PSDB não precisa de plano B, diz prefeito próximo a Alckmin



IGOR GIELOW - FOLHA.COM

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O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) e o governador Geraldo Alckmin

O PSDB não precisa de um plano B, o prefeito João Doria fará melhor ao país se ficar quatro anos no cargo para que foi eleito e o candidato tucano a presidente em 2018 deve ser o governador Geraldo Alckmin (SP). A sentença resume o pensamento de um dos porta-vozes do grupo de Alckmin, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

Aos 38 anos, ele é o principal expoente da "ala jovem", ou "cabeça preta", em contraposição ao grisalho dos partidários mais velhos, do PSDB de São Paulo.

Está na linha de frente de um movimento de prefeitos que busca agora nacionalizar-se, dando capilaridade à ideia de que Alckmin é viável como candidato e tem a máquina a seu favor. Estão no time os prefeitos de São Bernardo do Campo, Ribeirão Preto, Santo André, São José dos Campos, Jundiaí e outros.

Sua fala é um manifesto dessa ala. Alckmin foi acusado por delatores na Operação Lava Jato de ter recebido R$ 10,7 milhões pelo caixa dois em 2010 e 2014, o que nega. "Ele terá sua idoneidade provada", diz Barbosa, reeleito em 2016 e que ostenta altos índices de popularidade segundo pesquisas locais.

No vácuo de lideranças do PSDB, já que o senador Aécio Neves (MG) foi atingido ainda mais duramente que Alckmin pelas denúncias, emerge o nome do prefeito paulistano. Doria, cria de Alckmin, tem se estranhado com o criador ao divergir sobre temas como a concessão de vias em São Paulo.

Barbosa dá a senha do grupo alckimista, dizendo que Doria precisa mostrar serviço, e fazer isso na prefeitura em quatro anos, para daí alçar "voo muito maior na política nacional".

Resta combinar com os russos: Doria tem intenções de voto superiores à do governador na mais recente pesquisa Datafolha (11% contra 8%, nos melhores cenários), e rejeição inferior (16% versus 28%).

Vestindo jeans e camisa social, Barbosa falou à Folha na manhã da sexta (12) em seu gabinete no Palácio José Bonifácio (1939), sede da prefeitura da principal cidade litorânea de São Paulo.


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Folha - Como o sr. avalia o impacto da Lava Jato no PSDB?
Paulo Alexandre Barbosa - Acho que a Lava Jato tem uma importância fundamental para a história do país. Ao final do processo, respeitando o direito de defesa, teremos a oportunidade de separar o joio do trigo.

Eu acredito que a reputação é algo que você constrói dentro de uma trajetória. O Geraldo Alckmin, por exemplo, é uma pessoa correta ao longo dos seus 40 anos de vida pública. Um homem honesto, de vida modesta, não tenho dúvida: ele jamais cometeu um deslize ético. Ele terá sua idoneidade comprovada, sua reputação ética vai ficar reforçada.

Mas o tempo da política não é o mesmo tempo da Justiça, pensando em 2018.

Uma denúncia de delatores que cometeram atos criminosos não pode destruir a reputação de quem tem uma carreira. E a sociedade irá julgar isso no momento correto, na hora da eleição.

O sr. acha que o PSDB fecharia com Alckmin candidato ?
O Brasil hoje vive o reflexo de políticas populistas, irresponsabilidade fiscal, e estamos pagando o preço por tudo isso. Tudo o que o Brasil precisa é de estabilidade, austeridade, o caminho que São Paulo vem percorrendo há muitos anos. Chegou a hora de o Brasil provar o que São Paulo provou e aprovou. O Brasil precisa experimentar esse caminho de estabilidade.

Não é à toa que São Paulo tenha a posição de destaque que tem na gestão fiscal. Isso começou com [o governador tucano] Mário Covas e é conduzido pelo Geraldo. Ninguém é escolhido quatro vezes governador do maior Estado do país, tendo em vista a seletividade de sua população, se não tiver todos esse predicados. A Presidência não é um desejo pessoal, não é vontade própria, é uma construção. E o Geraldo se preparou ao longo de sua vida para essa função. Não tenho dúvida de que no tempo certo ele será o candidato do PSDB.

