Contrato de palestras de Lula ‘sumiu’ de computador da OAS


Ex-funcionário, do setor financeiro, procurou o Ministério Público de São Paulo e afirmou que arquivo 'apagado' supostamente por ordem de um gerente também continha dados sobre 'pagamentos ao Instituto Lula'

Julia Affonso, Ricardo Brant, Fábio Serapião e Mateus Coutinho - Estadão

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Um ex-funcionário do setor administrativo financeiro da OAS procurou o Ministério Público de São Paulo e afirmou que a empreiteira, em setembro de 2014, pediu a ele que analisasse contratos do grupo com o BNDES. Em meio aos documentos, declarou o ex-funcionário, estava ‘um outro contrato que se referia à contratação da LILS’, a empresa de palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Mas não consegui efetuar a sua análise (do contrato da OAS com a LILS), pois foi excluído do meu computador à época, apenas o visualizei”, relatou.

O depoimento do ex-funcionário, ocorrido em 12 de agosto passado, às 14h30, foi anexado aos autos da Operação Lava Jato em 14 de outubro.

As declarações foram prestadas em Araras, interior de São Paulo. O ex-funcionário falou na Promotoria de Justiça da Comarca de Araras, na presença de André Camilo Castro Jardim e Aluísio Antonio Maciel Neto, promotores de Justiça do Gaeco – núcleo Piracicaba -, braço do Ministério Público que combate corrupção.

O ex-funcionário compareceu à Promotoria ‘desacompanhado de advogado, a fim de prestar declarações’.

“Em setembro de 2014, fiquei responsável por analisar alguns contratos que envolviam a OAS Brasil e o BNDES”, relatou aos promotores.

A 7.ª fase da Operação Lava Jato, em novembro de 2014, prendeu o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, por envolvimento no esquema de corrupção instalado na Petrobrás.

Nesta etapa, a Lava Jato mirou em empreiteiros do cartel que se apoderou de contratos bilionários da estatal petrolífera entre 2004 e 2014. Léo Pinheiro foi condenado a 16 anos e quatro meses de reclusão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro por propina à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás.

O ex-funcionário disse que a análise da documentação foi pedida por Rogério Veras, responsável pelos equipamentos da área internacional, com o aval do gerente Corporativo Administrativo Internacional Renato Stankuns.

“Via de regra, eu recebia a documentação fisicamente, porém em oportunidades pontuais, cheguei a receber também por meio digital, especificamente o e-mail de Renato Stankus”, contou. “Renato me solicitou que fizesse essa avaliação, pois a Polícia Federal faria uma fiscalização em janeiro de 2015.”

De acordo com o ex-funcionário da OAS, ele teria de analisar a ‘situação de regularidade das empresas, valores e saldos residuais entre os contratos.

“Eu apenas iniciei a análise, com a verificação cadastral das empresas, pois fui demitido em novembro daquele ano”, disse.

Aos promotores, o ex-funcionário relatou que não conseguiu completar a avaliação, mas tem a relação das empresas, valores e situação cadastral delas nos contratos que envolviam BNDES. Segundo o ex-funcionário, Renato Stakuns foi quem apagou o contrato da LILS de seu computador.

“Todavia, na documentação apresentada constam alguns documentos referentes a pagamentos feitos ao Instituto Lula”, afirmou.

Ao Ministério Público de São Paulo, o ex-funcionário contou ter sido contratado como responsável administrativo financeiro na OAS em fevereiro de 2011. Ele declarou que foi contratado ‘diretamente na Bolívia’ e lá teve seu contrato registrado.

Em julho de 2011, o ex-funcionário do setor financeiro da empreiteira assumiu o projeto ‘Obra do Futuro’ que consistia em implantar sistemas e procedimentos unificados com a diretoria regional no Brasil.

À Promotoria, o ex-funcionário afirmou que no fim de 2012 seu contrato de trabalho foi transferido para as Ilhas Virgens Britânicas, ‘em razão de questões tributárias, pois lá é um paraíso fiscal’.

Segundo o ex-funcionário, por causa do projeto, ele tinha acesso ‘às informações financeiros, contábeis, de estoque, de folha de pagamento, de ativo fixo’.

“No início, só tinha acesso às informações internacionais. Posteriormente eu tive acesso às informações da base no Brasil”, declarou.

O ex-funcionário relatou que ‘teve conhecimento’ que a OAS Brasil abriu outras três empresas nas Ilhas Virgens Britânicas, a OGI, BVI e OAS African.

De acordo com seu depoimento, a BVI era responsável pela contratação de funcionários que prestavam serviços diretamente a empresas da área internacional da OAS – a OGI tratava de movimentação de materiais e equipamentos, e a OAS African contratava funcionários para o continente africano.

A reportagem procurou a OAS. O espaço está para manifestação.



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