"Haddad e a realidade", Editorial da Folha


Folha de S.Paulo


Perto de completar seu terceiro ano no comando da cidade de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) não tem resistido ao teste da realidade. Suas promessas feitas durante a campanha e mesmo as metas fixadas após as eleições continuam, ainda hoje, mais no plano do discurso do que no da prática.

O deficiente padrão administrativo, indesejável em qualquer parte da metrópole, é ainda mais danoso nos extremos da cidade, onde se faz maior a necessidade de intervenção do poder público.

Levantamento desta Folha mostra que não saíram do papel duas em cada três melhorias anunciadas para as regiões periféricas da capital nas áreas de educação, saúde, mobilidade e infraestrutura.

Das 751 obras constantes do plano da prefeitura, 479 (64%) nem chegaram a ser iniciadas, 131 (17%) encontram-se em andamento e 141 (19%) foram entregues.

No setor da saúde, por exemplo, quase 70% das metas ainda são ficção. Os moradores da periferia viram até agora só 5 das 61 prometidas novas unidades responsáveis pelo atendimento primário.

Melhorias educacionais estão no mesmo patamar pífio. A expansão dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) bateu em barreira intransponível com Haddad. Das 20 unidades prometidas, só a de Heliópolis foi concluída. As demais nem tiveram sua construção iniciada.

Os atrasos talvez ajudem a explicar porque apenas 20% dos paulistanos aprovam a gestão do petista.

Fernando Haddad decerto discorda dessa avaliação, pois, segundo a prefeitura, a culpa pela letargia administrativa é do Executivo federal, que não estaria repassando recursos prometidos para as obras. Logo ele que, em 2012, fez das parcerias com o governo federal um mote de campanha.

O Ministério das Cidades –que, numa ironia do destino, é hoje comandado pelo predecessor de Haddad, Gilberto Kassab (PSD)– afirma que as verbas só podem afluir de Brasília para São Paulo após o início efetivo das obras.

Em outras palavras, a ineficiência da gestão municipal em superar entraves burocráticos que antecedem as construções seria a grande responsável pela seca de recursos.

Os paulistanos, e não só os que residem na periferia, por certo esperavam mais do prefeito que, enquanto candidato, se apresentava como o "homem novo". Novas, pelo visto, nem as desculpas.

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