"A cidade está com falta de prefeito", diz Andrea Matarazzo


Veja a íntegra da entrevista exclusiva do vereador e líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal, Andrea Matarazzo, ao DCI

Diego Felix - DCI

O vereador Andrea Matarazzo (PSDB)


Quais são seus desafios como líder da bancada e quais os planos de atuação do PSDB na Câmara?

Como líder de bancada o desafio é fazer valer a opinião de uma bancada que tem 9 vereadores, terá 10 esse ano, numa base de governo que conta pelo menos 44 vereadores, dos 55. O jogo do governo é muito pesado. Fazer-se ouvir pra conseguir avanços para a cidade. Isso temos conseguido, até porque o PSDB, que vem fazendo oposição nos últimos dois anos, em função de que as prioridades da cidade não estão sendo atendidas.

Quais as suas criticas em relação à gestão Haddad?

São mais do que criticas, são observações. O que a gente percebe é que o prefeito elegeu-se no velho estilo, prometendo aquilo que não pode cumprir. Por exemplo, aquele "Arco do Triunfo", ou "arco do futuro", que virou um nada, ficou no papel, era mais uma ação de Powerpoint e desenho do que uma realidade. Era óbvio que não sairia do papel. Fez campanha também falando coisas e fazendo o contrário, que foi o caso da inspeção veicular. Um avanço que a cidade conseguiu, a duras penas, uma coisa moderna e contemporânea. O prefeito tinha dito que ia acabar com a taxa da inspeção e manter a inspeção. Ele acabou com a inspeção e manteve a taxa, pelo menos no primeiro ano. É um político naquele velho estilo e você percebe que as coisas não avançam. Os projetos não param de pé. Cadê todos os corredores de ônibus que iam ser feitos? Ainda não conseguiu terminar o processo de licitação. O prefeito não enxerga as prioridades da cidade. As creches, falou, prometeu, aconteceu, e temos 180 mil vagas em falta, muito mais do que quando ele assumiu. Ele tem o projeto do João Santana e tem uma gestão, que é a gestão Haddad. O do Santana é a cidade ideal. A gestão Haddad é uma que não existe. A própria zeladoria da cidade, estamos vendo nas enchentes. Remoção de árvores com problemas. É um ponto que bato muito. Adoro árvores e acho essencial, mas árvores matam e criam um caos na cidade, se não cuidar direito. O prefeito passou dois anos sem fazer manutenção e podas e, na primeira chuva que deu, elas caíram.

Como caíram no seu carro...

O problema não é cair no meu carro, o problema são as três pessoas que elas mataram nos últimos 30 dias. Limpeza de bueiros, córregos e piscinões não aconteceram. O prefeito achou que em São Paulo não chove. Vemos alagamentos até na Avenida Paulista, que é topo de morro. A crítica que faço é de que não se define prioridades e não se executa o fundamental. Perde-se tempo fantasiando uma cidade que não existe, que é a das ciclovias, do wi-fi, quando na verdade as pessoas não conseguem espaço numa UBS [Unidade Básica de Saúde], em creche e estão ficando debaixo d'água

Por que a relação dele com a base de governo é tão conflituosa?

É interessante isso. O prefeito parece que tem uma habilidade de estragar tudo aquilo em que põe a mão. Ciclovia é uma boa ideia, mas ele está liquidando a ideia pela forma como estão sendo feitas. A mesma coisa essa relação com a Câmara. Ele tem uma base de 44 vereadores, nos partidos que o apoiam, e consegue ter problemas de relacionamento. Ele ignora, esnoba a Câmara, de certa forma. E você vê ele perder votações que são importantes para ele. Os vereadores não devem ser, e não são, uma extensão do Executivo. Eles têm personalidade própria, têm bom-senso e conhecem a cidade. Eles estão vendo que nada está acontecendo de positivo na cidade e muitos projetos do Executivo vão na contramão na necessidade da cidade. O IPTU, da forma como foi feito, foi um caso típico. O prefeito não mudou o IPTU de última hora, após um ano de briga judicial, como pôs um anúncio nos jornais de que ele achou que era muito pesado. Não! A Câmara não ia aprovar aquilo e forçou a mudança no IPTU. Ou seja, o conflito dele com a Câmara é porque ele despreza a opinião dos 55 vereadores. Da oposição não precisa nem ouvir, se não quiser, mas deveria ouvir da base dele.

