Preso na Lava Jato teve papel central na gestão Marta Suplicy


Braço-direito do ex-ministro Antonio Palocci, Branislav Kontic era assessor especial na prefeitura de São Paulo e foi sócio de Luis Favre, ex-marido dela

Felipe Frazão e Laryssa Borges - Veja.com

 
Marta e Branislav Kontic 

O ASSESSOR - Braço-direito do ex-ministro Antonio Palocci, o sociólogo Branislav Kontic desempenhou papel central na gestão Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo (Reprodução/VEJA)

Preso na 35ª fase da Operação Lava Jato, o sociólogo Branislav Kontic, braço-direito do ex-ministro Antonio Palocci, foi um dos principais assessores da senadora Marta Suplicy (PMDB) na prefeitura de São Paulo (2001-2004). Brani, como é chamado, foi assessor especial do gabinete da então prefeita, à época no PT, novamente candidata nas eleições deste ano.

Ele foi preso temporariamente nesta segunda-feira pela Polícia Federal, assim como Palocci, e teve ordem para ter os bens bloqueados e o imóvel alvo de busca e apreensão.

Brani desempenhou papel central nos bastidores da gestão Marta Suplicy. Chegou a chefiar o gabinete pessoal de Marta na prefeitura e teve cargos de confiança na direção de órgãos como a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), atualmente SP Urbanismo, e a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo).

Era o assessor indicado por Marta para desenvolver projetos como modernização tributária e de alienação de patrimônio (imóveis), bem como o acompanhamento de metas orçamentárias e a execução de melhorias urbanas de infraestrutura nos bairros. Ele coordenou o Programa de Desenvolvimento Econômico da Zona Leste e decidia, em uma comissão, as empresas que receberiam incentivos fiscais dados pela prefeitura para instalação em uma das regiões mais carentes da cidade. Fazia viagens frequentes a Brasília “para coleta de dados e informações” de interesse do gabinete da prefeita Marta.

Ele foi casado com uma irmã da senadora, Irene Cristina, que morreu em 2000, durante a campanha eleitoral. Além disso, Brani foi sócio, até 2011, do ex-marido de Marta Luis Favre, publicitário franco-argentino que militou no PT, radicou-se no Peru e atuou este ano como assessor político da campanha de Cesar Acuña, do partido Aliança para o Progresso (APP) para a presidência do país andino. Brani e Favre eram sócios na Epoke Consultoria Política, cujo nome atual é Epoke Consultoria em Mídia. A empresa teve como sede declarada um endereço de Marta, que se separou de Favre em 2009.

Marta diz que nunca teve “nunca teve nenhuma relação” com a Epoke e que não mora mais no imóvel onde a empresa funcionou. “Marta também não teve nenhuma relação empresarial com Kontic nem com seu ex-marido”, disse sua assessoria em nota a VEJA. A equipe da candidata afirmou que “Marta reitera seu apoio às investigações conduzidas no âmbito da Operação Lava-Jato” e que “todos devem ser investigados, independentemente de quem sejam”.

Brani também foi chefe de gabinete de Palocci na Câmara dos Deputados, atuou na empresa de consultoria do ex-ministro, a Projeto, e o assessorou na Casa Civil da Presidência da República.

Atualmente, ele é o único dono da Anagrama Consultoria e Assessoria, cujo capital social é de 79.000 reais. Ele constituiu a empresa em 1997, um ano depois de falir com a Duko Industria Têxtil, então sediada em Guarulhos (SP), da qual era sócio ao lado de familiares. Também foi secretário de Desenvolvimento Urbano de Guarulhos na administração do petista Elói Pietá, logo depois de sair da gestão Marta.

Espécie de faz-tudo de Palocci, cabia a ele, segundo investigadores, conversar cotidianamente com o empresário Marcelo Odebrecht para que interesses do grupo fossem satisfeitos pelo governo. E, claro, para que os repasses de propina do príncipe dos empreiteiros estivesse sempre em dia.

Em mensagem trocada em março de 2010, por exemplo, Odebrecht discute com Brani a edição de uma medida provisória específica para que o Grupo Odebrecht fosse beneficiado com incentivos fiscais. Disse o empreiteiro: “Brani, Tudo bem? Diga ao chefe que a única maneira de evitar as ida e vindas e acabarmos perdendo o prazo para uso do PFiscal é realmente uma MP específica. Pagaríamos o saldo com PF durante a vigência da MP, e depois não importa as emendas, a MP poderia caducar. (…) Obrigado e abraços. Marcelo”. O chefe a que o empreiteiro se refere é o ex-ministro Antonio Palocci.

De acordo com investigadores do petrolão, um sem-número de mensagens trocadas por Brani ou com menção a ele mostra como ele tinha detalhes e participava ativamente do esquema que envolve Palocci. Entre os dias 2 e 3 de maio de 2009, Marcelo Odebrecht informa, por exemplo, que iria recorrer a Brani para tentar agendar uma reunião com o “Italiano”, codinome utilizado pela empreiteira para se referir ao então ministro petista. Na mensagem de Marcelo ao então diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, o empresário questiona: “Vc marcou alguma coisa com o Italiano na 2ª? Se não, vou ligar para Brani hoje para tentar marcar.” Em agosto de 2009, nova mensagem de Odebrecht evidencia o papel do faz-tudo de Palocci: “Veja com Brani que horas posso me encontrar amanhã com o Palocci (qq horário – eh prioridade)”.

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