Polícia Federal intima Marisa Letícia e Lulinha a depor


Sócios de Fábio Luís também prestarão depoimentos em processo da Lava-Jato


DIMITRIUS DANTAS* - O GLOBO


A mulher do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, e seu filho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, foram intimados a depor pela Polícia Federal no processo que investiga a ligação de Lula com um sítio na cidade de Atibaia. Dois sócios de Lulinha que aparecem como proprietários do sítio em Atibaia, Fernando Bittar e Jonas Suassuna, também foram intimados.

A Polícia Federal entrou em contato com a defesa de Marisa Letícia e Fábio Luís na última quinta-feira, mas não obteve retorno. O advogado de Jonas Suassuna afirmou que conversaria com seu cliente em relação à intimação. O depoimento de Fernando Bittar já foi marcado.

O pedido foi feito na última quinta-feira, mas foi anexado ao processo apenas hoje. A PF também pediu a seus peridos a análise do patrimônio de Lulinha, Fernando Bittar, Jonas Suassuna e de outro filho de Lula, Luís Cláudio. A Polícia Federal questiona se há compatibilidade na movimentação financeira e na evolução patrimonial dos investigados com seus rendimentos declarados. Quanto a Bittar e Suassuna, o delegado pediu exame que apure se os dois possuíam lastro patrimonial para a aquisição e reformas do sítio em Atibaia. O terreno do imóvel é dividido em duas propriedades, cada uma em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna.

Em relação à Lulinha e Luís Cláudio, a Polícia Federal pediu uma análise que apure se ambos possuem registros do pagamento de aluguel de dois imóveis. Em relação à Lulinha, o imóvel investigado é um apartamento na zona sul de São Paulo. O imóvel está registrado em nome de Jonas Suassuna, sócio de Lulinha. Suassuna é sócio de Fábio Luís na BR4 Participações, enquanto Fernando Bittar é sócio de Lulinha na G4 Entretenimento.


DEPOIMENTOS

Outros depoimentos realizados no âmbito da investigação também foram anexados ao processo. Entre eles, está o de Celso Silva Vieira Prado, que trabalha com a família Bittar há mais de 20 anos. Fernando Bittar é filho de Jacó Bittar, um dos fundadores do PT. Prado afirmou em depoimento que faz visitas constantes às propriedades da família, mas não conhecia o sítio registrado em nome de Fernando Bittar na cidade de Atibaia e que, apesar das visitas rotineiras às propriedades da família, suas visitas não incluíam o sítio de Atibaia.

Em seu depoimento, prestado em março passado à PF durante a Operação Alethea, Rogério Pimentel, ex-assessor da Presidência, confirmou ter pegado envelopes com dinheiro das mãos do engenheiro Frederico Barbosa, por duas vezes, para pagar materiais de construção usados na obra do sítio, mas afirmou não saber que ele era funcionário da Odebrecht.

Pimentel confirmou ter recebido um pedido de dona Marisa para acompanhar o andamento das obras do sítio de Atibaia, mas disse que nunca ouviu alguém dizer que a propriedade era da família Lula. Para ele, o sítio era de Fernando Bittar, amigo da família, e o interesse de dona Marisa era vinculado à necessidade de ter onde guardar os presentes que Lula ganhou durante seus dois mandatos como presidente.

Ele negou saber quem pagou pela instalação de um gerador e de uma estação de tratamento de esgoto no sítio e afirmou que, mesmo depois de exonerado do cargo, em junho de 2012, voltou ao sítio, a pedido de dona Marisa, para receber cerca de 70 caixas de vinho do ex-presidente, a título de "favor", já que havia sido o responsável pelo recebimento da mudança do casal de Brasília para São Paulo em 2011, no término do mandato.

O processo investiga a propriedade e reforma de um sítio em Atibaia. A propriedade aparece em nome de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, no entanto, o Ministério Público suspeita que o sítio seja de Lula. Em relação à reforma, o MP afirmou que há indícios de que a Odebrecht, a OAS e a Usina São Fernando participaram da reforma. Em laudo realizado pela Polícia Federal, os peritos afirmaram que o ex-presidente Lula e sua mulher, dona Marisa Letícia, orientaram a reforma da cozinha da propriedade, no valor de R$ 252 mil. De acordo com a análise realizada pela PF, as reformas na propriedade custaram R$ 1,2 milhão. De acordo com o laudo, os investimentos são discordantes em relação aos rendimentos e bens declarados no imposto de renda do proprietário do sítio, Fernando Bittar. A Polícia Federal, no entanto, admitiu que se faz necessária a realização de exames periciais contábeis específicos para apurar a evolução patrimonial de Fernando Bittar.


(*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)


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