Prefeita de Ribeirão Preto é presa por suspeita de fraude em contratos


MARCELO TOLEDO - FOLHA.COM

A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), deixa a sede da PF em Ribeirão após ser presa
Joel Silva/Folhapress 


A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), foi presa preventivamente no início da manhã desta sexta-feira (2) pela Polícia Federal, na segunda fase da operação Sevandija, que apura fraudes em contratos de licitações da prefeitura que somam R$ 203 milhões.

A prefeita foi presa em sua casa, no bairro Ribeirânia, por volta das 6h, na etapa intitulada Mamãe Noel. Houve manifestações de motoristas que passavam buzinando em frente à sede da PF em Ribeirão na manhã desta sexta. Por volta das 10h, ela deixou o local para ser encaminhada para a Superintendência da PF na capital paulista.

Os ex-advogados do Sindicato dos Servidores de Ribeirão Maria Zuely Alves Librandi e Sandro Rovani também foram presos preventivamente. O ex-secretário da Administração de Dárcy, Marco Antonio dos Santos, também foi levado à sede da PF na cidade. Ele é suspeito de também receber parte da propina desviada.

Policiais federais estão nas ruas para o cumprimento de mandados de busca e apreensão, segundo a Folha apurou.

O nome de Dárcy aparece ao menos duas vezes nas investigações da Sevandija, deflagrada pela PF e o Ministério Público paulista, em 1º de setembro. A operação apura o que é, até agora, considerado o maior escândalo de corrupção da história da cidade.

Ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) o ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão, Wagner Rodrigues, que foi candidato à Prefeitura de Ribeirão pelo PC do B, disse que a prefeita recebeu R$ 4 milhões em propina.

Antes, Dárcy já tinha sido flagrada em grampos que podem indicar que ela usou a distribuição de cargos no governo, numa triangulação feita com uma empresa, para comprar apoio político de vereadores na Câmara.

A prisão é decorrente de provas obtidas por meio da análise e investigações dos materiais apreendidos e de depoimentos colhidos após a deflagração da primeira fase.

O nome da segunda fase da operação se deve, segundo a PF, às evidências de que a ex-advogada do sindicato Maria Zuely repassou, entre 2013 e 2016, mais de R$ 5 milhões a outros envolvidos, em dinheiro e cheques, desviados da prefeitura.

Segundo a investigação, os indícios são de que a suposta propina paga a Dárcy tinha como finalidade priorizar os pagamentos à advogada Maria Zuely, deixando de pagar em dia coleta de lixo e repasses a hospitais filantrópicos e ao IPM (Instituto de Previdência dos Municipiários), por exemplo.

A origem da suspeita está num acordo judicial que resultou no parcelamento de R$ 800 milhões a serem pagos a servidores da prefeitura devido a perdas decorrentes do Plano Collor. Já foram pagos mais de R$ 300 milhões, além de cerca de R$ 40 milhões em honorários.

Esses honorários são o alvo da investigação. Maria Zuely foi advogada do sindicato na época da celebração do acordo e, em 2009, já com Dárcy na prefeitura, passou a exercer a função de assistente da Secretaria da Casa Civil. Os pagamentos mensais a ela começaram a ser feitos em janeiro de 2013 e, até junho deste ano, chegaram a R$ 37 milhões.

Se os mandados de hoje forem cumpridos, serão 19 as pessoas presas ao longo da operação. Dezesseis delas já foram soltas, após decisões do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

No último final de semana, o empresário Marcelo Plastino, dono da empresa Atmosphera, que é apontada como participante do esquema, foi encontrado morto em seu apartamento, em zona nobre da cidade. A principal hipótese da investigação policial é que ele tenha cometido suicídio.

A advogada Maria Cláudia Seixas, defensora da prefeita de Ribeirão Preto, afirmou, desde o início da operação, que Dárcy nega "com veemência" ter recebido o dinheiro da propina e que ela colabora com as investigações.

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