Entrevista com o prefeito de São Paulo João Doria


O 62º prefeito de SP quer mobilizar o setor privado para cumprir metas e pede ‘voto de confiança’ em seu governo

Adriana Ferraz, Ana Carolina Sacoman - O Estado de S.Paulo

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O tucano João Doria troca hoje a luxuosa vizinhança de seu escritório na Avenida Faria Lima pelo caos de ambulantes e moradores de rua do Viaduto do Chá, no centro da cidade que o elegeu prefeito em primeiro turno, com 3.085.187 votos.

Em entrevista ao Estado, ele promete que São Paulo terá “direção, sem essa coisa de faz o que quer, na hora que quer”, uma alfinetada no seu antecessor, Fernando Haddad (PT). O empresário de 59 anos vai usar sua influência no setor privado para tentar tocar as promessas mais espinhosas de campanha e diz que cobrará de Michel Temer o dinheiro prometido e não repassado à cidade por uma Dilma Rousseff “desleal com São Paulo”.

Ele ainda criticou os vereadores por aprovarem aumento de 26,3% nos próprios salários, atualmente suspenso pela Justiça, e disse que tem planos para quatro anos, mas não nega ser um eventual nome forte para o governo do Estado em 2018, em substituição a seu padrinho político, Geraldo Alckmin (PSDB). A seguir, os principais trechos da entrevista:


O senhor vai varrer as ruas da cidade (como ação inicial do projeto de zeladoria Cidade Linda) e muitas pessoas já o estão comparando com o ex-prefeito Jânio Quadros (1986-1989) e sua vassourinha. Como responde a isso? É uma medida populista?
Agradeço, mas declino. Não tenho nenhuma proximidade vocacional com o Jânio e muito menos com o populismo. O gesto é de humildade. E para mostrar que todos somos iguais.

Vai se sentir culpado se houver um atropelamento na Marginal do Tietê em função do aumento das velocidades após 19 meses sem ocorrências desse tipo?
Não respondo sob hipótese.

Já sabe como vai fazer para congelar a tarifa do ônibus? 
Vou congelar congelando.

Com quais recursos? 
Vamos buscar combater as fraudes na utilização do bilhete único. E vamos reavaliar alguns procedimentos. Não faz sentido que pessoas que podem pagar não paguem.

Essa é a promessa mais difícil de ser cumprida ou é zerar a fila da creche em um ano?
Todas as promessas são difíceis. Se fossem fáceis, o prefeito Haddad já tinha feito.

Essa meta da creche não é ousada demais? Criar 133 mil vagas em um ano?
A fila vai fechar o ano em cerca de 70 mil. A Prefeitura tinha muitas creches para serem inauguradas e conveniadas. Eles (a atual gestão) acertaram a mão de um ano e meio para cá, quando optaram pelos convênios. Vamos continuar.

Sobre a qualidade da Educação, o que pretende fazer? Vai oferecer à iniciativa privada a adoção de escolas, por exemplo?
Sim, vamos fazer isso, com ONGs ou contribuições diretas. Vamos fortalecer os (Centros Educacionais Unificados) CEUs também, que passarão a ser chamados de CEUs 21, porque vão entrar no século 21, com tecnologia e Wi-Fi. E estamos elaborando um plano de capacitação dos professores.

Sobre o Corujão da Saúde, que visa a zerar a fila de exames, como pretende começar esse programa no dia 10, já com hospitais particulares, sem seguir os procedimentos regulares, como lançamento de licitação?
Os procedimentos serão os regulares e dentro do orçamento da Prefeitura. Mas vamos negociar isso diretamente com a associação dos hospitais, não vamos fazer negociação individualizada, que demora muito. A priori, serão 50 hospitais particulares e mais dez estaduais. Vai sair mais barato que na rede municipal.

Vai tirar os grafites da Avenida 23 de Maio?
Vamos avaliar. Na Avenida 9 de Julho vamos tirar todas as pichações e orientar os grafiteiros que suspendam as ações.

Gosta de grafite?
Quando é bem-feito, sim. Não gosto é da pichação.

Isso não é uma provocação aos pichadores?
Eles terão oportunidade. Mas essa cidade vai ter direção. Essa coisa da leniência, faz o que quer, a hora que quer, acabou.

