FHC cobra admissão de erros do PT para dialogar com Lula e Dilma


Daniela Lima - Folha.com

Fabio Braga - Folhapress 
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em março, durante entrevista em seu escritório

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) indicou que um diálogo com seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente Dilma Rousseff só seria possível se houvesse um reconhecimento público do PT de que o partido errou ao investir nos últimos anos no discurso do "nós e eles".

O tucano abordou o tema em artigo publicado neste domingo (2) pelos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo".

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Fernando Henrique diz que "tardiamente, círculos petistas se lembraram de que talvez fosse oportuno conversar com os tucanos". "Tornou-se óbvio que há um acúmulo de crises: de crescimento, de desemprego, de funcionamento institucional, moral, de condução política", escreveu.

O ex-presidente afirma ainda que os acenos dos petistas surgiram quando mostraram-se ineficazes as tentativas de responsabilizar fatores externos pela crise econômica.

Rechaçando qualquer conversa que "cheire a conchavo", FHC ressalta que, agora, o protagonista das ações no país é a Justiça.

"Essa constatação não implica dizer um 'não' intransigente ao diálogo", pondera. "Decidam a Justiça, o TCU [Tribunal de Contas da União] e o Congresso o que decidirem, continuaremos a ter a Constituição e a premência em reinventar nosso futuro."

"É hora de reconhecerem que a política democrática é incompatível com a divisão do país entre 'nós' e 'eles'. (...) Cabe aos donos do poder o mea-culpa de haver suposto sempre serem a única voz legítima a defender os interesses do povo", conclui FHC.


AGENDA DE ENTENDIMENTO

Há entusiastas de uma agenda pública de entendimento. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que não vê "saída para a crise sem um entendimento que preserve as regras do jogo democrático."

Para o senador José Serra (PSDB-SP) o artigo de FHC evidencia "o legítimo cansaço de quem viu seu legado ser satanizado por anos". "Mas não há sinal de ressentimento ou de vingança", pontuou.

Interlocutores da presidente Dilma ressaltam que ela tem feito acenos. Após reunião com governadores, por exemplo, escreveu neste domingo que "é nossa obrigação, mesmo com as diferenças partidárias, dialogar para que o país saia com rapidez de suas dificuldades".

Pessoas próximas a Lula dizem que a revelação, feita pela Folha, de sua investida junto a FHC tornou a conversa inviável. Já setores ligados ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) mantiveram o tom crítico. "O diálogo só ocorreria se Dilma visse que perdeu condições de governar e antecipasse as eleições para comandar seu próprio processo de transição", diz Marcus Pestana (PSDB-MG).

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