Mas o senhor acha que a oposição tem algum tipo de vida fácil, com esse problema dele aqui?

A oposição não tem vida fácil em momento algum, como imagino que nem a situação deveria ter vida fácil. A cidade de São Paulo exige muito do Legislativo, como do Executivo. A cidade tem problemas muito maiores do que a capacidade de solução. Portanto, quem quer trabalhar e pensar pela cidade não tem vida fácil em circunstância nenhuma e tem muito a fazer, que é o que a prefeitura deveria fazer.

Quais as pautas que o PSDB deve trazer para este ano?

A pauta que vamos trazer é a nossa cobrança. Cadê as creches que prometeu que ia fazer? Cadê as metas do prefeito, que, aliás, não chegou nem na metade do que prometeu? Meta era interessante porque tinha uma organização, uma ONG, aquela "Nossa São Paulo". Surpreendentemente, não tenho visto eles cobrarem isso, e ficou para a oposição. As metas de creches, de UBS, onde estão? As metas de atendimento da saúde, de melhoria do transporte público? Para dizer alguns dos problemas. Quem vê a prefeitura fazer alguma coisa imagina que esses problemas não existam. Eu desafio alguém a me dizer quando que o prefeito abordou esses temas. Ele vive numa redoma, lá no Edifício Matarazzo, de quem não conhece São Paulo, ou não conhece São Paulo. Vi uma entrevista dele falando que resolveu os problemas dos semáforos. Não sai na rua! Ontem mesmo [dia 25, quarta-feira], ele falou de manhã e saiu de noite, os semáforos estavam parados. Ele disse que investiu R$ 150 milhões e isso é interessante porque vamos querer saber onde que esse dinheiro foi aplicado. Ele não precisa ir longe para ver. Aqui na Avenida Brasil, cada vez que ameaça uma chuva em Moema, os semáforos da Brasil desligam. A nossa pauta é onde está indo o dinheiro da prefeitura? Falta de dinheiro não é. O problema é de execução daquilo que deveria fazer e tem um problema seríssimo de planejamento e definição de prioridades.

O ponto de se enfatizar é isso: A prefeitura está completamente perdida e distante das prioridades da cidade. O prefeito se preocupa com factóides e não sai do gabinete. Isso está fazendo com que a cidade esteja um caos. A cada chuva que cai a cidade fica inteira alagada, as árvores estão caindo e isso acontece no centro expandido e periferia. A cidade está imunda e cheia de bueiros entupidos. As bocas de lobo fazem até o Minhocão ficar cheio de água. É uma pista elevada e acontece isso. A cidade está com falta de prefeito. A chave dele seria ouvir seus vereadores. São Paulo já tem uma eleição muito distrital. 90% dos vereadores conhecem suas regiões. Fui secretário por cinco anos e sei bem como funciona.

Como foi ajudar na campanha do Aécio?

Foi muito interessante de ajudar na campanha do Aécio no geral. Como andei muito pela cidade, foi muito importante ver o quanto o PT está desgastado, inclusive na periferia de São Paulo. Obviamente, boa parte do resultado disso é a inação da prefeitura nas áreas onde deveria estar trabalhando. Fizemos uma campanha muito sintonizada com as campanhas majoritárias - Senado, governo [do Estado] e Presidência - com o resultado bastante bom. O PSDB foi muito bem na capital. O resultado, acho que o trabalho do PSDB nesses últimos anos na capital.

E quais foram as dificuldades dessa campanha, principalmente no primeiro turno, quando Marina assumiu a vaga de Campos?

As dificuldades foram os imprevistos e as tragédias, porque a sociedade está muito diferente. É importante os políticos perceberem isso. A forma de ver e as prioridades da sociedade são outras, em função de toda a mudança que o Brasil teve nos últimos 15 anos. Ao mesmo tempo tiveram essas fatalidades no meio da campanha que fizeram com que tivéssemos quase três campanhas no decorrer dos meses de campanha. Então, ter a frieza de esperar, principalmente na campanha federal, de ter a retomada de liderança do Aécio, e obviamente que o candidato ajudou bastante. Aqui em São Paulo, a atuação do Alckmin foi determinante para a nossa campanha.

