Delator diz que se reuniu com Dirceu para direcionar licitação na Petrobras


Felipe Bachtold, Mario Cesar Carvalho e Graciliano Rocha e Flávio Ferreira - Folha.com

Milton Pascowitch e José Dirceu

O delator da Operação Lava Jato Milton Pascowitch disse que o ex-ministro José Dirceu participou de uma reunião na casa dele junto com outros suspeitos presos em que foi discutido o direcionamento de licitações na Petrobras.

As duas beneficiadas, segundo Pascowitch, são a Hope RH e a Personal, suspeitas de pagar mesadas de até R$ 800 mil para Dirceu e pessoas próximas ao ex-ministro.

De acordo com o relato do delator, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra –à época diretor corporativo e de serviços da Petrobras– foi pressionado a fazer licitações de mão de obra na estatal que acabaram favorecendo empresas com relação com o ex-ministro José Dirceu.

A declaração consta em um depoimento do delator ao Ministério Público Federal, em junho. As informações prestadas pelo delator ajudaram a embasar o decreto de prisão do ex-ministro, decretada no início do mês.

Pascowitch disse no depoimento que a reunião ocorreu em 2013 e teve a participação também do assessor de Dirceu, Roberto Marques, do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e do ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Dutra, o alvo da pressão, não estava no encontro.

Com exceção do delator, todos estão presos no Paraná. No encontro, disse Pascowitch, foi discutida a necessidade de alguém "interceder" junto a Dutra para que fossem licitados novos contratos de terceirização de mão de obra na estatal.

O delator disse que à época que o prazo dos contratos da Hope RH e Personal com a Petrobras tinha expirado, precisando de um novo processo de licitação.

Pascowitch disse que não sabe a quem coube a tarefa de falar com Dutra, mas disse que "alguém intercedeu" e que as empresas ganharam as licitações.

Também afirmou que Duque atuava diretamente "no direcionamento dos convites de novos processos licitatórios". Duque, no entanto, tinha sido afastado do comando da Diretoria de Serviços em 2012.

O depoimento afirma que a Hope fazia pagamentos de cerca de R$ 500 mil mensais, divididos entre ele, Dirceu, Duque e o lobista Fernando Moura, ligado ao ex-ministro. A Personal, diz, pagava cerca de R$ 300 mil.

Os contratos dessas duas empresas com a Petrobras envolveram R$ 6,4 bilhões desde 2006. Em julho de 2014, a estatal contratou a Hope por R$ 1,4 bilhão, via carta-convite, para "prestação de serviços suplementares à gestão e projetos".

Dutra presidiu a Petrobras entre 2003 a 2005. Desde o início de 2015, ele está afastado da Diretoria Corporativa e de Serviços da companhia para tratamento de saúde.

GERENTE CITADO

Pascowitch também cita na delação o nome de um outro gerente-executivo da Petrobras que continua no cargo e estaria, segundo ele, envolvido com recebimento de suborno por conta de contratos da estatal.

De acordo o delator, o também gerente Pedro Barusco levou Maurício Guedes a um jantar na casa de Pascowitch no Rio, na qual acertaram o pagamento de US$ 260 mil por conta de um aditivo na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A empresa que almejava o aditivo era a Engevix, segundo Pascowitch. Gerson Almada, ex-vice-presidente da empresa, também participou do jantar, ainda de acordo com o lobista.

O nome de Maurício Guedes já havia sido citado por outro delator (Julio Camargo), mas não havia menção a pagamento de suborno. Camargo dizia que não tinha informação sobre a participação de Guedes no esquema de propina.

Pascowitch falou ainda num outro pagamento de suborno a Pedro Barusco na Suíça, de US$ 600 mil em fevereiro de 2013. Neste caso, o suborno foi pago para a Engevix conseguir um contrato de cascos de navios, segundo o lobista. O valor foi pago pela Engevix a uma empresa de Pascowitch, a Jamp, que repassou o montante para uma empresa de Barusco no exterior, chamada Day Dream.

Barusco assinou um acordo de delação com os procuradores e a PF no ano passado, no qual se comprometeu a devolver US$ 97 milhões. É o maior valor já devolvido pelos delatores da Lava Jato.

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