Hoje é assim?
Não estou dizendo com isso que com Fernando Haddad é assim, mas comigo não será.

O (Programa) Braços Abertos na Cracolândia vai acabar?
O Braços Abertos vai acabar, não há recuo em relação a isso, mas de forma gradual. O que vamos fazer mais rapidamente é eliminar a renda (R$ 15 por dia, pagos pela Prefeitura a dependentes que trabalham), que é transferida para a compra da pedra de crack.

A Cracolândia terá mais policiamento?
Gradualmente. Na medida em que a gente vai fazendo a internação, a tendência da Cracolândia é acabar. Depois, é requalificar a área, destinar para empreendimentos imobiliários.

Pensa em reativar o (projeto urbanístico da) Nova Luz?
O Nova Luz será ampliado para todo o centro histórico e sob a coordenação do (urbanista e ex-prefeito de Curitiba) Jaime Lerner, que será pago pela iniciativa privada. Queremos requalificar toda aquela área.

O senhor prometeu reformar os albergues com o apoio de empresas. Qual a contrapartida para elas?
O bem. 

Em plena crise econômica?
Sim. Não ofereci contrapartida nenhuma. Se melhorar a cidade, é bom para eles. Todo mundo ganha. Essa é a melhor contrapartida.

Causa estranheza isso ser previsto para um ano que pode ser desastroso ainda do ponto de vista econômico.
Me dê um voto de confiança. Acredite até a página 2. 


O que espera de ajuda federal para São Paulo? O prefeito Fernando Haddad esperou muito do governo da ex-presidente Dilma Rousseff e não foi atendido. Mais de R$ 7 bilhões em convênios assinados do PAC não foram repassados. O senhor vai atrás desse dinheiro?
Vou cobrar. A presidente Dilma não foi correta com o prefeito Fernando Haddad. Ela não tratou com respeito nem a cidade de São Paulo nem um companheiro de seu partido. Não cumpriu acordos, deixou o prefeito Haddad de escanteio. Foi descortês com ele e desrespeitosa com a cidade. Tenho falado com o presidente Temer com alguma frequência e há um claro comprometimento dele de que os compromissos existentes serão cumpridos. E eu confio, entendo que o presidente Temer é um homem de palavra. 

O que achou de os vereadores terem aumentado seus próprios salários?
Entendo que não é o momento, em uma situação tão difícil do País, mas a Câmara tem independência para tomar essa decisão. Mas não tem o nosso apoio. Essa medida é inadequada e inoportuna.

Defende que eles devolvam a diferença?
Nós tomamos a decisão de que não haveria aumento de salários para secretários, para o prefeito e o vice. Vou doar meus 48 salários. Não estou dizendo que os vereadores não têm direito, já que ficaram quatro anos com os salários congelados, mas com 2,2 milhões de desempregados na capital, não é um bom indicador isso.

O senhor falou que vai doar 48 salários, quer dizer que promete ficar os 4 anos na Prefeitura?
Vou, acha que não?

O seu pode ser um nome forte para o Estado em 2018.
Tudo a seu tempo. Agora sou prefeito eleito da cidade, tenho de fazer um plano para quatro anos.

Isso quer dizer que vai fazer um plano para 4 anos ou que vai governar pelos 4 anos? 
Estou afirmando que fui eleito para ser prefeito e serei prefeito por quatro anos.

Mas não nega essa possibilidade, deixa em aberto.
Não deixo em aberto nem fechado.

O senhor defende uma aproximação do seu partido com o governo de Michel Temer?
Defendo. Entendo que a gestão do presidente Temer deve ser pacificadora. Importante que ele continue, dentro daquilo que a legislação permitir, entendo que é uma ponte natural até as eleições de 2018.

Mesmo após o nome do presidente ter sido citado em delações da Lava Jato?
Apure-se o que tiver de ser apurado. Mas é preciso ter estabilidade até as próximas eleições.

O senhor disse que levaria chocolates ao ex-presidente Lula na cadeia. Levaria para políticos do PSDB também, caso venham a se mudar para Curitiba?
Estamos falando de fatos concretos. O presidente Lula é indiciado. Cumpra-se a lei.

O lugar do Lula é na cadeia?
É onde a lei determinar. Não sou eu que faço nem aplico a lei. São os juízes, os promotores públicos. Caberá a eles o destino do presidente Lula. 



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