"O surfe e o governo paulista", entrevista com Edson Aparecido


Edson Aparecido, ex-secretário chefe da Casa Civil de São Paulo, destaca a importância do surfe

Redação Waves

Edson Aparecido com Filipe Toledo, no pódio do QS em Maresias (SP). Foto: Reprodução


Ex-secretário chefe da Casa Civil de São Paulo, Edson Aparecido foi um dos principais personagens na aproximação do surfe com o Governo paulista. 

Além de contar com 7 dos 10 tops da elite mundial - entre eles os campeões mundiais Gabriel Medina e Adriano de Souza - o Estado recebeu uma importante etapa do Qualifying Series nos dois últimos anos, em Maresias.

Nesta entrevista, Edson Aparecido fala sobre o seu envolvimento com o esporte e a importância do surfe para o litoral paulista.


Quando começou a carreira política?
Comecei na escola, num colégio do Estado, na Vila Formosa, chamado Professor José Marques da Cruz. Lá começamos uma mobilização muito mais em torno das coisas da escola, na melhoria do espaço, e também começamos a fazer torneios de literatura, de teatro, e com isso juntar as pessoas na época. A partir daí, iniciamos aquilo que foi a organização do Grêmio Estudantil da escola e, dessa maneira, brigando para melhorar as condições de ensino da época. Fomos enfim nos conscientizando de que era preciso fazer uma luta muito maior, que era a luta contra o regime de exceção, o regime militar da época. Foi ali que comecei a carreira política. Depois fui pra universidade, para a PUC, onde fui cursar História, e comecei mesmo uma militância no trabalho e na carreira política. Fui inicialmente do PCdoB, do DCE livre da PUC, ajudamos na reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes), da UEE (União Estadual dos Estudantes) aqui em SP e, a partir daí, iniciamos uma luta mais ampla, a luta pela Anistia, pela Constituinte, por eleições diretas em todos os níveis, liberdade de expressão, autonomia universitária, melhoria da qualidade do ensino. Foi dessa maneira que a gente começou a lutar politicamente em São Paulo.

E o seu envolvimento com o surfe, como começou? Você já ajudou bem nos campeonatos de surfe. Conseguiu aproximar o Governo do Estado ao surfe?
Essa foi uma coisa extremamente importante, aproximar o Governo de São Paulo com o governador Geraldo Alckmin em torno da questão do surfe. É um esporte muito praticado no Brasil, sobretudo aqui em São Paulo, e tem um histórico muito antigo de pessoas importantes, de campeões que passaram por aqui, que são de São Paulo. Hoje é um esporte extremamente praticado não só pela juventude, mas por crianças e pelo pessoal mais velho. Eu sempre curti, sempre gostei, e acho importante a aproximação do Governo do Estado com o esporte com esse patrocínio, que trouxe pra cá atletas e a imprensa do mundo inteiro. São Paulo tem dois campeões do mundo, o Medina e o Mineirinho, e eu acho isso muito importante. Dessa maneira a gente colocou São Paulo no roteiro dos grandes torneios de surfe do mundo. 

Como o Governo de São Paulo abraçou a ideia do SP Prime?
Tive a oportunidade de conversar com um grupo de pessoas, o Sergio Pellegrino e vários outros amigos lá em Maresias, e começamos a organizar. Desde o primeiro momento que levei ao Governador, ele achou que seria superimportante uma iniciativa como essa e iniciamos então esse trabalho que culminou com a realização dos dois torneios, sempre com o apoio do Governo e do governador. Uma coisa que começou numa conversa despretensiosa de um grupo de pessoas que gostam do surfe, que curte e que pratica o surfe, se tornou essa grande iniciativa que hoje coloca São Paulo na rota dos grandes torneios de surfe do mundo.

Edson com Gabriel Medina e o governador Geraldo Alckmin. Foto: G1.com

Qual o retorno que esse evento gerou para o Estado nos dois últimos anos?
O São Paulo Prime se tornou o principal evento do município de São Sebastião. O evento conseguiu trazer mais gente para a cidade, em pousadas, hotéis e restaurantes do que o Réveillon e o Carnaval.

