Executivo diz à CPI da Petrobrás ter se reunido com Vaccari e Dirceu


Augusto Mendonça Neto afirmou ter procurado ex-tesoureiro para oferecer contribuição; com o ex-ministro, empresário disse que discutiu sobre offshores

DAIENE CARDOSO E DANIEL CARVALHO - O ESTADO DE S. PAULO


O executivo Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, disse à CPI da Petrobrás que o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque pediu que ele fizesse contribuições ao PT e o encaminhou ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. 

“Procurei Vaccari no escritório do PT dizendo que tinha interesse de fazer contribuição ao partido. Ele me indicou onde deveria contribuir. Duque me pediu outras vezes. Fizemos outras contribuições”, contou. Ele afirmou que encontrou Vaccari “algumas vezes, talvez dez”. “Vaccari nunca me ofereceu vantagem legal ou ilegal”. 

Mendonça também afirmou ter feito doações legais a outros partidos políticos, mas disse que não a pedido dos diretores da Petrobrás. 

Ele relatou pagamento de propina a Duque, ao ex-diretor Paulo Roberto Costa e ao ex-gerente Pedro Barusco via o doleiro Alberto Youssef. “Era como se eu tivesse pagando o Paulo Roberto”, disse. Também eram feitos pagamentos por depósito bancário. “Nunca entreguei dinheiro diretamente a eles”. 

Mendonça disse também que os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque não tinham autonomia para autorizar aditivos contratuais nas obras da estatal. Segundo Mendonça, “o poder que tem um diretor de atrapalhar é enorme e de ajudar é pequeno”. “As companhias participavam (do esquema de corrupção) mais por medo do que por vantagem”, relatou.

Mendonça contou que o grupo se desfez mesmo antes da Operação Lava Jato. “Quando houve mudança da diretoria da Petrobrás e saída de Duque e Costa, o grupo se desfez. Hoje as empresas nem conversam entre si”, afirmou.

O executivo disse que sua empreiteira ganhou dois contratos com Petrobrás no período em que o esquema vigorou. Ele foi procurado pelo ex-deputado José Janene, entre 2007 e 2008 e O ex-parlamentar se colocava como responsável pela indicação de Costa na diretoria de Abastecimento.

De acordo com Mendonça, Janene teria dito que se a “contribuição” não fosse feita, “eles seriam duramente penalizados”. O valor teria sido negociado com Janene e os pagamentos feitos mensalmente ao doleiro Alberto Youssef.

Já os pagamentos a Renato Duque foram feitos no exterior. O empresário Júlio Camargo teria feito parte dos pagamentos.

O executivo afirmou tamt que já se encontrou com o ex-ministro José Dirceu para tratar de assuntos institucionais do mercado offshore. “Já estive algumas vezes com José Dirceu”, relatou.

Sobre os aditivos contratuais em obras onde há indícios de superfaturamento, o empreiteiro declarou que os aditivos eram discutidos “à exaustão” pelos técnicos e que não havia projeto “mal feito” na Petrobrás. “Nunca podemos dizer que projeto na Petrobrás é mal feito, ao contrário”, respondeu. Ele atribuiu os aditivos à complexidade dos projetos e ao surgimento de novas situações.

Mendonça afirmou que não havia conexão entre a relação das empresas com a Petrobrás e a contribuição aos partidos políticos. No entanto, ele enfatizou que havia a ideia clara de que se não houvesse o pagamento, os negócios das empresas poderiam ser prejudicados. “Era algo muito evidente, a contribuição era no sentido de não ser atrapalhado”, contou.

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