"O cacife de Alckmin para 2018", artigo de Helio Gurovitz


G1

O governador Geraldo Alckmin fira "selfie" com uma jovem na Lanchonete Estadão 

Com ou sem impeachment, a sucessão da presidente Dilma Rousseff promete uma reviravolta na política brasileira. É cedo ainda para discutir candidaturas, é verdade, mas daqui para frente, sobretudo com a disputa pelas prefeituras este ano, todo movimento político virá imbuído de cálculo para as eleições de 2018. O PT fará o possível para resistir até lá. Mas sabe que, pela primeira vez desde 2002, não é favorito. A situação econômica calamitosa e as denúncias de corrupção tornarão a disputa muito mais difícil para seu candidato natural, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A primeira dúvida é se Lula será mesmo candidato. Prestes a ser denunciado por suspeita de receber favores da empreiteira OAS na reforma de um apartamento, ele já enfrenta uma denúncia por tráfico de influência internacional, devido às andanças pelo mundo em que é acusado de ter feito lobby para a empreiteira Odebrecht. As investigações do petrolão continuam a trazer surpresas, e o PT não para de sangrar. Por seu próprio perfil, porém, é razoável supor que, podendo, Lula se candidatará.

A segunda dúvida, portanto, será: contra quem? A resposta depende do destino de Dilma. Se conseguir evitar o impeachment, o quadro é um. Se cair, é outro. Trabalhando com probabilidades, hoje o impeachment é o cenário menos provável. Claro que tudo pode mudar – e Dilma não se cansa de provar ser exímia na arte de piorar sua própria situação política. Mas as regras estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o apoio que Dilma tem no Senado são suficientes para reduzir as chances de impedimento.

Na falta de impeachment, duas forças políticas emergem naturalmente. A primeira, mais óbvia, é Marina Silva, derrotada no primeiro turno da eleição de 2014, apesar de ter chegado a liderar as pesquisas depois da morte trágica de Eduardo Campos. Marina será provavelmente candidata e terá uma votação expressiva. É muitas vezes difícil entender o que ela diz em suas entrevistas recentes. Mas é fácil saber o que quer: mostrar que está viva politicamente. Por enquanto, suas chances são baixas. Pode ter boa votação, mas vencer exige um grau de articulação política que ela não demonstra.

A segunda força é menos óbvia, pois ainda difusa. Trata-se dos nomes que emergirem daquilo que poderíamos chamar de eixo PSDB-PMDB. O vice-presidente Michel Temer, mesmo no governo, já afirmou que seu partido terá candidato próprio. Numa eleição sem favorito definido, é uma estratégia que faz sentido. Um nome como o prefeito do RIo de Janeiro, Eduardo Paes, poderia correr por fora e surpreender a todos, depois de uma Olimpíada bem-sucedida. Num cenário em que Dilma cai e Temer assume a presidência, as chances do PMDB crescem.

Mas esse é o cenário mais improvável. Como em toda eleição, o rival de Lula deverá surgir do partido com que o PT tem polarizado a política brasileira há mais de duas décadas: o PSDB. A esperança de derrotar o adversário histórico recairá, muito provavelmente, sobre algum dos nomes peessedebistas que já perderam para o PT no passado: Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra.

Serra tem pouca chance de sair candidato pelo PSDB. Ele só se torna um nome forte numa aliança com Temer, em que poderia ocupar um papel na chapa liderada pelo PMDB, talvez mesmo indo para outro partido, como o PSD. Novamente, tal situação se tornaria provável apenas no caso de impeachement de Dilma.

Como esse ainda é um cenário distante, resta a disputa entre Alckmin e Aécio. O PSDB tem se mostrado um partido péssimo para resolver conflitos internos. A atual batalha pela candidatura à prefeitura de São Paulo tem criado tantas rusgas, que o prefeito Fernando Haddad, mesmo com os maiores índices de rejeição da história, voltou a ter chance. Alckmin e Aécio também deverão protagonizar uma luta fratricida.

A vantagem de Aécio se esvai à medida que o tempo passa. O recall de seu nome no eleitorado ainda é real. Mas seu desgate já é sensível. Aécio vem sendo torpedeado pela forma como conduz a oposição no Senado. Escândalos do passado no governo de Minas Gerais continuam a ser escavados. Até no petrolão ele foi citado.

Alckmin, desde o início do ano, vive uma maré de boas notícias. As chuvas trouxeram alívio para a crise da água em São Paulo, e os reservatórios da Cantareira não param de subir. Depois das trapalhadas com a reforma do ensino, que levou à ocupação das escolas, o governo paulista negociou com o movimento estudantil, e a crise passou – até o MST Alckmin conseguiu agradar recentemente, com uma lei sobre a herança de assentamentos.

O governo paulista anunciou ontem mais uma redução nos índices de criminalidade no Estado de São Paulo, apresentando uma série histórica que comprova o sucesso das políticas de segurança adotadas ao longo dos vários governos do PSDB. As denúncias de fraude na merenda escolar trazem alguma turbulência para a administração tucana. Mas Alckmin tem se mostrado um mestre na arte de afastar aqueles que lhe trazem problemas – ou de se afastar deles. Aquilo que falta a Dilma, ele tem de sobra: talento político. Se Dilma resistir e se ele continuar a colher notícias boas até lá, não supreenderá se emergir como favorito em 2018. Se ela cair, tudo fica mais confuso.

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