"Desalento paulistano", editorial da Folha


Folha de S.Paulo


De candidato desconhecido, Fernando Haddad (PT) tornou-se vencedor da eleição municipal de São Paulo em 2012 na esteira do prestígio de que então desfrutava seu partido e, em particular, o ex-presidente Lula, seu padrinho político.

Seria inimaginável, portanto, que a popularidade do prefeito não fosse abalada pela ampla rejeição atual ao petismo, da qual as manifestações populares na avenida Paulista se tornaram simbólicas.

Não bastassem os múltiplos escândalos de corrupção, que dilapidaram nacionalmente a imagem da sigla, a profunda recessão vivida pelo país tanto envenenou os humores da população quanto derrubou as receitas tributárias e, em consequência, as ambições das políticas públicas.

Tudo isso levado em conta, deve-se apontar que Haddad deu contribuições próprias para seu pífio índice de aprovação —segundo pesquisa recém-concluída pelo Datafolha, apenas 14% dos paulistanos classificam sua gestão como ótima ou boa, enquanto 48% a tacham de ruim ou péssima.

No mandato, o petista notabilizou-se por iniciativas elogiáveis, mas destoantes das prioridades de uma metrópole tão complexa.

A simpatia pelas ciclovias ou pelo fechamento da Paulista aos domingos, por exemplo, não compensa lacunas em áreas vitais como a saúde, sobre a qual 79% se declaram decepcionados com o desempenho da prefeitura.

Mas, se a reeleição se apresenta neste momento como um desafio hercúleo, o levantamento das intenções de voto feito pelo instituto também aponta perspectivas ainda nebulosas no campo adversário.

O líder, com 25%, é Celso Russomanno, do minúsculo PRB, que igualmente teve boa largada no pleito de quatro anos atrás, sem, no entanto, chegar ao segundo turno. Sua candidatura, ademais, será inviabilizada caso o Supremo Tribunal Federal confirme uma condenação em processo por peculato.

Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL) —que pontuam, respectivamente, 16% e 10% nesse cenário— são ex-prefeitas eleitas pelo PT, que já tentaram, sem sucesso, retomar o posto.

O empresário João Doria, aposta do PSDB em uma novidade pinçada fora da política tradicional, tem 6%, em empate técnico com Haddad (8%), e a vantagem de ser menos conhecido e rejeitado.

Sintoma do desalento do eleitorado, apenas um dos potenciais candidatos supera a elevada taxa de intenção de votos brancos ou nulos, de 19%.

E nenhum deles iguala a marca de 31% dos paulistanos que se dizem "nada satisfeitos" em residir na cidade —o percentual mais alto apurado ao longo de duas décadas.

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