"A criancice de Haddad e o caos de SP", artigo de Eduardo Scolese


Folha de S.Paulo


O petista Fernando Haddad, prefeito da maior cidade do país, com a popularidade em baixa e com um caminhão de problemas para resolver, resolveu usar uma ferramenta oficial do município para cutucar um comentarista de rádio crítico à sua gestão. Uma criancice.

No domingo, para quem ainda não conhece a história, a prefeitura divulgou ao público aquilo que seria a sua agenda oficial do dia seguinte. Em e-mail distribuído à imprensa e no site da prefeitura na internet, constava a relação de compromissos de Haddad: "A partir de 8h30 - Despachos internos".

Mas era tudo mentira. Uma pegadinha. Esse conteúdo falso havia sido criado e divulgado pelo prefeito, como ele mesmo admitiu, apenas para dar um trote no comentarista Marco Antonio Villa, da rádio Jovem Pan. Na rádio, Villa critica constantemente a agenda do prefeito, com muitos "despachos internos" e poucos compromissos fora do gabinete.

Por causa disso, Haddad usou um instrumento do município para enganar o comentarista. E, ainda na segunda-feira, justificou em sua página Facebook: "Resolvemos substituir, por algumas horas, a minha agenda pela de outro político, apenas para vê-lo comentar, uma vez na vida, o dia a dia de quem ele lambe as botas", disse Haddad, sem revelar sobre qual político a agenda falsa se tratava.

Para Haddad, vale mentir ao público em uma ferramenta da prefeitura apenas por uma picuinha pessoal. Vale para ele, assim como valeu em outros casos de políticos que misturaram o público com o privado, com o pessoal. Tapiocas e compras no free-shop com cartão corporativo, construção de aeroporto regional ao lado da fazenda da família e avião da FAB para fazer implante capilar estão nesta longa lista.

Só não é mentira e pegadinha o caos que São Paulo viveu no dia da falsa agenda. Semáforos apagados desde cedo, trânsito caótico e árvores despencando, com ao menos uma morte e dezenas de feridos.


*EDUARDO SCOLESE é editor de "COTIDIANO"

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