E para 2018, qual o grande nome que o senhor vê para concorrer à Presidência? O Aécio ainda pode chegar com força ou Alckmin já é declarado o favorito?

Acho que tem nomes importantes. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, com mandatos muito objetivos, com muitas realizações, uma popularidade e uma imagem bem consolidada, não tenho dúvidas que ele é um possível candidato. O Aécio também é um possível candidato, até pelo resultado dessas eleições. Acho que é muito cedo para discutir isso, até porque antes de 2018 tem 2016, onde o PSDB espera ganhar aqui na capital.

O senhor é a favor do impeachment da presidente Dilma?

Acho que o impeachment depende de uma série de circunstâncias e, no momento, você não tem isso. Eu sou favorável de que o país funcione e as coisas sejam apuradas e as responsabilidades atribuídas, sem dúvida nenhuma. Não sei se é o momento de se falar em impeachment quando não tem ainda. O impeachment é um processo muito político e quem define isso é o Congresso Nacional e as investigações.

O senador Eduardo Suplicy fez um comentário dizendo que o senhor devia visitar os atingidos por inundações e cobrar o governador de fazer as obras necessárias para acabar com os problemas deles. Como o senhor recebeu essa crítica?

O meu primo Eduardo Matarazzo peca pela velocidade, às vezes. Quando ele foi, eu já fui e voltei duas vezes, e isso literalmente. Na Vila Itaim, os atingidos pelo alagamento, estive ali no dia 20 de janeiro, inclusive no Jardim Eni, onde é construída a ponte Guarulhos - São Paulo. Estive no Jardim Helena, visitando a região. No dia 30 de janeiro, estive especificamente na Vila Itaim, depois passei pelo Jardim Romano e Pantanal. Até postei umas fotos do córrego Água Vermelha, falando que, se não se fizesse alguma coisa, provavelmente teria alagamentos. Está todo obstruído, montanhas de lixo que a prefeitura esquece de tirar. O governador tem feito as obras. Falta a prefeitura, o Eduardo Matarazzo passar pela região, se inteirar dos assuntos e cadastrar as pessoas para que elas possam mudar. Eu agradeço os conselhos dele, gosto dele demais, é uma pessoa de bem. Agora, é como eu disse: quando ele foi, eu já fui e voltei duas vezes. Eu prefiro me prevenir dos problemas. O Eduardo prefere esperar os problemas e os jornalistas.

Como vai ser a discussão de candidaturas para a prefeitura dentro do PSDB? Alguns nomes já surgem, como o Bruno Covas, José Aníbal, Floriano Pesaro...

Do meu grupo eu não acredito... obviamente que terão candidatos, mas essa decisão passa necessariamente pelo governador Geraldo Alckmin, que é a grande liderança de São Paulo, e pelo PSDB. Acho que vai ser da mesma forma que foi da outra vez. Terão prévias e discussão do próprio partido e o governador dará a palavra final.

Mas as discussões ainda não se iniciaram, certo?

Não, ainda é cedo para isso. Não é cedo é para você agir e externar o que você pretende. Como meu trabalho de vereador, como secretário de subprefeituras, como subprefeito, sempre foi no sentido de São Paulo é uma cidade onde nasci, que gosto e estou na área pública muito para retribuir tudo o que a cidade deu a minha família, pretendo continuar meu trabalho exatamente como sempre fiz, falando e fazendo tudo o que estiver ao meu alcance para o bem da cidade e das pessoas.

E, se o senhor não for o escolhido para a prefeitura, volta para a Câmara?

Tenho muita vontade de ser prefeito de São Paulo. Quero ser um bom vereador e por enquanto vou correr atrás disso.

E com relação à atuação de Alckmin na crise hídrica? Ele demorou um pouco para agir?

Você sabe que eu não acho nesse sentido. O governador Alckmin nunca deixou de dizer que estávamos vivendo num problema de água e nunca deixou de tomar as providências necessárias para superar esse problema. As obras estão aí, sendo feitas. Usou-se o primeiro volume morto do Cantareira, está se fazendo uma série de obras para transposição. O que vejo é uma pressão da oposição para fazer ele falar que há um racionamento na cidade de São Paulo, quando o que tem é uma administração da distribuição de água. Ele nunca deixou de falar isso com clareza, alertar e pedir para a sociedade contribuir.

