‘Sim, nós podemos’, Obama fala em esperança em seu discurso de despedida


Presidente diz deixar país melhor e dá alfinetadas em Trump, pedindo respeito à democracia

HENRIQUE GOMES BATISTA - O GLOBO

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O último discurso de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, na noite de terça-feira, em Chicago, foi marcado pela emoção. Mais que tratar de seu legado nestes oito anos, o presidente usou palavras de esperança. O tom otimista contrastava com o temor do público, que teme retrocessos nas políticas de Obama no governo de Donald Trump, que assume a Casa Branca em nove dias. Obama definiu dois pontos principais pelos quais os americanos precisam lutar, em sua opinião: o fim da desigualdade econômica e dos conflitos raciais.

— Todos os dias eu aprendi com vocês. Vocês me fizeram um presidente melhor e me fizeram um homem melhor — disse Obama, recebido de forma efusiva pelo público, que gritava “Mais quatro anos”. — Sim, nosso progresso tem sido desigual. O trabalho da democracia sempre é duro, conflituoso e, às vezes, sangrento. Para cada dois passos para frente, muitas vezes parece que damos um passo para trás. Mas no longo prazo, os EUA têm se movido para a frente.

Ele afirmou que o país está muito melhor que há oito anos e que o seu discurso seria sobre a democracia. Quando disse que em dez dias ia transferir o governo, houve vaias, mas ele disse que ia fazer a transferência do poder, uma das maravilhas dos EUA, em sua opinião, pois isso seria melhor para o país:

— Continuamos a ser a nação mais rica, mais poderosa e mais respeitada da Terra — afirmou Obama, que fez uma indireta crítica a Trump: — Mas esse potencial só será realizado se a nossa democracia funcionar. Só se a nossa política refletir a decência do nosso povo. Somente se todos nós, independentemente de nossa filiação partidária ou interesse particular, ajudar a restaurar o sentido de propósito comum de que tanto precisamos agora.


DEFESA DE IMIGRANTES

Obama, após falar dos desafios econômicos e raciais que ainda existem no país, voltou a defender a educação como chave para o progresso. Citando a necessidade de integrar os imigrantes, ele deu outra estocada em Trump, que se elegeu com a bandeira da segregação:

— Se nos recusarmos a investir nos filhos dos imigrantes, só porque eles não se parecem conosco, diminuímos as perspectivas de nossos próprios filhos. No ano passado, as rendas aumentaram para todas as raças, todas as faixas etárias, para homens e mulheres.

Obama afirmou que o radicalismo também é uma ameaça à democracia americana, e colocou as mudanças climáticas como um risco para todo o planeta que precisa ser enfrentado. Ele enalteceu o trabalho dos militares e a luta contra o terrorismo. E conclamou a população a se engajar na vida política:

— Em última análise, é isso que nossa democracia exige. Ele precisa de vocês. Não apenas quando há eleição, não apenas quando seu próprio interesse estreito está em jogo, mas durante todo o período de uma vida. Se estão cansados de discutir com estranhos na internet, tentem conversar com um na vida real.

Afirmando que ainda acredita no sonho americano, Obama citou Deus, dizendo todos têm o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.

— É por isso que deixo esta fase hoje à noite ainda mais otimista sobre este país do que eu era quando começamos. Porque eu sei que nosso trabalho não só ajudou tantos americanos; inspirou tantos americanos — disse Obama, que chegou a chorar discretamente, e completou: — Meus compatriotas americanos, foi a honra da minha vida servi-los. Eu não vou parar. Na verdade, eu estarei ali com vocês, como um cidadão, por todos os meus dias que restarem.

Pedindo aos jovens que continuem acreditando, terminou seu discurso de forma épica:

— Sim, nós podemos. Sim, nós fizemos. Sim, nós podemos — disse Obama, que terminou ovacionado.


FUNDAÇÃO SERÁ BASE POLÍTICA

O evento, aberto com uma apresentação de Eddie Vedder (Pearl Jam) com um coral e repleto de celebridades, agradou ao público. Shand Scott, professora, queria justamente palavras de otimismo de Obama:

— Há muita desesperança com o futuro presidente, mas temos que lembrar que juntos somos capazes de impedir que não seja tão ruim como a gente imagina.

As diversas citações que fez a Chicago reforçam o laço entre o presidente e a cidade onde fez sua carreira. “Oito anos foram apenas o começo”. Com essa frase, Barack Obama abre o site de sua fundação, que está coordenando os trabalhos para a futura biblioteca e centro de estudos dele. Baseada em Chicago, a instituição será a base política do presidente, que quer manter sua influência. Pode ser, inclusive, o embrião para uma eventual carreira política da primeira-dama, Michelle.


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