Como o sr. avalia o movimento em torno do nome do prefeito João Doria?
O Doria teve uma eleição extraordinária, com apoio incondicional do governador. Até pela eleição que teve, criou uma enorme expectativa. Acho que durante esses quatro anos ele vai retribuir essa expectativa, não tenho dúvida de que ele será o melhor prefeito da história de São Paulo.

Melhor que a eleição dele, só uma boa gestão de quatro anos. E Doria é correto, tem falado de sua lealdade ao governador o tempo todo, ele faz parte de um grupo. Não há por que duvidar do Doria. Eu acho que a melhor contribuição que ele tem a dar para um projeto de país é ser o melhor prefeito da cidade mais importante do Brasil.

Se Doria estiver mais bem colocado ao fim do ano, numa posição mais confortável do que outros pré-candidatos, o partido poderia apoiá-lo?
Pesquisa é fotografia do momento. A própria experiência do Doria reflete isso. O que constrói uma candidatura são vários fatores: a questão da trajetória, do preparo. O PSDB não precisa de um plano B. O partido tem a clareza de que a melhor opção para o Brasil é o Geraldo, que se preparou para isso. O arco de alianças é importante.

Falando nas alianças, como fica o PSB? Todas as especulações estaduais no PSDB só levam em conta nomes tucanos, o que leva ao sentimento no PSB de que ele está excluído dos planos. Como o sr. vê isso?
O PSB é um aliado estratégico. O [vice] Márcio França é um aliado leal do governador, um parceiro importante. Vamos trabalhar para que a aliança possa se manter, ser preservada nas eleições de 2018. O momento certo para decisões é o ano que vem.

França pode então ser candidato a governador?
O mais importante é manter a aliança. A discussão de nomes é secundária.

O programa de TV do PSDB defendeu uma nova política, mas por outro lado há a necessidade de fazer a defesa de nomes mais tradicionais. Não há uma tensão nessa dicotomia?
O que a população espera, em função de tudo o que aconteceu, são novas práticas. Fazer diferente. Para isso, é preciso ter pessoas com princípios, valores, não necessariamente ligadas a uma cronologia, uma idade.

No fim, a população vai escolher quem está mais preparado para implantar valores e novos princípios.

O sr. está no centro de uma movimentação de prefeitos tucanos para definir uma linha de atuação para 2018. O sr. pode elaborar sobre isso?
O [governador Franco] Montoro dizia que o cidadão não vive na União, no Estado, e sim no município. A política começa na cidade, ela deve ser a base para a transformação do país. Estamos então dialogando para construir um projeto nacional com referência no trabalho do Geraldo. O PSDB está maduro.

O sr. fala em novas práticas. O PSDB está envolvido com denúncias de caixa dois e corrupção, e adotou um discurso de mea culpa. O sr. concorda?
Não se deve ter compromisso com o erro. É importante fazer os ajustes, as correções, e seguir em frente.

Como a experiência em São Paulo pode ser vendida nacionalmente?
Eleição é expectativa, e agora temos a cobrança da população por melhora na saúde, na educação, na mobilidade. A grande referência desse sucesso eleitoral de 2016 é a cidade de São Paulo. Por isso é tão importante para todos nós, prefeitos, o trabalho que o Doria vai fazer nesses próximos quatro anos. Vai ser uma referência para o país, e vai credenciá-lo para um plano de voo muito maior na política nacional depois desses quatro anos.

Até aqui houve citações, como no caso de Alckmin e do [João Paulo] Papa [antecessor de Barbosa], mas vocês estão preparados para quando a onda de novas delações, pelo que se sabe, atingir o Estado?
A tranquilidade é total. Eu ponho a mão no fogo pelo governador. Qualquer tipo de questionamento que surgir será respondido com toda a transparência. Não há o que temer. Vamos dar todo o apoio a ele, confiamos na sua trajetória, no exemplo de de vida que ele traz.

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