Não cabe ao PSDB antecipar saída da presidente, não somos golpistas, diz Aécio



Reconduzido à presidência do partido, senador não mencionou impeachment, mas afirmou que oposição 'não esmoreceu' e prometeu resposta 'corajosa e responsável' à sociedade 


ISADORA PERON, PEDRO VENCESLAU - O ESTADO DE S. PAULO 

Embalado pelo agravamento da crise política do governo Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (MG) foi reconduzido neste domingo, 5, para mais um mandato à frente do PSDB em uma convenção marcada por discursos nos quais os tucanos não falaram em impeachment, mas defenderam abertamente a realização de novas eleições antes de 2018.

Conforme uma estratégia previamente combinada, os líderes do partido no Senado e na Câmara fizeram os discursos mais fortes sobre a possibilidade de abreviação do mandato presidencial. O movimento foi tema de uma reunião na manhã deste domingo no apartamento do senador Tasso Jereissati (CE). Antes do embarcar em uma van para a convenção, o “Estado-Maior” tucano sacramentou a nova bandeira a ser defendida. 

Os tucanos esperam chamar atenção da opinião pública e pressionar os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em ação protocolada em dezembro do ano passado, o PSDB pede que a presidente seja declarada inelegível por abuso do poder político e econômico na campanha. Apesar de ter feito uma fala mais moderada que a dos correligionários, Aécio também apostou no julgamento da ação protocolada pelo partido no TSE. “Os sucessivos escândalos que aí estão consolidam a ideia de que instalou-se no Brasil um modus operandi organizado e sistematizado que agora coloca sob gravíssima suspeição a campanha que elegeu a atual presidente da República e seu vice e que, neste mesmo instante, está sendo investigada pelo TSE”, disse Aécio, derrotado por Dilma no 2.º turno.


Aécio Neves foi reconduzido à presidência do PSDB Em outro trecho do discurso, que durou cerca de 30 minutos, o senador exaltou a possibilidade da interrupção do mandato de Dilma. “Esse grupo político, que sempre conviveu mal com o contraditório, está caminhando a passos largos para a interrupção deste mandato”, disse. 

Na saída da convenção, ele foi questionado por jornalistas sobre as conversas que estariam acontecendo entre as cúpulas do PMDB e PSDB em relação ao cenário político em caso de impeachment de Dilma. Conforme reportagem publicada sábado pelo Estado, peemedebistas sondaram o PSDB sobre um eventual apoio no caso de o vice-presidente Michel Temer assumir o governo. “Não cabe ao PSDB antecipar a saída da presidente. Não somos golpistas”, respondeu o tucano. “Vejo que alguns partidos que hoje apoiam o governo têm esse sentimento mais aflorado que o nosso, de que ela terá condição de terminar o mandato”, concluiu o senador, em referência indireta aos peemedebistas. 

A avaliação reservada dos tucanos é de que o PMDB fez um “balão de ensaio” para testar a opção de apoiar o impeachment em troca da garantia de um eventual apoio do PSDB no Congresso. 

‘Prontos’. Depois de esfriar o discurso em defesa do impeachment feito por parlamentares tucanos no começo do ano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também radicalizou neste domingo. “O PSDB não poderá fugir da sua responsabilidade de, dentro da lei, levar (o processo) até fim. Não somos donos nesse momento do que vai acontecer nas semanas seguintes. Mas estamos prontos a assumir, dependendo das circunstâncias, o que vem pela frente”, declarou. 

Líder tucano no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) convocou os tucanos a irem às ruas nas manifestações marcadas para o dia 16 de agosto contra a presidente Dilma e defendeu que o PSDB defenda “abertamente” a bandeira de novas eleições. “O caminho natural será a convocação de novas eleições. Proponho que o PSDB possa formalmente, em suas instâncias de direção, deliberar pela defesa aberta da realização de novas eleições. Vamos levar às ruas a bandeira das novas eleições.”

Comentários