20 anos depois, PSDB volta a ter 'chapa pura' para a Prefeitura de SP


Nathan Lopes - UOL

 

Com o anúncio, nesta quinta (21), de que o deputado federal Bruno Covas (PSDB-SP) é o vice na chapa encabeçada pelo empresário João Doria Jr. para a Prefeitura de São Paulo, o PSDB paulistano quebra uma "tradição" das últimas quatro eleições: ter políticos de outros partidos compondo sua candidatura.

A última vez em que foi feita uma "chapa pura" foi em 1996, quando o país era presidido pelo tucano Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, o então ministro do Planejamento, José Serra, teve como seu vice o deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB). A candidatura deles não conseguiu chegar ao segundo turno, vencido por Celso Pitta (PPB) no embate com Luiza Erundina (então no PT).

Desde então, PTB --duas vezes--, Democratas e PSD completaram as chapas tucanas nas eleições paulistanas.
União

No evento de lançamento, o presidente municipal do PSDB, o vereador paulistano Mário Covas Neto disse que, "no processo democrático, há vencedores e vencidos". "Quem preza a democracia é capaz de reconhecer que a derrota não é algo pessoal", falou o filho do ex-governador Mário Covas. "A chapa 'Doria-Bruno' mostra o quanto foi importante passar por esse processo de depuração partidária", concluiu o dirigente.


Para Covas Neto, a escolha de Bruno --seu sobrinho-- é uma sinalização interna. "Houve uma desconfiança de que o Doria não tinha participação partidária e o Bruno não esteve ao lado dele nas prévias. Essa chapa une áreas que não estavam juntas em um primeiro momento". O vereador aposta que seu sobrinho será um vice participativo.

Em fevereiro, quando o UOL lembrou que esta seria a primeira eleição desde 1992 que o PSDB teria um candidato que não é Serra nem Alckmin, o presidente municipal do partido demonstrou o desejo de ter uma "chapa pura".

Na ocasião, o partido vivia um racha em função das prévias para escolha de seu candidato: o empresário Doria, o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Trípoli. Para ele, uma "chapa pura" uniria o partido. "É uma proposta em que o partido sairia fortalecido, uma forma de o PSDB estar unido no pleito, uma oportunidade", disse Covas Neto.

No primeiro turno, Doria e Matarazzo saíram vitoriosos. Antes do segundo, porém, o vereador desistiu da disputa dizendo que Doria cometeu "fraude" nas prévias, exercendo "poder econômico". Hoje, o caso é analisado pelo MPE (Ministério Público Eleitoral). Após o embate, Matarazzo deixou o PSDB e filiou-se ao PSD, partido pelo qual é pré-candidato à Prefeitura. 

Mas a "desunião" das prévias está mudando, segundo o vereador. "Hoje, vi rostos que estavam avessos ao Doria e que estavam lá [no anúncio de Bruno como vice]. Isso já mostra uma mudança".
Uma vitória

Em 2000, o então vice-governador paulista, Geraldo Alckmin, teve a seu lado o deputado estadual Campos Machado (PTB). Uma dobradinha que seria repetida em 2008. Nas duas ocasiões, eles não chegaram ao segundo turno.

Alckmin, do PSDB, e Campos Machado (atrás), do PTB, foram candidato e vice em duas eleições em São Paulo
Eduardo Knapp/Folha Imagem

Na primeira tentativa, eles ficaram atrás de Paulo Maluf (PPB) e Marta Suplicy (então no PT), que foi eleita prefeita. Na segunda, perderam para Marta e Gilberto Kassab (então no Democratas)

Em 2004, Serra disputou novamente a prefeitura. Seu vice foi Kassab, que herdaria do tucano a Prefeitura em 2006, quando Serra disputou e venceu a eleição para o governo de São Paulo.

Kassab foi eleito em 2008 e continuou na Prefeitura paulistana até 2012, quando Serra tentou retornar ao edifício Matarazzo, sede da administração municipal. Como vice, foi escolhido Alexandre Schneider, do PSD, partido criado por Kassab.

Dessa vez a parceria não deu certo. A chapa PSDB-PSD foi derrotada por Fernando Haddad (PT), atual prefeito de São Paulo.


Força a nomes

Essa também é uma oportunidade de dar mais força a outros nomes do partido, como foi feito por seu pai em 1994. Covas Neto lembrou o que aconteceu com seu pai, Mário Covas, na disputa pelo governo de São Paulo em 1994. O candidato a vice na chapa de seu pai foi Geraldo Alckmin, até então desconhecido por grande parte dos paulistas. Na época, Alckmin era presidente estadual do partido e deputado federal.

Hoje, a história se repete "ao contrário". O vice de Doria é neto de Mário Covas. Tio e sobrinho, porém, tiveram problemas no início do ano passado, quando disputaram a presidência do diretório do municipal. "O PSDB é um partido grande, que tem um processo coletivo, uma conjugação de pensamentos".

Como previa Covas Neto, a "chapa pura" não impediu coligações com outros partidos. Doria será o candidato com o maior número de aliados na eleição deste ano.

Sua candidatura, até o momento, tem o apoio de dez partidos: PSB, PHS, PMB, PPS, PV, Democratas, PTdoB, PTC, PP e PRP.

Não ter escolhido um nome de nenhum desses partidos foi uma forma de tratar todos de maneira igual. "A melhor maneira era não escolher um. Senão, você estaria excluindo os demais", diz Covas Neto.

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