Delegado conta que aloprados planejavam mesmo espionar aliados e o ex-governador José Serra
Por Policarpo Junior e Daniel Pereira:
Na
semana passada, VEJA revelou a existência de um grupo que se reunia
dentro do comitê eleitoral do PT, em Brasília, com a missão de espionar
adversários e integrantes do próprio partido.
A notícia
estremeceu as relações até então amigáveis entre os principais atores
ligados à campanha presidencial. O PSDB anunciou que pretende convocar
para depor no Congresso os personagens que tentaram montar uma rede de
espionagem onde funciona o comitê de comunicação da pré-campanha da
ex-ministra Dilma Rousseff.
"Haverá um acirramento", avisou
Eduardo Jorge, vice-presidente executivo dos tucanos. Já os petistas
correm em sentido oposto, tentando pôr um ponto final à discussão. "Não
fomos nós que colocamos esse assunto absurdo em pauta. Esse tipo de
debate não interessa ao país", afirma o presidente do PT, José Eduardo
Dutra.
Na sexta-feira passada, em entrevista a VEJA, o delegado
aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa revelou detalhes que ajudam
a dimensionar com maior exatidão o que se planejou nos subterrâneos do
comitê petista - forçando uma intervenção direta do comando da campanha
com ordens expressas de parar com tudo.
Apontado como o chefe do
grupo de espionagem, o policial garante que sua atuação se restringiu a
uma reunião de planejamento. O que foi proposto, segundo ele, era
inaceitável.
Em carta a VEJA, ele reafirmou que divergia
"cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a
ser ali executados". O comitê petista queria identificar um suposto
membro da cúpula da campanha que estaria vazando informações
estratégicas.
Para isso, era necessário reunir os extratos
telefônicos e rastrear com quem cada um deles conversava. Acreditava
que por meio do cruzamento de números o traidor seria facilmente
identificado.
A outra missão era ainda mais explosiva: monitorar
o ex-governador José Serra, candidato à Presidência pelo PSDB, e o
deputado tucano Marcelo Itagiba, seus familiares e amigos. Os aloprados
do comitê queriam saber tudo o que os dois faziam e falavam.
No
início de abril, ainda distante do atual clima de euforia com o
resultado das pesquisas eleitorais, havia uma disputa interna pelo
controle da campanha. De um lado, o ex-prefeito Fernando Pimentel,
coordenador e amigo de Dilma. Do outro, um grupo do PT de São Paulo
ligado ao vice-presidente do partido, o deputado Rui Falcão.
Onézimo
Sousa conta que foi convidado para uma conversa com Pimentel, na área
reservada de um restaurante tradicional de Brasília. No local marcado,
não encontrou o coordenador da campanha, mas um representante do
comitê, o jornalista Luiz Lanzetta.
Responsável pela parte de
comunicação da campanha, Lanzetta explicou ao delegado que o objetivo
deles era montar um grupo de espionagem. Não haveria contrato, e o
pagamento - 1,6 milhão de reais, o equivalente a 160 000 por mês -
seria feito pelo empresário Benedito de Oliveira Neto, um prestador de
serviços que enriqueceu durante o governo Lula e estava presente à
reunião, da qual participou também o ínclito, reto e vertical
ex-jornalista e agora escritor Amaury Ribeiro.
O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para es-pionar adversários e petistas rivais?
Fui
convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury
(Ribeiro), o Benedito (de Oliveira, responsável pela parte financeira)
e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou. Havia problemas
de metodologia e direcionamento do trabalho que eles queriam.
Como assim?
Primeiro,
queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam
acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos
coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe.
Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o
deputado Marcelo Itagiba.
Que tipo de investigação?
Era
para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que
eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos
telefônicos...
Pediram ao senhor para grampear os telefones do ex-governador Serra?
Explicitamente,
não. Mas, quando me disseram que queriam saber tudo o que se falava,
ficou implícita a intenção. Ninguém é capaz de saber tudo o que se fala
sobre alguém sem ouvir suas conversas. Respondendo objetivamente, é
claro que eles queriam grampear o telefone do ex-governador.
Disseram exatamente que tipo de informação interessava?
Tudo
o que pudesse ser usado contra ele na campanha, principalmente coisas
da vida pessoal. Esse é o problema do direcionamento que eu te disse. O
material não era para informação apenas. Era para ser usado na
campanha. Na hora, adverti que aquilo ia acabar virando um novo
escândalo dos aloprados.
Quem fez essa proposta?
Fui
convidado para um encontro com Fernando Pimentel. Chegando lá no
restaurante, estava o Luiz Lanzetta, que eu não conhecia, mas que se
apresentou como representante do prefeito.
Ele pediu para investigar os petistas também?
Disse
que estava preocupado, que tinha ocorrido uma reunião entre os seis
coordenadores da campanha e que tudo o que havia sido discutido foi
parar nos jornais. Havia alguém vazando informações, e ele queria saber
quem era. Suspeitava do Rui Falcão.
O ex-prefeito Fernando
Pimentel informou que não conhece o delegado e que Luiz Lanzetta não
fala em seu nome. O jornalista, que continua trabalhando no comitê da
campanha, disse que "fez uma bobagem" ao tentar criar um grupo que
tinha como objetivo apenas evitar ataques dos adversários.
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