Como é a sua relação com Maresias? E com o Gabriel Medina?
Eu ia acampar na região de Maresias na época da faculdade quando ainda não tinha nem estrada. Você fazia o percurso metade pela estrada de terra, metade pela praia. Eu e minha família curtimos Maresias há muito tempo, regularmente há mais de 20 anos. Temos amigos e vamos pra lá sempre. Ali é um pouco o nosso lazer de final de semana. Eu acho uma das regiões mais bonitas do mundo em termos de mar, é a nossa identificação com a natureza. Maresias é a nossa praia! Conhecemos o Medina mais recentemente. Esse grupo que estava organizando o torneio já o conhecia há mais tempo por conta dele ser da região, então a gente acabou se aproximando nessas conversas. E ele topou desde o começo ajudar nisso, mas não só ele, o Miguel Pupo, o Filipinho, todos eles ajudaram a entrar nessa, a realizar esse torneio. E isso foi evidentemente nos aproximando mais do que nunca. Depois, inclusive, o Medina ajudou, teve uma atitude muito legal, que foi fazer a campanha do agasalho em São Paulo. Ele é uma figura humana fantástica, além de ser um campeão mundial, um grande atleta. E a família do Medina também, a Simone, o Charles e os seus irmãos são um exemplo de família. 

Dos 10 integrantes brasileiros na elite mundial, 7 são do estado de São Paulo. Como você vê força do surfe no litoral paulista?
Essa é a tradição do surfe de São Paulo, quer dizer, um Estado inteiro com praia, com mar, com regiões de praia com onda, com uma tradição incrível que não é de agora, já vem do final da década de 60, ou até mais, é a tradição de um Estado que tem grandes surfistas, de gente que vem da periferia das nossas cidades, sobretudo, são os garotos que cresceram à beira da praia e que aprenderam a surfar, meninos que às vezes só tinham isso como forma de lazer, como maneira de se distrair, e aí foram acumulando experiência, acumulando profissionalismo, o que acabou fazendo com que, num esporte extremamente competitivo, nós tivéssemos dois campeões mundiais e praticamente 10 atletas entre a elite do esporte mundial.

Como você acha que o esporte está vinculado à área social e à educação?
O esporte é uma ferramenta social extremamente importante porque ela significa que a gente pode construir uma rede de proteção social à criança e ao jovem, sobretudo em áreas e em cidades com altíssima vulnerabilidade social. Eu acredito que o esporte é esse instrumento, é uma ferramenta de inclusão social, ainda mais num momento onde o país vive uma crise econômica, onde as dificuldades com a dependência química só crescem, o esporte, o surfe, tem esse significado. É extremamente importante ter uma ferramenta de inclusão e proteção social.

Quais os planos para sua carreira política? Que projetos pretende colocar em prática?
Eu estou retomando agora a carreira política com a tentativa de buscar um mandato de vereador na cidade de São Paulo, já fui deputado federal duas vezes, deputado estadual duas vezes, pratiquei esporte a minha vida inteira e essa vai ser uma maneira de eu contribuir aqui na nossa cidade, onde o esporte tem um papel social muito importante, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Acredito que o esporte seja uma dessas ferramentas importantes para a gente alcançar isso. 

Numa época em que muitos políticos perdem a credibilidade, o que podemos esperar do Edson Aparecido?
Trabalho. Trabalhar para melhorar a vida das pessoas para reduzir a enorme distância social que existe na nossa cidade, para buscar melhoria da qualidade de vida das pessoas, enfim, trabalhar para que o poder público possa dar oportunidades mais iguais entre as pessoas que vivem na nossa cidade. 

Quem quiser ajudar, sugerir, cobrar, reclamar, como faz? Qual o caminho pra chegar ao Edson Aparecido?
As redes. As redes sociais são o melhor caminho pra gente poder debater sugestões, tirar as ideias do papel e colocar na prática concreta. A melhor forma de uma sociedade avançar é por meio do diálogo, por meio de ideias, da prática sadia entre a sociedade e o poder público.

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