Os alckmistas estão chegando


Alckmin impôs a candidatura de Doria em São Paulo e se cacifou para virar o candidato presidencial do PSDB em 2018

GUILHERME EVELIN E BRUNO FERRARI - ÉPOCA

(Foto: Lézio Junior )

Natural de Pindamonhagaba, no Vale do Paraíba, o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, tem jeitão interiorano, mas é chegado a alguns orientalismos. Médico anestesista por formação, ele é um fã da medicina tradicional chinesa e se tornou um estudioso da acupuntura. Alckmin gosta também de provérbios orientais. Um ditado japonês virou um de seus mantras – e se juntou a outros bordões tradicionais repetidos em tom monocórdico pelo governador, como “trabalho, trabalho, trabalho” e “o PSDB precisa aprender a amassar o barro”. “A disciplina, cedo ou tarde, vence a inteligência”, passou a recitar Alckmin.

É com muita disciplina que o governador, de hábitos frugais e espartanos, espera realizar o sonho de chegar ao Palácio do Planalto. A surpreendente vitória do empresário João Doria, pelo PSDB, logo no primeiro turno da eleição para prefeito de São Paulo, cacifou o projeto de Alckmin de se impor como o candidato dos tucanos à Presidência da República em 2018, alijando adversários internos que também alimentam pretensões presidenciais como o senador Aécio Neves, de Minas Gerais, e o ministro das Relações Exteriores, José Serra.

A vitória de Doria se deve, em grande parte, a méritos do candidato, mas é também resultado do estilo disciplinado – e disciplinador – com o qual o governador pretende construir sua candidatura ao Palácio do Planalto. Doria virou o candidato do PSDB porque Alckmin decidiu que o candidato dos tucanos à prefeitura de São Paulo tinha de ser um nome alinhado a seu projeto presidencial. A escolha do empresário como o candidato tucano aconteceu quase por gravidade.

Doria não era a primeira opção de Alckmin. O governador é um velho admirador da personalidade laboriosa e perseverante do futuro prefeito paulistano, mas tinha também restrições a seu perfil. Velho defensor da tese de que o PSDB “precisa aprender a amassar o barro” para afastar a pecha de partido elitista, Alckmin temia que o estilo “coxinha” de Doria, com suas malhas de cashmere colocadas sobre os ombros, não agradasse à massa de eleitores. Para o governador, agradava mais a ideia de um candidato com perfil de xerife. O nome da preferência de Alckmin era o de Alexandre de Moraes, o atual ministro da Justiça do governo Michel Temer, que foi seu secretário de Segurança Pública até maio deste ano. Mas Moraes não viabilizou sua candidatura e não se apresentou para disputar as prévias organizadas pelo PSDB.

VITÓRIA
Geraldo Alckmin comemora com João Doria o resultado da eleição em São Paulo. O governador apostou alto e saiu vencedor 
(Foto: Levi Bianco / Brazil Photo Press / Agência O Globo)

No final de 2015, o persistente Doria virou o ungido do governador – os dois outros candidatos nas prévias tucanas, o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli, eram vistos com desconfiança por Alckmin. Tripoli se aproximou de Aécio. Vinculadíssimo a José Serra, Matarazzo enfrentava esse obstáculo para ganhar as bênçãos de Alckmin. A candidatura de Matarazzo pelo PSDB foi riscada, de vez, das cogitações de Alckmin, em setembro de 2015. Num jantar realizado na casa do ex-ministro da Justiça José Gregori, Matarazzo recebeu o apoio público de Serra e de outras lideranças tucanas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Aloysio Nunes Ferreira e o ex-vice-governador Alberto Goldman. Alckmin reclamou que não fora consultado sobre o jantar e que estava sendo emparedado no próprio partido. Cabe aqui lembrar que Alckmin despontou na política paulista como vice-governador de Mário Covas, que liderava outro grupo político dentro do PSDB e alimentava uma rivalidade com os tucanos que se integraram ao governo Fernando Henrique em Brasília. Na campanha das prévias, Alckmin colocou a máquina partidária para trabalhar por Doria e implodir a candidatura de Matarazzo. Matarazzo nem sequer disputou as prévias e saiu do PSDB. Filiou-se ao PSD e disputou a eleição municipal como vice da senadora Marta Suplicy, do PMDB, derrotada por Doria.

Conquistada a prefeitura de São Paulo, o grupo político liderado por Alckmin avalia que ganhou musculatura para dar o próximo passo na construção da candidatura presidencial: a conquista do comando nacional do PSDB, hoje controlado por Aécio. Está prevista para 2017 a renovação da cúpula do partido – e Aécio, pelas regras do estatuto partidário, não poderá permanecer, por mais um mandato, na presidência nacional do PSDB. Alckmin quer que o cargo seja ocupado por um aliado. Ele acha que o posto cabe de direito a São Paulo – pelo peso da seção paulista no partido e por considerar que Aécio deve agora retribuir o apoio que recebeu de Alckmin para ser reconduzido à presidência dos tucanos em 2015 e na campanha presidencial de 2014. No segundo turno contra Dilma Rousseff, Aécio teve, em São Paulo, quase 7 milhões de votos a mais do que a ex-presidente – e acabou perdendo a eleição em Minas Gerais, onde foi suplantado por Dilma em mais de 500 mil votos. Segundo aliados, Alckmin guardou num caderninho as palavras proferidas por Aécio, num evento no Clube Espéria, em São Paulo, a dez dias da realização do segundo turno. “Já o admirava como homem público, cidadão, pai e marido. Mas agora, no momento em que essa campanha caminha para o final, devo dizer, Geraldo Alckmin, que minha admiração por você não tem mais limites”, derramou-se Aécio. Agora, Alckmin pretende cobrar a fatura.

Apesar dos sinais emitidos por Alckmin, Aécio tem se feito de desentendido e passou a falar em um nome “neutro”, como os senadores Tasso Jereissati, do Ceará, e Cássio Cunha Lima, da Paraíba, para substituí-lo na presidência do PSDB. O comando da máquina partidária é considerada crucial por Alckmin, porque, na prática, os partidos funcionam no Brasil como cartórios. Apesar da resistência velada de Aécio, Alckmin tem consideráveis trunfos para fazer valer sua vontade. Ainda que o candidato João Leite, apoiado por Aécio, ganhe a prefeitura de Belo Horizonte no segundo turno contra Alexandre Kalil, do PHS, Alckmin terá, com o governo e a prefeitura de São Paulo sob o controle de seu grupo político, muito mais poder de fogo. “A vitória de Doria empresta ao partido de São Paulo o protagonismo neste novo cenário”, diz Antonio Lavareda, consultor de estratégias eleitorais ligado ao PSDB. “Se os tucanos quiserem fazer uma leitura adequada, terão de conferir a seus representantes paulistas o reconhecimento desse poder.” No cronograma dos aliados de Alckmin, o próximo teste de força se dará na eleição do próximo presidente da Câmara dos Deputados. Na eleição de Rodrigo Maia, do DEM, Aécio fechou um acordo para que um tucano assuma a Câmara a partir de fevereiro de 2017. Segundo aliados, o governador de São Paulo – disciplinadamente, como um samurai – pretende deixar claro que essa negociação vai ter de passar obrigatoriamente, a partir de agora, pelo Palácio dos Bandeirantes.

Comentários

  1. Realmente Geraldo Alckmin é o melhor preparado para ser nosso Futuro Presidente do Brasil 2018 !!!

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