Só vacina poderá controlar a dengue, diz secretário de Saúde de SP


Natália Cancian - Folha.com

David Uip, secretário de Estado da Saúde de São Paulo

Em meio a uma das maiores epidemias de dengue já registradas em São Paulo, o secretário de Estado da Saúde, o infectologista David Uip, nega falhas na prevenção e diz que o controle da doença só ocorrerá quando o país tiver uma vacina.

Segundo Uip, após um período de pico, o Estado vive a primeira redução no número de casos. Dados que serão divulgados nesta sexta (8) apontam 31.053 confirmações da doença em abril, uma queda de 74% em relação a março, quando houve 119.052.

Do início do ano até agora, são 261.453 confirmações da doença, de acordo com a pasta -já o Ministério da Saúde aponta, até o dia 18 de abril, 402 mil notificações (quando os casos, embora sem exames, são classificados por critérios clínico-epidemiológicos) e 169 mortes. Leia trechos da entrevista.

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Folha - O que pode explicar essa primeira queda nos casos?

David Uip - O clima, que realmente mudou, e ações mais fortes dos municípios. Também começamos a ter um esgotamento da epidemia nas cidades pequenas, porque a população acaba ficando imune, um raciocínio que não serve para cidades médias e grandes.

Existe o risco de nova alta?

Vemos que os casos vêm caindo onde a epidemia foi mais prevalente, como Catanduva e Sorocaba. E onde ainda temos problemas é em São Paulo, na Baixada, que ainda deve atingir o pico, e Vale do Paraíba e da Ribeira. São pontos mais críticos.

Por que as cidades paulistas foram tão atingidas neste ano?

A pandemia dos últimos anos poupou São Paulo. O mosquito entrou para valer no Estado de cinco anos para cá. O vírus que mais está circulando é o tipo 1, ao qual boa parte da população nunca havia sido exposta. Para controlar uma epidemia, dois fatores são fundamentais: vacina e tratamento do agente causador. No caso da dengue, não se tem vacina nem remédio para tratar o vírus, que fica no sangue por mais tempo. Com isso, o mosquito tem mais chance de ser contaminado, para depois infectar o ser humano. Dependemos de política pública e envolvimento da população.

Podemos dizer que dengue é uma doença negligenciada, já que não tem medicamentos?

O país tem muitas doenças negligenciadas. E talvez nós tenhamos perdido a oportunidade de erradicar a dengue. Faltaram recursos, isso eu ouvi do Adib Jatene [ex-ministro da Saúde que morreu em 2014] muitos anos atrás. Hoje, para erradicar, é muito difícil, atinge 70 países.

Caso a Anvisa acelere a pesquisa da vacina em testes do Butantan, isso pode ter resultados já neste ano no Estado?

Agora, não. Na melhor das hipóteses, em 2016.

Houve falha na prevenção?

Os municípios trabalharam muito. Mas às vezes você faz tudo que pode e não é suficiente. Tivemos uma reunião sobre isso. Temos que avaliar o que está acontecendo e ter propostas para melhorar. Não dá para ficar satisfeito quando se tem epidemia e mortes. Muitas vezes não é questão de deixar de fazer, é não conseguir. Uma coisa é informar, outra é mudar hábitos.

Em novembro, o senhor disse que era preciso menos preocupação com ebola e mais com dengue. O Estado já sabia do risco de epidemia?

Naquela época, chamei todos os prefeitos e secretários de Saúde para alertar sobre essa possibilidade.

É possível controlar a dengue?

Não. O controle da dengue só virá com vacina.



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