PSDB se afasta do 'centrão' e polariza disputa pela Câmara


DANIELA LIMA, DÉBORA ÁLVARES, GABRIEL MASCARENHAS E GUSTAVO URIBE - FOLHA.COM


A predisposição da cúpula do PSDB em apoiar o nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara projeta um cenário de polarização entre a candidatura dele e a do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que tem o apoio majoritário de parlamentares do "centrão", grupo que congrega siglas médias e pequenas, como o PP, PR, PTB e PSC.

Publicamente,o PSDB afirma que ainda não há definição, mas deputados e dirigentes da legenda ouvidos pela Folha dão o endosso à candidatura de Maia como o caminho mais provável.

A tendência se fortaleceu depois que o deputado do DEM teve um encontro com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional dos tucanos, no domingo (10). Em seguida, Aécio e o líder da bancada, Antônio Imbassahy (BA), jantaram com o presidente interino, Michel Temer, e deixaram a impressão de que fecharão com Maia.

Na conversa com Temer, Aécio deu a entender que não teria condições de apoiar abertamente uma candidatura vinculada a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou à presidência da Câmara na semana passada após mais de dois meses afastado do cargo pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Após a conversa com Temer, os tucanos decidiram que não irão lançar candidatura própria para esta eleição. Em troca, esperam que o peemedebista garanta o apoio do PMDB e do Planalto a um nome indicado pelo grupo do PSDB em 2017, quando haverá nova escolha de presidente da Câmara, dessa vez para um mandato de dois anos.

A atual eleição na Câmara está marcada para as 16h desta quarta (13). Como é secreta, não há nenhuma garantia de fidelidade dos deputados aos candidatos escolhidos pelas cúpulas partidárias.

Nesse cenário, os partidos da base de Temer e o Planalto tentam, agora, reduzir o número de candidaturas à sucessão de Cunha.

Nesse sentido, deputados participaram nesta segunda de almoço na casa do líder do PTB, Jovair Arantes (GO). No encontro, Rosso apresentou sua candidatura e pediu empenho aos colegas, que deixaram o local tentando costurar uma redução no número de nomes do "centrão" que querem disputar a sucessão de Cunha. "Ninguém vai obrigar ninguém a abrir mão, mas gestos nesse sentido podem acontecer", afirmou Jovair.

Esse grupo de parlamentares é alinhado a Cunha e foi determinante para a eleição do peemedebista à presidência da Casa em 2015. O vínculo com o peemedebista, porém, tem afastado as siglas que integram a ala que fazia oposição a Dilma Rousseff, como o PSDB, o DEM e o PSB.

No "centrão", ao lado de Rosso despontam os nomes de Beto Mansur (PRB-SP) e de Fernando Giacobo (PR-PR).

Deputados avaliam que será mais difícil enxugar as candidaturas porque "não há o que oferecer" aos que se colocaram como candidatos.

Para fazer frente ao concorrente, Maia fez movimentos ousados, se aproximando inclusive de nomes do PT e do PC do B, partidos de quem sempre foi adversário.

O deputado do DEM tentava o apoio oficial do PT, mas a bancada do partido decidiu não votar em ninguém que trabalhou pelo impeachment da presidente afastada.

A decisão está descrita em resolução aprovada após uma tarde de longos debates na sede do partido em Brasília. A reunião da bancada petista da Câmara contou com a presença também do presidente da sigla, Rui Falcão.

Segundo o líder petista na Câmara, Afonso Florence (BA), "o PT nunca cogitou apoiar um partido ou candidato golpista".

Com isso, Maia conta com dissidentes do partido, a quem promete dar tratamento justo no Legislativo em caso de vitória nesta quarta.

No PMDB, maior bancada da Casa, a tendência é que a maioria acabe apoiando um nome do "centrão", mas alguns decidiram se lançar em voo solo, caso do ex-ministro da Saúde Marcelo Castro (PI). Sem o apoio da cúpula da legenda, Castro espera angariar apoio de insatisfeitos com o governo Temer, especialmente no PT.

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