"Como continuar petista?", artigo de Tati Bernardi


Folha de S.Paulo


Nasci numa família petista. Acho que já escrevi isso antes, mas é uma lembrança muito forte: eu morava no Tatuapé, de frente para a fábrica de eletrodomésticos Philco, e o Lula comandava as greves lá. Eu acordava com ele berrando, irritada, mas minha mãe me mandava ter respeito pelo homem que mudaria o país. Quando o Lula foi eleito pela primeira vez e subiu a rampinha pra abraçar o Fernando Henrique, lembro da minha mãe no meio da sala, chorando mais do que quando eu voei da bicicleta, quebrei a clavícula e fiquei desacordada por longos segundos.

Sempre votei em todos eles: Suplicy, Marta, Mercadante, Lula, Dilma, Haddad. Mas de uns dois anos pra cá, minha família fez como a Marta: me abandonou, pegou horror ao partido. Se tornaram magoados vingativos. Os xingamentos vão de pinguço ladrão a escória da humanidade. Ela virou a típica senhorinha reaça das redes sociais, postando "Revoltados On Line", ajudando a viralizar vídeos terríveis de ministros sendo vaiados acompanhados de suas famílias. Senti um soprinho de esperança em recuperar meus pais quando num almoço o tema foi difamar o Cunha. Mas, no cafezinho, eles voltaram com força total, mostrando um clipezinho musicalizado da Dilma saudando a mandioca. E o milho também.

Fiquei sozinha nessa. Segui defendendo a ciclovia. Mesmo aturando 80% dos meus amigos falando que na periferia o Haddad deixou a desejar, que a faixa termina em lugar nenhum, que é malfeita, que antes a cidade deveria dar segurança pras pessoas andarem de bicicleta, que quem mandou comprar carro pra aquecer a economia foi o próprio PT. Que ciclovia é coisa pra agradar os alunos "de esquerda, mas com dinheiro" dele, que moram no centro expandido. Perdi uma quantidade enorme de amigos (que nunca fiz) quando comemorei a reeleição da Dilma. Tudo bem que fui meio sem noção e escrevi "Chupa Itaim" e "pega no meu pau Vila Nova Conceição" no Facebook. Muitos outros, esses sim importantes, me deram apenas "hide" e avisaram por inbox: "Quando você se curar dessa doença maligna chamada ignorância política, voltamos a falar". Não se "cura" com facilidade algo que se aprendeu a amar na infância. Sigo me agarrando aos poucos amigos que acreditam. Lendo os poucos articulistas que acreditam. Pedindo a um amigo que trabalha com o Haddad que me coloque em contato com ele, pra que eu possa conversar mais, entender mais, e não perder a fé. Mas a cada dia, um bom combatente entrega os pontos. Ligo para um colega escritor intelectual de esquerda e ele me aconselha: "Não escreve sobre isso não, tá feia a coisa, eu não acredito mais".

Está cada dia mais difícil responder "mas tanto foi feito pelos pobres" a cada 765 motivos para deixar de ser petista. Zé Dirceu armou o maior esquema de propina da história e mesmo depois de ser pego, armou de novo! Mas tanto foi feito pelos pobres! Os discursos da Dilma nunca falam com clareza sobre pedaladas fiscais e Petrolão! Mas tanto foi feito pelos pobres! Daí tento "mas nunca em um governo se colocou tanto bandido na cadeia! É a democracia!". Mas Dilma foi uma péssima gestora, olha como está o dólar, a inflação, o desemprego, os cortes na educação, na saúde, na grana dos aposentados! Mas nunca em um governo se colocou tanto bandido...Mas os bandidos estavam mancomunados com o PT ou, em grande parte, ERAM do PT. Mas nunca em... É... Veja bem... Que tristeza tudo isso.


*Tati Bernardi é escritora, redatora, roteirista de cinema e televisão e tem quatro livros publicados. 

Comentários

  1. Tati, fiquei emocionada, mesmo, nai estou sendo irônica. Vou te far um conselho: desapega. Ė meio que ir deixando as malas no caminho, qdo esse caminho é o deserto. Não sou petista, nunca fui; mas confesso ter sentido uma ponta de esperança qdo o Lula se elegeu, mesmo tento ouvido a vida toda de um amigo metalúrgico do meu pai que ele era um engodo. Nunca votei no PT, exceto no Suplicy. O wur não deu certo não foi o que ptegs o estatuto do partido! O que não deu certo foi o lulopetismo, antagônico ao próprio partido. O Dirceu sempre foi o grande mentor do Lula, que no frigir dis ovos nada mais queria do que ser um ditador. Portanto, não carregue esse peso que não lhe pertence. Se VC, de fato, é uma humanista, faca a sua parte e já estará fazendo muito pelos brasileiros; e fazer a sua parte nada mais é do que ser ética, trabalhar, estenter a mão qdo necessário, ser leal (a VC, aos seus e ao seu pais) e companheira de quem, de fato, se alinha a VC. Abandona os sonhos de infância e cria novos sonhos agora. Abraços

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  2. Tati, fiquei emocionada, mesmo, nai estou sendo irônica. Vou te far um conselho: desapega. Ė meio que ir deixando as malas no caminho, qdo esse caminho é o deserto. Não sou petista, nunca fui; mas confesso ter sentido uma ponta de esperança qdo o Lula se elegeu, mesmo tento ouvido a vida toda de um amigo metalúrgico do meu pai que ele era um engodo. Nunca votei no PT, exceto no Suplicy. O wur não deu certo não foi o que ptegs o estatuto do partido! O que não deu certo foi o lulopetismo, antagônico ao próprio partido. O Dirceu sempre foi o grande mentor do Lula, que no frigir dis ovos nada mais queria do que ser um ditador. Portanto, não carregue esse peso que não lhe pertence. Se VC, de fato, é uma humanista, faca a sua parte e já estará fazendo muito pelos brasileiros; e fazer a sua parte nada mais é do que ser ética, trabalhar, estenter a mão qdo necessário, ser leal (a VC, aos seus e ao seu pais) e companheira de quem, de fato, se alinha a VC. Abandona os sonhos de infância e cria novos sonhos agora. Abraços

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