publica isso. Fazemos tudo às claras. Não chega nem a um mês por ano. No período de prefeito, 15 dias. O que não tinha como era adivinhar essa quantidade imensa de chuvas. Choveu em dezembro, choveu em janeiro, choveu em fevereiro e as nossas equipes deram resposta.

Falamos de vários problemas que o cidadão enfrenta. Ao final de 2020, quais o senhor entende que têm de estar resolvidos?
Tem de estar resolvido o novo sistema de ônibus. É um processo que vem ainda da gestão anterior. Espero que esteja concluída uma das grandes metas que é a criação de 85 mil vagas em creches. Quando assumimos, a fila era de 65 mil crianças. Agora, em janeiro desse ano, eram 20 mil. Criamos 50 mil vagas e diminuímos 45 mil o número na fila. Faltam criar agora 35 mil vagas para tentar eliminar essas 20 mil. Há ainda os parques, Minhocão e Augusta, duas reivindicações do centro. Temos uma série de ações que vamos concluir, como o programa de desestatização.

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