Dilma não aprendeu nada


Valdo Cruz - Folha.com



Na reta final da votação do pedido de impeachment, passando por sua pior crise, a presidente Dilma dá demonstrações de que não aprendeu nada nestes cinco anos e três meses e meio de governo.

Em sua busca de minar seu hoje adversário Michel Temer, a petista usa a mesma tática criticada durante a última campanha eleitoral, acusando seus inimigos de ações que eles nunca disseram que iriam fazer.

Em seu pronunciamento que foi sem nunca ter sido, Dilma diz em vídeo nas redes sociais que "querem revogar direitos e cortar programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida", endossando e reafirmando o que seus aliados petistas dizem sobre o que seria o plano de um eventual governo do vice-presidente. Michel Temer reagiu e acusou a presidente de espalhar uma "mentira rasteira".

Foi essa tática, largamente usada pela petista, que acirrou os ânimos durante a campanha e contribuiu para interditar qualquer chance de diálogo com a oposição quando ela assumiu a Presidência da República e se viu em apuros com o aprofundamento da crise econômica que ajudou a criar.

Até seus assessores criticam a volta do estilo da campanha, quando a petista prometeu mundos e fundos aos eleitores e entregou exatamente o contrário. Na eleição, Dilma usou e abusou da estratégia do medo, de criar um clima de que seus adversários representavam o fim do mundo, acabariam com o que seriam suas conquistas sociais.

Foi assim que surgiu o famoso comercial de TV da campanha contra Marina Silva, com trabalhadores tendo seus pratos de comidas sendo surrupiados pelo mercado financeiro que apoiava a então candidata do PSB.

A tática usada agora contra Temer, de que ele vai acabar com o Bolsa Família, também foi martelada contra o candidato tucano Aécio Neves durante o segundo turno da eleição presidencial.

Recorrer a esta estratégia revela certo desespero e não combina nem um pouco com o discurso ensaiado durante esta semana pela própria presidente, de que, se ganhar no domingo (17), irá propor um pacto até com a oposição.

Em entrevista, a presidente disse que não se faz um pacto com "ódio" nem "mágoas", só que ela contribuiu para despertar estes sentimentos ao tentar associar seus adversários a medidas que eles já afirmaram e reafirmaram que não irão tomar.

De novo, Dilma corre o risco de repetir o mesmo erro da última campanha. Ganhar e, tal como na eleição, ficar totalmente sem condições de governar pela radicalização de seu discurso e pela impossibilidade de entregar o que anda prometendo aos movimentos sociais.

Comentários