"Método cosmético", editorial da Folha


Folha de S.Paulo


Na São Paulo do programa oficial de metas da prefeitura, a promessa feita por Fernando Haddad (PT) de construir 55 mil unidades habitacionais já foi cumprida quase pela metade; a de entregar 150 km de corredores de ônibus mostra um razoável índice de 52%.

Tais números, contudo, estão muito longe de corresponder ao estágio de evolução desses compromissos na São Paulo de verdade. Nesta, só 2,3 km de vias segregadas para coletivos estão em uso (1,5% do total) e apenas 4.944 apartamentos foram finalizados (9%).

Discrepâncias semelhantes podem ser encontradas nas metas de construção de CEUs (Centro Educacionais Unificados), de Unidades Básicas de Saúde e de centros especializados de assistência social.

A diferença se explicaria por mera questão metodológica. Para contabilizar seu desempenho, a prefeitura paulistana inclui e dá peso exagerado (de até 40%) a etapas burocráticas, como a busca pelo terreno, a confecção do projeto e a realização da licitação.

A justificativa não convence. Durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), que se valia da mesma prática, petistas não hesitavam em apontar a camada de maquiagem no relatório de metas. Agora sob comando do PT, a prefeitura nega intenções cosméticas –haveria termo mais adequado?– e diz que pretende rever o método atual.

Tomara. O uso de tais critérios pela administração municipal pode ajudá-la a acompanhar o andamento dos projetos, mas, do ponto de vista do cidadão, o que importa são as iniciativas concluídas. Não há garantias, afinal, de que uma obra com todas as etapas burocráticas cumpridas será de fato entregue para benefício da população.

Instituída em 2008 na cidade de São Paulo, a obrigatoriedade de fixar um plano de metas no começo de cada mandato representou inegável avanço em matéria de monitoramento da gestão. Seu objetivo era dar concretude ao mundo fantasioso das promessas eleitorais.

Ao se valer de metodologia que obnubila a real execução das obras, Fernando Haddad, assim como fizera seu antecessor, contribui para enfraquecer um instrumento que só beneficia o cidadão.

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