"Transporte atrasado", editorial da Folha


Folha de S.Paulo


Se dependesse somente das promessas de recursos financeiros feitas pela presidente Dilma Rousseff (PT) em seu primeiro mandato, a mobilidade urbana no país teria recebido um belo empurrão.

Em abril de 2012, o governo federal anunciou investimentos de R$ 32 bilhões para a criação e a expansão de corredores exclusivos de ônibus e de linhas de metrô ou de veículos leves sobre trilhos (VLTs) em capitais e grandes cidades.

No ano seguinte, na esteira das jornadas de junho, a presidente prometeu destinar mais R$ 50 bilhões para obras de mobilidade.

Somados, os dois compromissos montam a R$ 82 bilhões, ou 36% da quantia estimada pelo BNDES para acabar com o deficit de transportes públicos nas 15 maiores regiões metropolitanas brasileiras.

Da promessa a sua execução, porém, o caminho é bastante esburacado. Obras paradas ou nem sequer iniciadas são a regra entre os projetos alimentados com o combustível financeiro estatal.

Mais de três anos após a primeira promessa ter sido feita, somente R$ 824 milhões de todo o dinheiro afiançado foi de fato empregado, conforme apontou reportagem do jornal "Valor Econômico".

Há uma frota de razões para a ineficiência. Em certos casos, como o da linha de metrô São Gonçalo-Niterói, no Rio de Janeiro, incertezas quanto aos repasses federais obstaculizam a licitação.

A complicada situação fiscal de alguns Estados, como o Rio Grande do Sul, também surge como impedimento quando se exigem contrapartidas dos entes federativos.

Além disso, prefeitos e governadores em geral parecem ser incapazes de apresentar bons estudos de engenharia –um pré-requisito para o financiamento federal.

A ampliação da linha de metrô de Brasília constitui exemplo notável. Após seguidos atrasos, o governo local apresentou o plano básico em fevereiro deste ano. Se a confecção dessa peça tomou nada menos que 34 meses, talvez só um futurólogo arrisque uma data para a inauguração dos 7,5 km previstos.

Desde a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo, promessas de melhoria expressiva nos transporte públicos se acumulam como nunca –os resultados, porém, são frustrantes como sempre.

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