PF indicia executivo da ‘gráfica do PT’


Paulo Roberto Salvador, da Atitude, foi enquadrado por lavagem de dinheiro ao supostamente receber valores destinados ao partido por empresário delator da Lava Jato a pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto

Julia Affonso e Fausto Macedo

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A Polícia Federal, na Operação Lava Jato, indiciou por lavagem de dinheiro o bancário Paulo Roberto Salvador, coordenador da Editora Gráfica Atitude, ligada ao PT. Os investigadores suspeitam que a gráfica foi usada para captar propinas do esquema de corrupção na Petrobrás para o partido.

“Proceda-se indiciamento de Paulo Roberto Salvador pelo crime de lavagem de capitais previsto no artigo 1.º da Lei n° 9.613/1998, tendo como crime antecedente os crimes de corrupção em detrimento da Petrobrás investigados no âmbito da Operação Lava Jato. O indiciado deverá ser qualificado, pregressado”, decidiu o delegado Ivan Ziolkowski em relatório de 20 de julho.



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Salvador foi investigado em um inquérito sobre pagamentos supostamente fraudulentos à Editora Gráfica Atitude entre 2010 e 2013. O Ministério Público Federal aponta que parte da propina paga ao ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça – delator da Lava Jato -, para a Atitude, a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

Em depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, em 17 de maio, Salvador relatou que Augusto Ribeiro demandou reportagens ‘para incentivo do setor petrolífero e a indústria nacional ao custo de R$ 100 mil’ durante 12 meses. Segundo o bancário, ‘se tratava de um modelo de publicidade chamado jornalismo patrocinado o qual são publicadas matérias com viés jornalístico em forma de notícia mas com intenção de projetar um produto ou marca’.


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Para a PF, ‘chama atenção, no entanto, que as empresas de Augusto Ribeiro foram as únicas que contrataram esse tipo de jornalismo patrocinado durante toda existência da Editora Atitude’.

“Em cotejo com os contratantes de publicidade convencional, ou seja, uma página de publicidade com marca do anunciante, verifica-se que uma inserção publicitária na Revista do Brasil, ou seja, um anúncio direto de página inteira impressa sobre determinada marca, segundo informado pelos contratados, teve custo variando entre R$ 16 mil e R$ 19 mil, em 2009 e 2010”, afirmou o delegado PF.

“Estranho, no entanto, que as empresas Sog Óleo e Gás e a Setec Tecnologia concordassem em contratar por R$ 100 mil matéria em jornalismo patrocinado sem qualquer menção direta às empresas, somente reportagem que supostamente incentivasse nacionalização da indústria petrolífera/naval. Ainda que tivesse havido esta contrapartida.”

Relatório. O documento que indiciou Paulo Roberto Salvador concluiu que não houve publicação de matérias de ‘conteúdo noticioso opinativo sobre temas relacionados com desenvolvimento e proteção da indústria nacional no Brasil, no tocante área de extração de petróleo na conversão em seus derivados’.

“As matérias apresentadas pela Editora Gráfica Atitude como contraprestação contratual não guardam nenhuma relação com objeto contratado, sequer pode se inferir tratar-se de incentivo indústria nacional ou de exploração do petróleo. Foram apresentadas somente matérias impressas quando os objetos contratuais exigiam 24 matérias impressas na revista do Brasil”, anota o delegado.

Para a PF, ‘facilmente verifica-se que diretriz editorial da publicação sempre teve mesmo viés sindical, seja durante vigência do contrato ou não’. O delegado afirma que inexistiu ‘notória inserção publicitária em favor das contratantes’.

“No período não abarcado pelos contratos, não houve alteração editorial nas reportagens, denotando que as diretrizes não se alteraram pela existência da vigência contratual, ou seja, tipo de reportagem apresentada pela empresa como “jornalismo patrocinado” já constituía linha editorial independentemente de contrato”, afirmou Ivan Ziolkowski.

“Somente as empresas contratantes firmaram acordo com Editora Atitude nessa modalidade de “jornalismo patrocinado”, nem antes, nem durante, nem depois do contrato, qualquer empresa se interessou por esse serviço prestado pela editora. A publicidade da revista restringia-se em sua imensa maioria divulgação de empresas públicas ou de economia mista.”

Denúncia. A Gráfica Atitude havia sido citada em uma acusação formal do Ministério Público Federal em 2015. Segundo a denúncia, parte da propina paga ao ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para a Editora Gráfica Atitude Ltda., a pedido de João Vaccari Neto.

São réus nesta ação, além de Renato Duque, o ex-tesoureiro do PT e o empresário e delator Augusto Ribeiro.

Os repasses, segundo a força-tarefa da Lava Jato, ocorreram por meio de dois contratos de fachada firmados por empresas do Grupo Setal com a Gráfica Atitude Ltda., em 1 de abril de 2010 e em 1 de julho de 2013.

Para os procuradores, a gráfica ‘jamais’ prestou serviços reais às empresas do grupo Setal, emitindo notas frias para justificar os pagamentos.

O Ministério Público Federal quer a restituição de R$ 2,4 milhões, além de pagamento, a título de indenização, de mais R$ 4,8 milhões.


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