Mas o senhor acha que a CPI da Sabesp foi conduzida de forma política?

A CPI da Sabesp não foi conduzida de forma política. O Laércio Benko [PHS] conduziu ela muito bem. Claro que teve momentos que tentaram politizar, mas percebeu que não tinha clima. Todas as pessoas que vieram falar, principalmente o pessoal da Sabesp, falou com muita firmeza e muita clareza. Teve a tentativa de um ou outro vereador de politizar a discussão, mas sem sucesso. Até porque a sociedade entende que a questão de água é uma questão séria, que não deve ser politizada. Por outro lado, não está chovendo, é uma coisa que todo paulistano vê e tanto que as iniciativas de economia de água são espontâneas, da própria sociedade. Acho que o governador tem uma imagem consolidada suficiente para as pessoas acreditarem nele.

Chamar o governador para ele se pronunciar na Câmara é errado?

Completamente desnecessário, tem que fazer a discussão técnica. Muito mais como foi feito ontem [na semana passada], pelo Paulo Massato e pelo Jerson Kelman, que são pessoas que estão no dia-a-dia dessa operação.

Com relação à CPI das Ciclovias, como foi a repercussão aqui na Casa?

A repercussão foi grande porque no fundo essas ciclovias estão causando estranheza até em todo mundo. Todos nós somos favoráveis à ciclovia, qualquer pessoa que conheça cidades desenvolvidas ou grandes sabe que a ciclovia é importante. É necessário um planejamento para você implantar as ciclovias e ela tem toda uma lógica técnica. Pesquisas de origem e destino, ruas que não têm movimento, carro, você não precisa usar a ciclovia e tem várias, onde não se passa nem carro, nem bicicleta e está lá a ciclovia. Besteira... É preciso fazer ciclovia onde elas sejam necessárias. Discutir com a população local, como foi feito em Nova York. A secretária de transportes que implantou lá participou de mais de duas mil reuniões, foram três anos de discussões, para convencimento e explicação. Aqui elas são feitas na calada da noite, para pegar as pessoas de surpresa. O que você está vendo é um caos no trânsito, ao exemplo do que fazia o lendário Odorico Paraguaçu, de "O Bem Amado", que era prefeito de Sucupira e fez um cemitério e ficava desesperado porque ficava todo dia procurando alguém para morrer e poder inaugurar o cemitério. O Haddad faz isso, no mais típico "velho político", procurando bicicleta para colocar na ciclovia, como Odorico fazia com os defuntos de Sucupira. Ele já liberou para os patinetes e continuaram vazias; liberou para cadeirantes, pessoas com deficiência, você imagina os cadeirantes de capacetinho andando pelas ciclovias; agora liberou para carroceiros, para ver se acha alguém que use essa ciclovia. Por isso a comparação com o Odorico, é igualzinho. O preço, que estamos vendo, de R$ 650 mil o quilômetro, me parece meio exagerado para uma faixa pintada e alguns tachões fosforescentes ao longo dela, fora o caos que está dando prejuízos aos comércios, ciclovias em cima de calçadas. A prefeitura não se preocupa com as prioridades. O custo das ciclovias é quase o mesmo custo do quilômetro de calçada, por exemplo. Então, podia fazer as duas coisas. Fazer ciclovias onde precisa e arrumar calçadas onde precisa. O que falta é prioridade. [Há] custo exagerado, desconhecimento do plano cicloviário da cidade.

As discussões para implantar a CPI já começaram?

Não, há outra pauta em votação e CPIs em andamento, não tinha espaço. Acho que o importante é entender o que é que o prefeito pretende com essas ciclovias. Daqui a pouco ele vai liberar ciclovias para protestos, passeatas etc, para ver se ocupa essas ciclovias.

Mas o senhor acha que o PT vai ler dessa maneira?

Não sei como o PT vai ler, mas a Casa vai discutir e vamos chegar a uma definição sobre a implantação dessa CPI ou não.

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