Mário Covas Neto: Das pistas de corrida à disputa com os tucanos


Há duas semanas, o herdeiro subiu mais um degrau na hierarquia partidária: tornou-se presidente do PSDB na cidade de São Paulo

SILVIA AMORIM - O GLOBO



SSe não bastasse o nome, ele tem o mesmo apelido do pai, um dos políticos mais importantes do PSDB. O cabelo grisalho, o tom de pele bronzeado e, mais recentemente, a barriga saliente remetem à figura do tucano histórico. Mas nada disso fez de Mário Covas Neto o sucessor natural de seu pai, o ex-governador Mário Covas.

Ele sempre preferiu a vida de piloto de automobilismo à política. Mas em 2012, já afastado das pistas há mais de uma década, decidiu disputar sua primeira eleição e elegeu-se vereador em São Paulo, aos 53 anos, com mais de 60 mil votos. Há duas semanas, o herdeiro subiu mais um degrau na hierarquia partidária: tornou-se presidente do PSDB na cidade de São Paulo.

Não é pouca coisa para quem mal começou na vida pública. Ele vai conduzir o processo da eleição municipal de 2016 em um cenário nada tranquilizador. Além da crise de identidade que atinge a legenda, o PSDB está diante de uma das situações eleitorais mais adversas de sua História em pleno berço político, sem um nome conhecido a disputar a prefeitura de São Paulo.

Em poucos dias à frente do diretório, Zuzinha — como é conhecido desde criança, numa alusão ao apelido de Zuza do pai — viu-se no centro de uma confusão política. Sua divisão dos cargos no partido desagradou a alguns dos virtuais candidatos à vaga de candidato tucano à prefeitura, incluindo um sobrinho dele, o deputado federal Bruno Covas. Eles o acusam de tentar beneficiar o vereador Andrea Matarazzo, um dos concorrentes. O caso foi parar na Justiça e segue à espera de uma intervenção do diretório estadual, com desfecho esperado para esta semana. Zuzinha nega favorecimentos, mas admite que a relação com o sobrinho estremeceu:

— O Bruno avaliou mal ou foi influenciado. Essa é a parte decepcionante, para mim, de seu comportamento.

Por mais de 30 anos, Zuzinha limitou seu envolvimento com a política às campanhas eleitorais, quando ajudava o pai. Mas, quando Covas elegeu-se senador, o filho coordenou por quatro anos o escritório político em São Paulo. A temporada não foi suficiente para convencê-lo a largar a advocacia nem as pistas de corrida.

— Zuzinha nunca esteve presente na política. A impressão era que ele não tinha interesse. Talvez a presença do pai fosse tão forte e avassaladora que isso o inibiu — diz o ex-deputado e braço-direito de Covas no governo paulista, Arnaldo Madeira.

O próprio confirma a suspeita:

— A política não estava no meu horizonte. Eu corria de carro e disputava campeonatos. Também queria advogar. Meu pai absorvia a família inteira do ponto de vista político. Eu não tinha nenhum desejo de entrar nisso.

Amigos do ex-governador contam que Covas também não estimulava muito a participação política do filho. Mesmo nunca tendo ocupado cargo na gestão do pai, Zuzinha é réu até hoje num processo em que é suspeito de tráfico de influência em favor da empresa de um de seus padrinhos de casamento durante o governo Covas. Ele nega e diz que um sinal de sua inocência é que a ação está parada há anos.

Logo depois da morte de Covas, em 2001, em decorrência de um câncer, surgiram convites para Zuzinha se lançar candidato, mas ele não aceitou. O vácuo deixado na linhagem dos Covas foi então ocupado, anos depois, pelo neto do ex-governador, Bruno, que sonha ser prefeito de São Paulo, cargo que o avô ocupou nos anos 1980.

Zuzinha diz que o único horizonte que vislumbra, por ora, é a reeleição para vereador. Ele não consegue explicar as razões que o fizeram trocar o escritório de advocacia pelo Legislativo.

— As coisas acontecem quando têm que acontecer. A vida inteira me cobravam isso. Eu tenho consciência de que a minha eleição se deu porque sou filho do Mário Covas.

Para se eleger, Zuzinha abandonou o apelido de toda a vida e usou seu nome de batismo. Ficou entre os mais votados. Se o nome do pai deu o primeiro empurrão, o futuro político do herdeiro ainda é incerto.

O ex-deputado José Aníbal, um dos que entraram em confronto com o novo presidente municipal do PSDB, está entre os céticos quanto ao talento do herdeiro. Diz que ele não tem “cacife” nem “pulso”. Em seu gabinete, o vereador reage:

— Acho que meu pai foi uma figura ímpar e não consigo me comparar a ele. Mas eu tento, na medida do possível, me espelhar nele. Se eu conseguir ser 10% do que ele foi, já estou feliz.


Comentários