"E agora, José?", artigo de Aécio Neves


Folha de S.Paulo 

A festa acabou!

O que fazer com tantos sonhos desfeitos? José, João, Maria, Paulo, Ana, são milhares os brasileiros que vivem hoje o pesadelo do desemprego.

O país cortou 158 mil vagas de trabalho com carteira assinada no mês passado, o pior resultado para julho desde 1992. Nos últimos 12 meses, o total de desempregados subiu 56% nas seis maiores regiões metropolitanas do país. O resultado da gestão desastrosa do PT não poderia ser outro: PIB em declínio, inflação, arrocho fiscal.

É o típico quadro de um país em desgoverno, sem rumo. Mas o que entristece de fato é a realidade que se esconde na frieza das estatísticas. Cada pequeno ponto a mais na taxa de desemprego significa milhares de pessoas à margem da sociedade e vidas em risco. Uma só vida em desalinho já deveria bastar para nos tirar o sono, o que dizer de tanta gente?

O desemprego é cruel por várias razões. Primeiro, pelo efeito dominó: para cada trabalhador que a indústria demitiu, outros tantos foram mandados embora nos setores de comércio e serviços. Como a indústria vive um de seus piores momentos, é possível imaginar o impacto da redução de atividades que ainda está por vir.

Depois, o drama social. O afastamento dos indivíduos do seu grupo, o sentimento de fracasso, a desestabilização das famílias e o aumento da violência que decorre do ambiente de tensão formado. O emprego é o pilar central em torno do qual se estabelece uma rotina e um padrão de vida. Sem isso, para onde ir e o que fazer?

A realidade é cruel com os mais jovens. Na faixa entre 16 e 24 anos, o desemprego saltou de 11,2% em dezembro para 18,5% em junho último. Esses jovens haviam optado por se dedicar aos estudos, mas estão sendo obrigados a ir para o mercado para complementar a renda familiar. Mais gente procurando emprego, menos vagas, menos renda.

Nesse quadro de deterioração, aumenta o grau de informalidade da economia e de atividades autônomas, sem a proteção da legislação trabalhista. Justo no momento em que o governo muda o acesso ao seguro desemprego.

Sem carteira assinada, sem garantias, e ao deus-dará, o que será de José? Os injustiçados de sempre estão pagando a parte mais salgada da conta dos erros e da irresponsabilidade do governo. O número é assustador: a cada dia, 7.000 brasileiros perdem os seus empregos. Os versos do poeta de Itabira parecem ter sido escritos hoje. E agora, José? O riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou. E agora?

Em tempo: impossível não registrar o constrangedor patrocínio do BNDES, de R$ 400 mil, à Marcha das Margaridas, em clara manobra de apoio à presidente. Uma prática reincidente, que usa o que é público em favor de uma causa partidária. Até quando?

*Aécio Neves senador pelo PSDB-MG. Foi candidato à Presidência em 2014 e governador de Minas entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG. 

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